Por:  Jean Barroca, Associate Partner da Deloitte

Nos últimos anos, temos assistido a um papel cada vez mais importante dos dados na cidade. Se, há uns anos, se olhava apenas para o tema com alguma curiosidade e como um enorme potencial, hoje, são diversos os exemplos de como a utilização da informação poderá ter um impacto significativo na forma como as cidades operam, se desenvolvem, mas também como prestam contas aos cidadãos pelas suas decisões.

Um estudo recente promovido pela Deloitte com representantes de cidades a nível global indica-nos que mais de 90% das cidades utilizam dados na sua gestão diária. Na Europa, as cidades estão a criar ecossistemas de partilha de dados (data spaces) que criam condições para a utilização de digital twins.

Estes gémeos digitais permitem que centros urbanos como Cascais saibam a origem dos problemas das suas operações utilizando sensores e análises de dados, potenciando, de forma cada vez mais assertiva, o poder computacional ao nosso dispor. Esta utilização dos digital twins em centros de comando integrados cria condições para serviços públicos mais integrados, mais eficientes e mais concentrados em resolver problemas aos cidadãos. Em cidades como Roterdão e noutras do norte da Europa, os digital twins estão ligados a iniciativas de análise de dados para planeamento urbano com ênfase em temas críticos como a resiliência urbana ou a mitigação das alterações climáticas.

As cidades asiáticas investem fortemente em sistemas de videovigilância e na utilização de inteligência artificial para reconhecimento facial; nos Estados Unidos era, até há bem pouco tempo, prática comum a utilização de inteligência artificial para a previsão de necessidades de policiamento.

Estas utilizações levantam reflexões éticas muito relevantes nos dias de hoje. A inteligência artificial deve ser cada vez mais explicável e cada vez menos influenciável pelos dados que utiliza como ponto de partida.

A utilização dos dados tem impacto na privacidade das pessoas e, em última análise, na democracia e na sociedade que estamos a construir. Esta dimensão ética deverá estar sempre na raiz das iniciativas de dados na cidade e deve ser tão inclusiva, partilhada e participada quanto possível.

Com o passar dos anos, as cidades tornaram-se cada vez mais conscientes do valor da informação e do seu potencial. São cada vez mais as cidades dispostas a criar ecossistemas de partilha de dados entre públicos e privados que constituem a riqueza e a diversidade da partilha de informação em ambiente urbano. À medida que a profundidade da utilização dos dados das cidades aumenta, cresce também uma necessidade e um risco.

A interoperabilidade desempenha um papel fundamental no ecossistema de dados da cidade. De nada serve à cidade ter dados se estes não são integrados e não são partilháveis e utilizáveis. No recente Framework de Interoperabilidade para Cidades e Comunidades Inteligentes que a Deloitte desenvolveu para a Comissão Europeia, destacam-se diversos elementos que estabelecem o caminho a seguir pelas cidades para conseguirmos uma maior interoperabilidade de dados dentro dos ambientes urbanos.

O risco principal é naturalmente a influência que o uso massivo de informação poderá ter na definição da sociedade do futuro. A utilização dos dados tem impacto na privacidade das pessoas e, em última análise, na democracia e na sociedade que estamos a construir. Esta dimensão ética deverá estar sempre na raiz das iniciativas de dados na cidade e deve ser tão inclusiva, partilhada e participada quanto possível.

Em dias em que a Europa e o mundo se preparam para ser cada vez mais verdes, mais inclusivos e mais digitais, será nas cidades que veremos a transformação digital da nossa sociedade. Na nossa perspetiva, a utilização dos dados é uma excelente ferramenta para tornar o nosso modo de vida urbano cada vez mais humano.

As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.

ESTE ARTIGO CONTA COM O APOIO DA DELOITTE