Por: Diogo Santos, Partner da Deloitte
Os indicadores na área da mobilidade urbana apresentaram, nos primeiros meses de 2021, uma acentuada descompressão, notando-se que os índices de utilização, sobretudo depois de março, estavam a voltar paulatinamente a valores mais aproximados da realidade pré-pandémica. Esta recuperação fez-se sentir não só na utilização dos transportes individuais, mas também na dos transportes públicos, ou mesmo dos modos mais suaves, nomeadamente as bicicletas e trotinetes – estes últimos originados pela reabertura do turismo nas nossas cidades.
Ao analisar as condicionantes da mobilidade urbana, continuamos a observar que o teletrabalho se mantém como um dos vetores de maior impacto, restringindo diretamente a procura e os picos de horas de ponta. Menos movimentação de pessoas é, por si só, uma tendência, que será ainda mais evidente no médio prazo, uma vez que as melhorias de conectividade das redes de comunicações e a adoção de novas políticas de gestão de recursos humanos pelas empresas contribuirão para o crescimento do peso relativo do trabalho à distância.
Os indicadores na área da mobilidade urbana apresentaram, nos primeiros meses de 2021, uma acentuada descompressão, notando-se que os índices de utilização, sobretudo depois de março, estavam a voltar paulatinamente a valores mais aproximados da realidade pré-pandémica.
Simultaneamente, é incontornável a evolução ao nível da eletrificação, que pode ser vista como uma das soluções mais estruturais em torno da sustentabilidade da mobilidade, para a qual se estima um acentuado fortalecimento, impulsionado pelo incremento da oferta tanto de veículos 100% elétricos, como das soluções híbridas, sobretudo mais visíveis na oferta de automóveis ligeiros de passageiros, ligeiros de mercadorias e em alguns autocarros de transporte coletivo de passageiros.
Os números do final do ano de 2020 já demonstravam alterações impressionantes, pois, pela primeira vez, em dezembro último, as vendas do conjunto dos automóveis ligeiros de passageiros elétricos e eletrificados (100% elétricos, híbridos plug-in e híbridos elétricos) apresentaram uma quota de 37,0%, ultrapassando as vendas dos ligeiros de passageiros a gasolina e a gasóleo com 34,7% e 25,9% de quota, respetivamente.
Para além destes efeitos, é ainda de assinalar o compromisso das entidades públicas em torno da sustentabilidade ambiental e da descarbonização, das quais a eletrificação é uma das principais bandeiras. O exemplo mais recente foi-nos dado, recentemente, pela própria Comissão Europeia, que propôs aos diferentes países da União a eliminação da venda de automóveis novos a combustão (gasolina e gasóleo) a partir de 2035. Esperam-se, portanto, tempos de enorme discussão e debate em torno destes novos desígnios, sobretudo na gestão das expectativas dos diferentes operadores económicos envolvidos em todo esta fileira.
O ano de 2021 será igualmente o ano de início para a aplicação das verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Decorrente da aplicação deste programa, perspetivam-se três vetores que dinamizarão uma transformação impactante na mobilidade urbana, associados sobretudo à aplicação da ação C15 – Mobilidade Sustentável, e que são:
- A aposta na melhoria dos sistemas de transporte coletivo: expansão das redes de Metro de Lisboa e Porto, criação do metro ligeiro em Odivelas e de uma linha BRT (Bus Rapid Transit) na Boavista, reforçando assim a oferta no seio das urbes com maior concentração de população;
- O investimento previsto para a aquisição de veículos mais limpos (145 autocarros): renovação das frotas, a qual terá um impacto extremamente relevante na descarbonização e apoio à transição energética;
- E, por último, a concretização efetiva destas iniciativas em conjunto com apostas complementares em material circulante e outros meios, permitindo o incremento dos níveis de serviço, a redução de atrasos e supressões e o aumento da satisfação dos clientes, contribuindo assim para uma crescente utilização do transporte público.
Apesar do começo desafiante de 2021, é legítima a expetativa de que a famosa bazuca acelere a aguardada disrupção da mobilidade urbana, tornando-a mais inteligente, mais sustentável e mais orientada às necessidades do cidadão.
As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.
ESTE ARTIGO CONTA COM O APOIO DA DELOITTE