Português que goste de praia já ouviu falar de Santa Cruz, em Torres Vedras. De há uns anos para cá, não é apenas a beleza natural que distingue a localidade, já que este é também um espaço de experimentação tecnológica. Numa iniciativa da câmara municipal de Torres Vedras, Santa Cruz é agora uma “Eco Urbe”.
Santa Cruz em Torres Vedras é, hoje, bem mais do que uma estância balnear. A tecnologia encontrou ali um espaço de experimentação, onde se desafiam os elementos da natureza. A iniciativa Eco Urbe, encabeçada pela câmara municipal, tem vindo a crescer, tendo sempre como pano de fundo a busca pela sustentabilidade. O projecto dá primazia às questões da gestão energética, conservação da natureza, promoção de acessibilidade e inclusão de todos os cidadãos. A meta, aponta a autarquia, é que este venha a ser, muito em breve, o primeiro pólo turístico de “emissões zero” do país.
O desenho desta Eco Urbe começou há já alguns anos, com a Rua LED, na qual está a ser testada uma nova tecnologia de iluminação pública, desenvolvida em Portugal e que utiliza LED da Lumileds (Philips) e componente óptica da Fraen. No âmbito de uma candidatura ao anterior quadro de apoio comunitário (QREN), foi lançado um projecto de design global e Investigação e Desenvolvimento que recorre à utilização de sistemas sustentáveis de energia e com base no conceito de eco-design. Em resultado, foram “criados” cinco postes base de sinalética direccional com placas direccionais, 18 postes de iluminação, uma estrutura de ensombramento com sistema solar fotovoltaico, uma estrutura de apoio para bicicletas, um abrigo de passageiros com dois bancos, dois mupis convencionais e um totem de informação dinâmica. O projecto de design foi assinado pelo português Henrique Cayatte e a produção ficou ao cargo da também nacional Larus. “É um projecto relevante para nós, que está já com dois anos de implementação e com resultados excelentes na poupança, do ponto de vista energético e na redução de emissões de CO2”, avalia Carlos Bernardes, presidente da câmara municipal.
A acção da Eco Urbe chega também às salas de aula locais. Na escola básica do 1º ciclo de Santa Cruz, foi instalado um sistema de iluminação pública alimentado a energia solar fotovoltaica. A isso junta-se um sistema de micro geração e o recurso à energia geotérmica para climatização e tratamento do ar.
“Santa Cruz é a nossa jóia da coroa e é um território emblemático, no que toca às nossas praias”, admite Carlos Bernardes. Essa não foi a única razão que justificou a escolha desta praia, já que, de acordo com o governante, um dos objectivos da iniciativa é também testar a resistência dos materiais às intempéries, nomeadamente ao vento, ao sol e à acção do mar e salinidade. “Costumo dizer que, se as soluções passarem no teste de Santa Cruz, então passam em qualquer lugar do mundo. É o nosso contributo para o desenvolvimento tecnológico”, declara. Passado o derradeiro teste, o objectivo é que as soluções possam ser replicadas não só a nível local e nacional, mas também internacional.
Entre as novidades mais recentes da Eco Urbe, está o candeeiro inteligente instalado no Miradouro da Praia da Formosa no Verão passado. Para além de iluminar, utilizando como fontes de energia o sol e o vento, a solução serve também de estação de rede de telecomunicações, de carregamento de dispositivos ou veículos eléctricos e dispõe de câmaras IP. Numa parceria com a Vodafone, o candeeiro Omniled é 100% autónomo e, dado o seu design, assume ainda a funcionalidade de banco. A concepção, que esteve a cargo da Amop, teve ainda em conta a preocupação com a resistência ao vandalismo o, ciclo de vida e a ocultação de cablagens e baterias.
Apesar das várias iniciativas que ali se desenrolam, o “laboratório vivo” de Santa Cruz está longe de estar fechado, aliás, a intenção da câmara municipal é exactamente a contrária. “É uma plataforma aberta. Empresas que queiram testar o seu produto e estar connosco, a porta está sempre aberta”, admite Carlos Bernardes.