A fragmentação do ecossistema aplicacional é um dos maiores obstáculos à concretização de uma cidade verdadeiramente inteligente. Mas as tecnológicas parecem estar a encontrar forma de o solucionar. A integração de sistemas de gestão de diferentes fornecedores numa única plataforma é hoje uma possibilidade real.

A revolução digital não pára de bater às portas das cidades, com a promessa de ligar tudo e todos – pessoas, dispositivos, máquinas e informação. A acompanhar essa tendência, surge a necessidade, cada vez mais urgente, de integrar todas as vertentes de funcionamento de uma cidade numa só plataforma, que se mostre capaz de cruzar dados e de interpretar o manancial de informação recolhido. Em 2016, a Cisco escolheu o Smart City Expo World Congress, em Barcelona, para apresentar uma plataforma que não só quer dar resposta a estas questões, como pretende ir mais longe, oferecendo solução para um problema mais do que comum: as cidades trabalham com vários softwares, diferentes entre si e lançados por um vasto leque de fornecedores, com interfaces gráficos e funcionalidades incompatíveis, sem possibilidade de integração. A plataforma digital Smart+Connnected pretende oferecer uma forma definitiva de abordar este problema, que está, há muito, identificado: um ecossistema aplicacional fragmentado.

Se uma cidade quer um sistema integrado, corre, muitas vezes, o risco de ter de recorrer a opções de um só fornecedor, que não oferecem flexibilidade e não permitem ir buscar ‘um software aqui e outro ali’, conforme as necessidades sempre particulares de um dado território. A promessa da Cisco é ambiciosa e contempla nada menos do que a integração de sistemas de diferentes fabricantes e a estandardização de modelos de dados e APIs para os diferentes dispositivos.

Se uma cidade quer um sistema integrado, corre, muitas vezes, o risco de ter de recorrer a opções de um só fornecedor, que não oferecem flexibilidade e não permitem ir buscar ‘um software aqui e outro ali’, conforme as necessidades sempre particulares de um dado território.

A solução já está a ser implementada em cidades como Paris, Copenhaga, Kansas City, Jaipur e Adelaide. No caso da cidade norte-americana, os mais de três quilómetros percorridos pela linha de eléctrico, ao longo da Main Street, são o palco central da inteligência urbana desta cidade e representam uma montra para as possibilidades de integração tecnológica que a plataforma da Cisco oferece à gestão dos territórios urbanos. A cidade do estado do Missouri recolhe informação em tempo real e disponibiliza-a, de forma livre e gratuita, num mapa interactivo on-line que revela exactamente quais os lugares de estacionamento livres naquela rua, assim como a localização precisa dos eléctricos, a contagem do tráfego automóvel por cada hora do dia e os fluxos de pedestres. O objectivo passa por assegurar, tanto para a edilidade como para os cidadãos, ferramentas úteis e serviços mais eficientes, na procura de um ambiente urbano que atraia investimento e desenvolvimento económico.

O que se passa em Kansas City é, em linhas gerais, semelhante àquilo que está a acontecer nas outras cidades em que a plataforma da Cisco está implementada. Iluminação pública e semaforização inteligentes, que respondem de forma dinâmica, adaptando-se às necessidades que as várias circunstâncias impõem e uma rede pública e gratuita de Wi-Fi são apenas algumas das soluções implementadas.A informação que a cidade norte-americana está a gerar, através dos sensores instalados nesta artéria, mas não só, encontra-se em regime de dados abertos numa plataforma de open data criada para esse efeito.

Embora seja ainda cedo para avaliar o poder destas ferramentas no que respeita a questões de eficiência energética, há já “um feedback bastante positivo do impacto destas tecnologias na gestão das cidades”, relata António Feijão, IoT country manager na Cisco Portugal. Para além de integrar aplicações de fontes variadas, esta é uma plataforma que promete articular, de forma contextualizada, informação proveniente de vários domínios. A análise e tratamento de informação tão variada, como níveis de tráfego, a iluminação ou a criminalidade, vai resultar, depois, numa gestão operacional mais eficiente e numa melhor distribuição dos recursos, possibilitando o estabelecimento de correlações e permitindo intervir em tempo real.

A “eliminação de redundâncias em termos de serviços e infra-estruturas de suporte” é apresentada por António Feijão como uma das vantagens comparativas que a plataforma apresenta face a outras soluções presentes no mercado, já que facilita, de modo igual, “a quebra de barreiras institucionais” e dá “resposta aos principais desafios na digitalização das cidades”. Junta os dados recolhidos por vários tipos de sensores espalhados pela cidade, processa-os e estabelece correlações entre os mais diversos pedaços de informação – por exemplo, entre os níveis de iluminação pública e a criminalidade verificada numa determinada zona – possibilitando, depois, a optimização da resposta dos vários sistemas e serviços municipais, envolvendo os cidadãos, com a promessa de melhorar a sua qualidade de vida.

A plataforma integra aplicações dedicadas à gestão de serviços urbanos como a iluminação pública, estacionamento, mobilidade urbana (onde se inclui tráfego rodoviário e pedonal) e ambiente, podendo “ser consumida como um serviço cloud, num modelo Pay as You Grow”, que permite uma adaptação às diferentes realidades, necessidades e, claro, às possibilidades de uma qualquer cidade.

Para António Feijão, as várias soluções integradas que a plataforma oferece, como as que dizem respeito à gestão da iluminação pública, do estacionamento, do tráfego ou, até, da segurança, “representam oportunidades interessantes para as cidades, em dimensões como a redução dos custos, o aumento das receitas, a eficiência operacional, a redução da pegada ecológica e a melhoria da qualidade de vida”. O especialista reforça ainda a necessidade imperativa de “evitar a abordagem tradicional de implementar soluções desenhadas com uma filosofia puramente vertical”, porque, conta, há que “pensar a tecnologia e as redes de comunicação como activos estruturantes fundamentais numa cidade inteligente, vistos de uma forma holística, integrada e em escala”.