No interior de Portugal, a pouco mais de 250 quilómetros de Lisboa, há uma pequena cidade que quer ser a “casa” das novas tecnologias de informação. Em resposta às necessidades do presente e do futuro, o Fundão está a ensinar os seus cidadãos a programar, num projecto e estratégia que lhe valeram o título de Município do Ano 2016.

O prémio, atribuído pela plataforma UM Cidades, da Universidade do Minho, distinguiu a cidade pelo projecto “Academias de Código” e também pelo seu ecossistema para o desenvolvimento e atracção de tecnologias de informação e comunicação (TIC). O reconhecimento trouxe à autarquia a certeza de que o seu “posicionamento estratégico relativamente à criação de valor e de emprego e atracção de investimento nestas áreas mais associadas à inovação é o correcto e certo para aquilo que é a sustentabilidade e futuro de municípios, em particular do interior em zonas de baixa densidade”, garante o presidente da câmara municipal, Paulo Fernandes.

A aposta começou há cerca de três anos. “Criámos um plano de inovação, completamente orientado para impulsionar o concelho e a cidade do Fundão na atracção deste tipo de empresas, quer empresas mais maduras, quer start-ups”, conta o autarca, recordando que, nessa altura, havia apenas três engenheiros informáticos em todo o concelho. “Desde aí conseguimos criar 500 postos de trabalho na área das TIC e temos acordos para outros 500 nos próximos dois, três anos”, revela.

São já 13 as empresas do sector das TIC que escolheram o concelho do Fundão para se estabelecerem, algumas delas multinacionais, como é o caso da Altran. Com elas, veio também “o problema”, diz o autarca, “a necessidade de ter um mercado com capacidade de formar e qualificar recursos humanos para alimentar essa indústria de serviços emergente no nosso país e no Fundão, que está hoje no mapa dos locais possíveis para a localização desse tipo de empresas”.

A solução foi a aposta na formação, reforçando não só aquilo que se faz nas universidades e politécnicos da região, mas também dando competências de informática aos mais jovens e a pessoas cuja formação nada tinha a ver com esta área. Para isso, a câmara municipal contou com a parceria com a empresa Academia de Código, que desenvolve acções semelhantes em Lisboa, criando, assim, o projecto “Academias de Código”. A iniciativa, pensada para formar no curto, com bootcamps de programação intensivos, ou no longo prazo, dando as bases aos alunos do primeiro ciclo, assenta num modelo de contratualização de resultados, que lhe dá sustentabilidade financeira. “Os jovens que, depois desses cursos, não conseguirem trabalho, demonstrando obviamente procura, não pagam a formação e aqueles que conseguem emprego devolvem os 2500 euros associados à formação. Esse valor facilita o investimento noutros jovens. O sucesso da formação e da empregabilidade ajuda a que possamos abrir mais bootcamps, mais centros intensivos de formação em código”, explica Paulo Fernandes.

É proporcionando a oportunidade de aprender estas competências aos seus cerca de 11 mil habitantes que o Fundão quer responder “a um ecossistema altamente deficitário de profissionais”. Mas não só, é preciso também criar facilidades para que as pessoas se sintam bem ali. “Temos uma bolsa de casas de arrendamento low-cost associada a estes novos profissionais altamente qualificados, um conjunto de reduções de custos dos serviços municipais e parcerias, quer com o centro de emprego, quer com as universidades e politécnicos, para facilitar aquilo que possam ser depois os cursos de realização, a nível de mestrado, pós-graduações, etc.”, informa.

Para o Fundão, o investimento nas TIC é uma “aposta ganha” e que não se deve limitar só ao concelho. “Hoje, o país está entre os dez mais interessantes e competitivos na atracção desse tipo de sectores e não há razão nenhuma para que essas empresas se localizem só na Grande Lisboa ou no Grande Porto. Hoje, há, de facto, um território nacional que pode reunir as condições e que, com uma estratégia adequada, pode criar ecossistemas muito importantes para a atracção dessas empresas”.