O desajuste temporário entre oferta e procura de energia causada pelo aumento dos preços e pelo conflito na Ucrânia pode acelerar a implementação de energias renováveis ​​e limpas no mundo.

Este artigo, elaborado pela Selectra, empresa que se dedica à comparação de tarifas de energia em Portugal, mostra como, de alguma maneira, as cidades inteligentes são as potenciais líderes do processo.

As cidades inteligentes não são coisa do futuro. Atualmente, centenas de cidades de todo o mundo têm como principais objetivos proporcionar qualidade de vida aos seus cidadãos com infraestruturas, transportes e espaços verdes, reduzindo as emissões de dióxido de carbono (CO2) e promovendo o uso de energia limpa. Para conseguir isso, as cidades inteligentes empregam inovação e as mais recentes tecnologias. Dados em tempo real para conhecer a qualidade do ar de uma zona, sensores para controlar o uso da água, implementação de transportes públicos com zero emissões ou materiais de construção que cuidam do meio ambiente estão a ser implementados em muitas cidades.

Para que uma cidade seja considerada uma smart city, há uma questão fundamental: a energia. Importa a fonte, como é produzida e como é utilizada nas cidades. Para ser mais eficiente energeticamente, as equipas responsáveis ​​pela gestão das cidades têm adotado soluções nesse sentido. Atualmente, é comum implementar mudanças na iluminação pública para lâmpadas de baixo consumo e aumentar o uso de fontes limpas como o hidrogénio verde para o transporte público de massas. Também se instalam as smart grids ou redes inteligentes que regulam automaticamente a oferta e procura de energia nos edifícios públicos.

A atual situação de crise energética é mais um incentivo para alcançar a eficiência e realizar políticas de sustentabilidade. É fundamental que as cidades assumam a liderança no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). É nas cidades que isso se materializa, sendo ai fundamental que se possa explicar às pessoas como se obtém e vive numa smart city.

Os avisos das Nações Unidas são claros: até 2030, 60% da população mundial viverá em centros urbanos. E entre os objetivos atuais e futuros, a organização estabelece que as cidades devem ser lugares seguros, sustentáveis ​​e inclusivos. Além disso, com o aumento do preço da eletricidade em muitos países europeus, os presidentes das principais cidades começaram a trabalhar na procura de soluções.

De acordo com o estudo Smart cities: A Digital Solutions For A More Livable Future, da consultora Mckinsey, graças ao uso de tecnologia de dados, uma rede de conectividade em tempo real e o uso de aplicações e sensores, as cidades podem “reduzir as emissões de CO2 entre 10-15%, reduzir o consumo de água entre 20-30% e reduzir o volume de resíduos sólidos per capita entre os 10 e 20%”.

Pequim, por exemplo, reduziu em cerca 20% a poluição do ar que os seus cidadãos respiravam no período 2013-2017, passando de uma concentração média anual de partículas poluentes PM2,5 de 89,5 para 58µg/m3, segundo o estudo da ONU, intitulado como: “A review of 20 years’ Air Pollution Control in Beijing”. Isto foi conseguido graças à paralisação das centrais a carvão da cidade, à redução do tráfego e à diminuição da construção. Nesse período, o governo estudou a qualidade do ar graças a sensores e informou, via smartphones, a qualidade do ar em cada zona da cidade para que os seus cidadãos pudessem tomar medidas.

A crise energética fez com que a aliança C40, uma rede de cidades que unem esforços para reduzir as emissões de carbono, em que se necessitam empreender novas ações. Essas cidades, cuja vice-presidência é atualmente ocupada por Barcelona, ​​​​usam 55% de gás para aquecimento e ar condicionado em edifícios residenciais. Na atual conjuntura comprometeram-se a aprofundar a procura de soluções científicas para combater as mudanças climáticas.

O desafio das cidades inteligentes: cidades inclusivas com desigualdades digitais

Enquanto as equipas do governo das cidades combatem as mudanças climáticas com investimentos, tecnologia e muita imaginação, há um aspecto que não deve ser esquecido: que as melhorias cheguem a todos os cidadãos. A primeira coisa que os governantes de uma smart city devem fazer é reconhecer a situação de desigualdade ou falta de inclusão nas suas cidades.

As infraestruturas como transportes limpos, espaços verdes ou tratamento de resíduos devem ser encontradas no centro das cidades bem como nas suas periferias. De facto, os bairros mais vulneráveis ​​das cidades estão longe de ser um exemplo de cidade inteligente, já que as pessoas que passam mais tempo em deslocações para o trabalho vivem aí, e o transporte geralmente não é eficiente. Também são pessoas que muitas vezes não têm um serviço de internet de qualidade ou não contam com dispositivos de trabalho, pelo que a conectividade e a comunicação falham, surgindo uma desigualdade digital.

Para não deixar ninguém para trás, os próprios cidadãos organizaram-se em grupos de trabalho chamados Smart Citizens Labs, centros que conectam pessoas, e que abrem debates sobre melhorias, criando aplicações de software livre. Atualmente existe uma rede de cidadãos de várias cidades europeias (destacando-se os grupos Barcelona e Amesterdão) que estão envolvidos em tornar a cidade inteligente aberta e para todos.

Este texto é da autoria e responsabilidade da Selectra.