Os sistemas UAV – Unmanned Aerial Vehicles ou, em português, VANT – Veículos Aéreos Não Tripulados, também conhecidos simplesmente como “drones”, são uma realidade relativamente recente mas que está já a criar fortes rupturas nalguns sectores, alterando as regras do jogo e as formas de fazer em diferentes áreas como ordenamento do território, produção de cartografia, agricultura, produção florestal, ambiente e recursos naturais, fotografia, televisão, segurança e protecção civil. Protótipos recentes parecem adivinhar a sua entrada na logística e no retalho. Os próximos anos trarão seguramente muitas e interessantes novidades.

Estes equipamentos tornaram-se também presença assídua nos media mas nem sempre pelos melhores motivos. As notícias de bombardeamentos realizados com recurso a UAV em teatros de guerra no Médio Oriente ou de fotografias não autorizadas da vida privada de pessoas famosas são disso exemplo, sendo olhados com desconfiança por alguma parte da população. Mas o que são realmente os UAV e qual a importância desta revolução para as cidades?

A informação geográfica e a inovação tecnológica

Todas as estratégias de cidades inteligentes partem do acesso a dados e informação crítica para a gestão urbana. A este nível os UAV já não constituem apenas uma promessa, sendo já sistemas capazes de nos garantir um acesso rápido e barato a dados e informação precisa e actualizada.

Cingimo-nos aqui às questões de acesso à informação geográfica e à cartografia. Os sistemas de informação geográfica acompanharam sempre muito de perto o surgimento e o desenvolvimento do computador. O primeiro sistema deste tipo foi desenvolvido na década de 1960, no Canadá. Ainda que limitado pela capacidade computacional então disponível, o Canadian Geographic Information System permitiu produzir cartografia digital e a realização de diversas operações de análise espacial entre diferentes usos do solo. Estes sistemas de gestão de informação espacial desenvolveram-se nas décadas seguintes, beneficiando dos enormes incrementos na capacidade computacional, assim como de desenvolvimentos ao nível da aquisição de dados, como as imagens de satélite e os sistemas de localização GNSS – Global Navigation Satellite System.

Perante o advento dos UAV, parece-nos evidente que a aquisição de informação geográfica está perante uma nova e importante (r)evolução. Actualmente é possível adquirir informação por processos aerofotogramétricos de forma ágil e rigorosa e com base nestes dados construir cartografia de elevada precisão a baixo custo. Há sistemas UAV que já utilizam sistemas de correcção e processamento de informação satélite em tempo real (RTK – Real Time Kinematic), garantindo precisões centimétricas nos levantamentos. Da mesma forma, é possível realizar o levantamento de informação geográfica temática com rigor e custo impossíveis há poucos anos, com base em dados recolhidos por sensores a bordo de UAV.

O desenvolvimento tecnológico dos equipamentos UAV – aumento da autonomia e integração de sofisticados sistemas de inteligência artificial – tem sido acompanhado pela inovação ao nível de sensores hiperespectrais, térmicos e LIDAR – Light Detection And Ranging, capazes de detectar, por exemplo, a saúde de uma exploração florestal, a necessidade de rega de uma vinha ou a eficiência energética e perdas de calor num determinado bairro de uma cidade. Muita investigação está a ser realizada e estes sensores estão a migrar dos satélites e dos aviões tripulados para os sistemas UAV, dadas as vantagens de flexibilidade e precisão que estes sistemas garantem.

Convém termos noção de que estamos apenas no início deste processo. Há quem defenda que esta revolução é total e irreversível e que todo o equipamento e as metodologias de aquisição de informação geográfica e de produção de cartografia “tradicional” estarão totalmente obsoletos num prazo de 15 anos.

Importância actual e futura para as nossas cidades

Tendo em conta o desenvolvimento desta tecnologia, os UAV são os sistemas mais adequados para a aquisição de informação com o detalhe, a flexibilidade e os custos que a boa gestão urbana exige. As cidades portuguesas devem aproveitar a inovação que já está disponível. De forma imediata, podem constituir-se como a principal fonte de informação para os PMOT – Planos Municipais de Ordenamento do Território, em diferentes escalas e principalmente em Planos de Urbanização e Planos de Pormenor, os quais requerem maior precisão. Esta tecnologia consegue oferecer imagens aéreas com uma resolução ao solo de 3 cm por pixel, permitindo assim fazer o levantamento de todos os objectos com tamanho igual ou superior a esta dimensão.

As cidades podem ainda beneficiar da agilidade e da flexibilidade garantidas por estes sistemas através, por exemplo, de levantamentos imediatos de danos decorrentes de movimentos de vertentes ou de inundações e de levantamentos periódicos para acompanhar a evolução de um bairro em particular. Tudo isto a custos bastante mais baixos que os levantamentos tradicionais efectuados por voos tripulados, economicamente viáveis apenas em áreas de grande dimensão.

Para percebermos que papel teremos nesta revolução será determinante a forma como o país se organizará e actuará a dois níveis: regulação e investigação.

A regulação da actividade de voo com equipamentos não tripulados é urgente, sendo necessário clarificar quem o pode fazer, onde, com que equipamento e com que formação. A certificação cartográfica necessita igualmente de contemplar esta tecnologia e metodologias. Estes sistemas estão a ser alvo de forte investimento e de importante investigação. Será decisiva a forma como os nossos centros de saber e as empresas consigam trabalhar em conjunto, potenciando o surgimento de inovação nacional neste importante mercado emergente.

As cidades portuguesas estão perante uma alteração profunda nas práticas de gestão urbana, no que respeita ao acesso a dados e informação. Importa participar activamente nesta mudança, compreender e aceitar que há alterações de alguns paradigmas com que temos vivido e gerido o espaço urbano nas últimas décadas. Com certeza ganharemos todos com isso.

Fotos: © Firemap