À máxima “não há cidades inteligentes sem cidadãos inteligentes”, a IBM junta mais um elemento: os edifícios inteligentes. A tecnológica apresentou recentemente uma solução, com base no famoso IBM Watson, que quer colocar os edifícios a falar entre si. Em Portugal, a apresentação da IoT Building Insights aconteceu em Outubro, na Facility Management Conference 2018, e contou com a explicação de Anna Seacat, Enterprise IoT Strategist da IBM, que alertou para a necessidade de “abraçar a cloud”.
De que forma a IBM olha para o sector das cidades inteligentes? Está muito interessada?
A IBM está interessada na forma como o poder colectivo de Big Data, IA (Inteligência Aumentada) e IoT (Internet das Coisas) pode ser utilizado com vista a criar uma melhor experiência para as pessoas que gerem e utilizam edifícios comerciais nas cidades. De facto, a plataforma IBM Watson IoT está a investir no conceito de uma “empresa inteligente”, que liga não só edifícios de uma cidade, mas que tem também o potencial de ligar edifícios em centenas de cidades.
Que tipo de soluções está a IBM a desenvolver para cidades?
A IBM Watson IoT lançou uma oferta totalmente nova em 2018, a IoT Building Insights, que liga, compreende e aprende a partir de dados com origem nos edifícios. É capaz de fornecer aos clientes da IBM uma perspectiva de todos os edifícios numa cidade e consegue realizar uma análise de dados, baseada em IA, com origem em centenas e mesmo milhares de edifícios, em muitas cidades. Esta análise, feita quase em tempo real, permite a previsão de anomalias em edifícios antes de estas ocorrerem.
Podemos pensar no IBM Watson como um “presidente de câmara”?
Em vez de pensar no IBM Watson como um presidente de câmara, devemos pensar em produtos alimentados pelo Watson como uma forma de aumentar a inteligência de um presidente de câmara. Esta é a razão pela qual poderá ouvir os funcionários da IBM a referirem-se a IA como Inteligência Aumentada. Por exemplo, a análise baseada em IA realizada na IoT Building Insights, irá ajudar os proprietários de edifícios e gestores de linha de negócio a decifrar o “big data” desbobinado pelos sistemas e sensores de IoT todos os dias. Com um melhor entendimento do que está a ocorrer e do que pode ocorrer em centenas de edifícios numa cidade, os líderes podem tomar decisões melhores e mais atempadas.
Considera que isso pode ajudar a melhorar a qualidade vida nas cidades?
A experiência que temos dentro dos edifícios afecta toda a nossa percepção de uma cidade. A IBM pretende melhorar a vida de trabalho diário daqueles que passam a maior parte do seu dia em edifícios comerciais. Ao ser possível detectar problemas de energia e utilização de espaço em edifícios de cidades inteligentes quase em tempo real e mesmo a sua previsão antes da ocorrência de um problema, a experiência humana nesses edifícios será melhorada. Por exemplo, ter capacidade para prever um pico de energia antes da sua ocorrência é uma informação que as equipas de manutenção necessitam para prevenir uma falha total de uma peça de equipamento. Da mesma forma, a previsão de picos de ocupação num edifício ou em vários edifícios numa cidade pode fornecer aos gestores das instalações informação atempada para redistribuir proactivamente espaços de reuniões.
De que forma os produtos alimentados pelo Watson incorporaram preocupações e contextos locais, tais como valores culturais, históricos, éticos e de identidade?
O entusiasmo com o qual a IBM aborda a diversidade não só na sua força de trabalho, mas também na sua estratégia de negócio é uma das áreas motivo de orgulho para os funcionários da IBM. As ideias e conceitos nascem da “Enterprise Design Thinking” da IBM, consistindo um valor nuclear dessa metodologia na diversidade das equipas. A equipa que lançou o IoT Building Insights – o produto que eu represento – é verdadeiramente global. Desta forma, todos trazemos as nossas próprias preocupações, valores, cultura e identidade locais para as nossas decisões. Além disso, as equipas de software e design da IBM seguem processos rigorosos para assegurar que os produtos da IBM cumprem as normas existentes na área.
Com uma solução como IoT Building Insights, não haverá uma desumanização do ambiente urbano?
Trazer um factor de humanização para os edifícios nas cidades irá ter um impacto enorme na nossa percepção. Todos nós conhecemos a sensação de estar num edifício ou numa divisão de um edifício que não responde às nossas necessidades. Actualmente, proprietários e gestores de edifícios não conseguem saber do que necessitamos se não formos nós a comunicar-lhes as nossas necessidades. A análise IA de dados irá ajudar proprietários e operadores de edifícios a reagir não só à necessidade humana, mas também a antecipar a mesma, removendo assim qualquer fricção. A remoção de fricção irá ter um efeito humanizador.
Até que ponto questões como a privacidade e a cibersegurança estão a ser tidas em consideração?
A IBM Security é uma das maiores organizações de segurança do mundo, e as ofertas da Watson IoT cumprem os mais elevados padrões de segurança da indústria. A minha oferta, IoT Building Insights, bem como todas as ofertas da IBM, estão em conformidade com o RGPD, são submetidas a testes internos e externos, e a rigorosas revisões de segurança e privacidade antes de serem disponibilizadas. A segurança está na base de tudo o que fazemos na IBM. É uma prioridade principal, e a dimensão e o sucesso da divisão IBM Security comprova isso mesmo.
Com base na sua estada em Portugal, o que podemos fazer para acelerar a inovação em termos de IA ou IoT, especialmente no que respeita a cidades?
Se as cidades e os proprietários e operadores de edifícios pretendem acelerar a inovação e a adopção da IA e da IoT, têm de abraçar a cloud. A enorme quantidade de dados recolhida através da IoT e analisada por modelos de IA requer a flexibilidade, a segurança e a escalabilidade que são fornecidas pela cloud da IBM. Não é possível esperar promover a inovação através da utilização de ferramentas e infra-estruturas antiquadas.
Na sua opinião, qual será a situação mais disruptiva que irá acontecer nas cidades nos próximos anos?
A remoção de silos será decisiva para as cidades e empresas. Não podemos esperar a ocorrência da perturbação do status quo quando todos os intervenientes estão a trabalhar em projectos individuas que estão a ser impulsionados por dados estagnados e em silos. Quando é analisada big data, não apenas para um edifício ou uma cidade em tempo real, mas para toda uma empresa presente em múltiplas cidades e milhares de edifícios, serão reveladas oportunidades que simplesmente não conseguimos conceber.