A frase do título não é minha, mas, sim, do atual secretário de Estado da Mobilidade, Jorge Delgado, e foi proferida recentemente no âmbito de um debate sobre a regulamentação de trotinetas em Portugal.

O acordo assinado entre os operadores e a câmara municipal de Lisboa mostra bem a importância da micromobilidade para a cidade e para o país. Pela sua sustentabilidade, pela capacidade de aumentar a produtividade, pelo seu papel de descarbonização, por representar uma transformação no paradigma de transportes das grandes urbes e por querer dar o exemplo a outras cidades para adotar de vez este modo de transporte.

Lisboa quis dar um passo em frente na modernização de uma cidade que se pretende organizada, ética e inovadora, que oferece os serviços e as experiências mais adequadas para quem a habita e nela trabalha, como para quem a visita.

É tempo de assumir que a micromobilidade é um dos modos de transporte individual mais sustentáveis e que permite uma redução das emissões de CO2 e da poluição sonora. Além disso, com valores extremamente competitivos comparativamente a outras formas de deslocação – outro grande desafio que se coloca à população a nível transversal, considerando a inflação que se vive atualmente.

Em suma, este acordo vai posicionar as trotinetas como um modo de transporte regulamentado, de forma transparente, e permitirá que as empresas atendam aos mais altos padrões da cidade, com a sua oferta inovadora como forma de mobilidade.

“A regulamentação das trotinetas não deve ser feita a pretexto de resolver o ‘caos’ nas cidades, ou para não causar incómodo ao automóvel (…). A regulamentação deve ser feita para criar condições para que estes meios possam consolidar-se nas estradas portuguesas e para preservar a boa coabitação e segurança entre os diversos modos de transporte existentes nas ruas portuguesas.”

Em muitas outras cidades europeias, que se encontram num patamar acima no que toca à sua modernização, os centros históricos já estão totalmente fechados à circulação de carros particulares e com acesso disponível apenas para transportes públicos ou opções de micromobilidade.

Hoje em dia, não faz qualquer sentido continuarmos a ver veículos nos centros da cidade, apenas com o condutor no seu interior, quando as opções de deslocação já são inúmeras e podem ser intercaladas entre si. Que seja este o primeiro passo nesse sentido, em direção a uma Lisboa efetivamente sustentável!

Por isso, a regulamentação das trotinetas não deve ser feita a pretexto de resolver o “caos” nas cidades, ou para não causar incómodo ao automóvel, como foi defendido num relatório publicado recentemente por um regulador de transportes em Portugal. A regulamentação deve ser feita para criar condições para que estes meios possam consolidar-se nas estradas portuguesas e para preservar a boa coabitação e segurança entre os diversos modos de transporte existentes nas ruas portuguesas.

Passa também por uma reflexão profunda a médio prazo sobre que cidades queremos para o futuro. Uma cidade com menos automóveis ou uma cidade com menos bicicletas e trotinetas, porque estas “estão a causar incómodo aos automobilistas”?

É ainda altura de assumir que as trotinetas são um parceiro real para a descarbonização das cidades. Leia-se um relatório da EIT InnoEnergy que menciona que esta forma de deslocação contribui para a redução de mais de 30 milhões de toneladas de CO2 por ano. E isto associado a um aumento do PIB europeu de 111 mil milhões de euros, como resultado de quase mil milhões de horas que se evitam em filas de trânsito. Estas conclusões são obviamente positivas e reforçadas pelo facto de a indústria poder contribuir para a criação de até um milhão de empregos na Europa, até 2030.

Que todas as futuras políticas públicas nacionais e locais tenham em consideração os aspetos acima mencionados. É tempo de assumir e de ter coragem sobre o que realmente queremos para as cidades dos nossos filhos.

As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.