A partilha de dados pode ajudar a aumentar a eficácia da resposta à pandemia global. Quem o diz são os responsáveis do Open Data Institute, que apelam aos governos mundiais para que partilhem a informação que já têm disponível. Com isto, argumentam, será possível ajudar as pessoas a entender por que razão estão a ser impostas determinadas medidas de contenção do novo coronavírus (covid-19), assim como contribuir para o “escrutínio” científico dos modelos preditivos utilizados e das conclusões retiradas, já que “existem sempre falhas”.

O pedido surge pela voz da directora executiva do Open Data Institute (ODI), Jeni Tennison: “a partilha de modelos pode ajudar outros governos de todo o mundo, particularmente aqueles com menos capacidades para responder com eficácia”. Aumentar a transparência “sobre os modelos que os governos estão a utilizar para tomar decisões ajudaria toda a gente”, afirma.

A decisão de adoptar medidas de contenção, como as que foram implementadas em países como China, Itália, Espanha ou França, que impuseram a recolha obrigatória dos cidadãos nas suas habitações, está assente em modelos preditivos epidemiológicos e comportamentais. A ODI, organização responsável pela promoção da partilha e utilização de dados abertos, considera que há três razões a levar ao apelo para a partilha dos dados que se encontram na posse dos governos: levar as pessoas a entender as diferentes medidas adoptadas, permitir o escrutínio científico dos modelos e aumentar a eficácia da resposta dada por países com menos recursos.

A organização, sediada no Reino Unido, considera a partilha de dados fundamental para a justificação das medidas adoptadas, “especialmente quando estas parecem ser contrárias ao senso comum”. No seu texto, Jeni Tennison considera que os “governos precisam de mostrar que as decisões são baseadas na evidência científica e no desejo de salvar vidas, não na conveniência política”. A directora executiva releva ainda importância de divulgar os modelos com o exemplo gráfico do achatamento da curva evolutiva do novo coronavírus, por oposição ao crescimento exponencial da propagação, que pode significar o sobrecarregamento dos serviços de saúde, para lá das suas capacidades de resposta.

A directora executiva aponta também a necessidade de possibilitar à comunidade científica o escrutínio dos modelos, com o objectivo de os “melhorar”, considerando que “existem sempre falhas, ou porque há falhas ou porque alguma coisa é subvalorizada”. “Não podemos saber onde estão as falhas sem vermos os modelos”, sublinha. Por último, e tratando-se esta de uma “pandemia global”, Jeni Tennison crê que a partilha de modelos “pode ajudar governos de todo o mundo, especialmente aqueles com menos recursos” a aumentar a eficácia da resposta no combate à covid-19.

“Para realmente desbloquear o poder” dos modelos epidemiológicos e dos dados que os alimentam, estes “devem ser partilhados num formato legível e sob licença aberta”, afirma. Desta forma, torna-se possível que terceiros possam “reutilizar os modelos para criar novas visualizações”, permitindo o “aperfeiçoamento” por parte da comunidade científica e a aplicação das previsões a diferentes “circunstâncias e sociedades”.

Recorde-se que está, neste momento, a decorrer uma petição em Portugal que solicita ao Governo a abertura de dados considerados pertinentes para o controlo da pandemia, nomeadamente a divulgação de “microdados pseudo-anonimizados existentes sobre doentes suspeitos” em território nacional.