A cidade de Lisboa e a agência Lisboa E-Nova foram escolhidas para coordenar o projeto europeu HUB-IN, que junta oito cidades europeias com o mesmo desígnio: fomentar a inovação e o empreendedorismo em zonas urbanas históricas, preservando a sua identidade, a singularidade cultural e a sustentabilidade ambiental. É um plano de quatro anos, mas vai deixar marca para o futuro.  

Da tradicional Colina do Castelo lisboeta às muralhas de Nicósia e Brasov, dos antigos estaleiros do Titanic, em Belfast, aos arredores do Porto Velho de Génova, da empreendedora Utrecht à capital da banda desenhada, em Angoulême, ou à tranquila Slovenska Bistrica: em cada uma destas cidades europeias há um motor de transformação social e urbana, quase sempre silencioso, que tem como missão trazer uma nova vida e sustentabilidade aos seus centros históricos. É o projeto HUB-INHubs of Innovation and Entrepreneurship for The Tranformation of Historic Urban Areas (Polos de Inovação e Empreendedorismo para a Transformação de Áreas Urbanas Históricas, na tradução portuguesa). 

Com a liderança da Lisboa E-Nova Agência de Energia e Ambiente de Lisboa, trata-se de um consórcio de oito cidades piloto que integra municípios, agências, universidades e empresas com o intuito de desenvolver iniciativas de inovação e empreendedorismo em áreas históricas, contribuindo para a preservação dos valores naturais, culturais e sociais de cada uma.  

“Este é um projeto de regeneração com uma perspetiva muito especial, holística, porque tenta potenciar os ecossistemas de inovação urbana, tendo por base a tradição e o património cultural, seja ele material ou imaterial, e integrando sempre as pessoas e as dinâmicas de bairro”, diz Vera Gregório, técnica da Lisboa E-Nova Agência de Energia e Ambiente de Lisboa e coordenadora geral do HUB-IN. 

O envolvimento das comunidades locais é, de facto, um fator essencial para o projeto, que procura ajudar no desenvolvimento de novas competências, novos empregos e novas oportunidades para empresas locais (nomeadamente nas áreas da inovação e da criatividade), mas também cria mais oportunidades para os negócios tradicionais já existentes. A sustentabilidade e a regeneração ambiental são outros pilares essenciais nas iniciativas do HUB-IN, transportando a urgência climática global para uma escala de bairro.

CRIATIVIDADE, NOVOS ESTILOS DE VIDA E RESILIÊNCIA 

Financiado pela Comissão Europeia através do programa Horizonte 2020, o HUB-IN é um projeto de quatro anos, que teve início em setembro de 2020 e se prolonga até 2024. Durante este período, terá duas fases principais.  

A primeira é dedicada à construção do conceito de inovação e regeneração nas áreas históricas e ao desenvolvimento de centros de inovação e empreendedorismo – os Hubs –, a criar em cada uma das cidades parceiras: Lisboa (Portugal), Belfast (Irlanda do Norte, Reino Unido), Brasov (Bulgária), Génova (Itália), Angoulême (França), Nicósia (Chipre), Slovenska Bistrica (Eslovénia) e Utrecht (Holanda) 

Na segunda fase, pretende-se estender esta aliança HUB-IN a outras cidades seguidoras, através de uma rede colaborativa global que partilhe conhecimentos, metodologias e ferramentas. O compromisso passa por envolver mais 20 cidades europeias dentro do prazo do projeto. 

Do ponto de vista conceptual, os Hubs of Innovation and Entrepreneurship irão trabalhar com base em três clusters de inovação. O primeiro assenta nas “Indústrias culturais e criativas”, como o artesanato, o design de moda, as artes visuais, a música, o cinema ou os videojogos. Outro, denominado “Novos estilos de vida”, integra as tecnologias digitais, a economia circular, a inovação social e a sustentabilidade. Já o terceiro, “Lugares resilientes e conectados às pessoas”, está relacionado com o empoderamento das comunidades e a sustentabilidade.

O HUB COLINA DO CASTELO COMO FORÇA DE TRANSFORMAÇÃO 

Em Lisboa, o HUB-IN materializa-se no HUB COLINA DO CASTELO, que nascerá em colaboração com a câmara municipal de Lisboa, parceira no projeto, e abrange as zonas históricas de Alfama, Mouraria, Intendente, Castelo, Graça e São Vicente. Bairros com muitas diferenças entre si, mas também vários pontos em comum, desde a sua História e tradição seculares aos mais recentes problemas de gentrificação, abandono, pressão imobiliária, massificação turística e pobreza energética. 

Para potenciar estes aspetos positivos e ajudar a mitigar os negativos (em grande medida, transversais às outras cidades do projeto), foram definidas três missões essenciais. A primeira tem como tarefa criar bairros de economia circular, que valorizem o património cultural e as estratégias de apoio aos negócios tradicionais, mas também promova a regeneração de espaços públicos e o combate ao isolamento social, por exemplo com dinâmicas intergeracionais. Já a missão dois pretende impulsionar a criatividade e os negócios locais, de forma a potenciar as características do conhecimento tradicional, tão presentes na Colina do Castelo, sempre com a preocupação de interligar a inovação e o empreendedorismo. Por fim, a terceira missão está baseada na missão climática, operando uma regeneração pela perspetiva da eficiência climática, por exemplo através da criação de espaços públicos mais verdes ou de iniciativas de combate às ilhas de calor. 

“Queremos que o Hub Colina do Castelo, em Lisboa, seja um motor de regeneração do território e de promoção do bem-estar das comunidades, através da integração da inovação, tradição e sustentabilidade ambiental. Sempre na lógica de reutilizar, readaptar e valorizar os recursos que já existem no bairro”, diz Vera Gregório. 

A estrutura de governação deste Hub ainda está a ser desenhada, mas a ideia é associar diferentes departamentos da autarquia, juntas de freguesia e associações locais, todas representadas num Comité Consultivo. O envolvimento dos cidadãos passará, igualmente, por várias iniciativas, como a criação de uma Rede dos Amigos da Colina do Castelo. 

Também as interligações com outros grupos internacionais serão privilegiadas. É o caso da rede C40 Cities, da qual Lisboa faz parte, que junta cerca de uma centena de autarcas de todo o mundo na luta contra a crise climática. Um dos projetos que está a dinamizar é a competição internacional Students Reinventing Cities, que já desafiou estudantes e universidades a apresentarem ideias que façam da Mouraria um bairro mais sustentável.  

Entre as principais ações a desenvolver na Colina do Castelo, destaca-se, desde logo, a Ignite the Hill, que procura fomentar uma rede de indústrias criativas em conjunto com o Centro de Inovação da Mouraria (CIM). Além do mapeamento de projetos, empresas e espaços através da plataforma GeoTool, será também criado um Selo para as atividades alinhadas com o espírito da iniciativa. O CIM terá, igualmente, um papel fundamental no projeto De-Incubator, uma espécie de incubadora híbrida, descentralizada e desmaterializada que funcionará como programa de aceleração para produtos ou serviços inovadores. O objetivo é incentivar o empreendedorismo, especialmente através da criação de empregos e da atração de talentos. Outro projeto emblemático do HUB-IN Lisboa será o Colina do Castelo Pop-up Space, a ser instalado num edifício histórico de Alfama, que juntará a comunidade do bairro à volta de ações criativas e sustentáveis. Haverá também o Sprout Tank, um germinador de ideias na área da sustentabilidade ambiental e da economia circular com projetos piloto e atividades experimentais orientadas para a ação climática.  

Por fim, levanta-se a dúvida: o que acontece depois de terminar o prazo de quatro anos do projeto? Vera Gregório diz que a missão de prosseguir com o HUB Colina do Castelo não se esgota neste período e acredita que esta vá perdurar por bastante mais tempo. “As ações começam e acabam, mas o que pretendemos é que se criem estruturas de governação para os centros históricos, como estes Hubs, e se captem diversas atividades que, depois, continuem a alavancar outras iniciativas para além do HUB-IN. Na verdade, o projeto começa… quando terminar.”

Fotografia de destaque: © CM Lisboa

ESTE ARTIGO CONTA COM O APOIO DA LISBOA E-NOVA, AGÊNCIA DE ENERGIA E AMBIENTE DE LISBOA E FOI ORIGINALMENTE PUBLICADO NA EDIÇÃO DE ABRIL/MAIO/JUNHO DE 2023 DA SMART CITIES.