Nos últimos anos, muito se tem falado de Smart Cities, de tecnologia presente nos territórios e da implementação de uma lógica de gestão orientada por dados. Já não é novidade para ninguém que a existência de sistemas inteligentes que ajudem a gerir e monitorizar melhor, são uma necessidade e não representam hoje, como no passado, investimentos avultados que inviabilizem a sua implementação. Mas a reboque desta afirmação, e de uma facilidade aparente, ficam no ar algumas considerações que merecem reflexão. 

 Por um lado, a ideia de que a tecnologia por si só torna um território mais inteligente, mais capaz, é questionável à partida e faz pouco sentido. Muitos serão os projetos já realizados que ilustram este pensamento, que surgiram com um propósito e que se perderam por falta de aceitação/compreensão. As populações têm de estar no centro da questão, o envolvimento das pessoas nas soluções desde a sua criação, o foco no levantamento/resolução dos problemas que identificam, e uma análise pormenorizada são a chave para que os projetos ganhem confiança e cumpram um propósito real, mensurável e que se sinta no dia a dia. 

Um território só é verdadeiramente inteligente se for feito de pessoas inteligentes e capacitadas, onde todos se tornam agentes do território.

Por outro, a constatação de que caminhamos a passos largos para uma governação cada vez mais algorítmica, e por mais vantajoso, importante e desejável do lado da eficiência que este caminho se revele, é necessário não perder de vista a dimensão humana, pois do outro lado da decisão, das políticas, não estão números, estão pessoas, e esse é o fator diferenciador da equação. 

 É este o caminho que estamos a seguir, identificando problemas em áreas como a eficiência hídrica, a gestão de resíduos e a eficiência energética, a avaliar de que forma estas problemáticas se manifestam na vida das pessoas, e que ações/projetos tecnológicos ou não, podem ser implementados e resultem num ganho de melhoria do serviço prestado por um lado e de maior eficiência na gestão por outro. 

Um território só é verdadeiramente inteligente se for feito de pessoas inteligentes e capacitadas, onde todos se tornam agentes do território. A existência de uma inteligência coletiva, que partilha ideias e cocria caminhos para mais e melhor qualidade de vida, é na verdade a melhor definição de um território Smart.

As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.


Este artigo foi originalmente publicado na edição nº 41 da Smart Cities – Outubro/Novembro/Dezembro 2023.