O crescimento e generalização do teletrabalho enquanto consequências naturais da pandemia trouxeram um conjunto de desafios, mas também imensas oportunidades. Em primeiro lugar, o teletrabalho veio contribuir para a globalização do mercado de trabalho, democratizando o acesso a oportunidades de emprego que, outrora, discriminavam a localização física do candidato. Neste contexto, os territórios com menor densidade populacional (também designados de territórios de baixa densidade) têm o potencial de ganhar uma maior atratividade, sobretudo para os mais jovens, que, tipicamente, preferem ou são encorajados a fixar-se em áreas urbanas, onde a oferta de emprego e de serviços tende a ser muito mais diversificada.

Nos últimos anos, Portugal tem-se afirmado como um dos destinos europeus com maior capacidade de captação de investimentos tecnológicos. Para tal, contribuem fatores como a localização estratégica do país, o clima, estabilidade e segurança e, sobretudo, a oferta de capital humano altamente qualificado, mas a baixo custo comparativamente à realidade europeia e até internacional. Grandes tecnológicas mundiais têm vindo a investir em Portugal na criação de centros tecnológicos, estando estes investimentos concentrados nas regiões de Lisboa e Porto, o que vem reforçar ainda mais a hegemonia destes grandes centros urbanos no panorama nacional de inovação.

Com o advento do teletrabalho, esta realidade pode estar prestes a mudar, visto que, ao invés de grandes investimentos na instalação de infraestruturas e centros tecnológicos, a tendência poderá passar por minimizar estes investimentos e privilegiar a utilização de espaços de trabalho partilhados (conhecidos como espaços de coworking), dispersos geograficamente, que permitam uma maior flexibilidade e minimizem custos fixos. Desta forma, poder-se-á antever uma maior dispersão geográfica dos investimentos de projetos tecnológicos, nomeadamente para territórios de menor dimensão.

Esta dispersão geográfica alavancada pela massificação do teletrabalho deve ser aproveitada pelos territórios de baixa densidade, potenciando aquilo que de melhor têm para oferecer e comunicando de forma a captar o talento mais jovem. Há que se tirar partido dos diversos incentivos que foram realizados na melhoria de acessibilidade e das infraestruturas nestas zonas do país, com foco nas novas dinâmicas de evolução da sociedade.

O teletrabalho, enquanto uma dessas dinâmicas, pode e deve ser promovido como meio de atrair esta camada da população para os territórios de menor dimensão. Para além da flexibilidade que permite trabalhar a partir de qualquer ponto do país, o teletrabalho está a incutir uma mudança de rotinas, nomeadamente nos hábitos de consumo. Trabalhando a partir de casa, e sobretudo no contexto atual de pandemia, as deslocações à rua têm sido drasticamente reduzidas, o que motivou que muitas das compras passassem a ser feitas online ou no pequeno comércio local.

Também estes novos hábitos de consumo poderão ajudar a minimizar o gap entre a oferta dos territórios de baixa densidade e a das grandes zonas urbanas.

Esta dispersão geográfica alavancada pela massificação do teletrabalho deve ser aproveitada pelos territórios de baixa densidade, potenciando aquilo que de melhor têm para oferecer e comunicando de forma a captar o talento mais jovem. Há que se tirar partido dos diversos incentivos que foram realizados na melhoria de acessibilidade e das infraestruturas nestas zonas do país, com foco nas novas dinâmicas de evolução da sociedade.

Todos estes desenvolvimentos, ainda que impulsionados pela pandemia, só foram possíveis devido à tecnologia, que tem permitido este encurtar de distâncias que aproxima o colaborador do empregador, o consumidor do fornecedor. Para além de aproximar virtualmente as pessoas em regiões e fusos horários diferentes, deverá pensar-se na tecnologia enquanto meio de promoção de um desenvolvimento mais sustentável, o que passa não só por repensar os atuais padrões de mobilidade, como também por reduzir a sobrecarga de consumo que existe nos grandes centros urbanos (de acordo com dados do Banco Mundial, as cidades são atualmente responsáveis por cerca de dois terços do consumo global de energia e por mais de 70% das emissões de gases poluentes). Isto será possível se se conseguir atrair a população para os territórios com menos habitantes, desconcentrando este consumo e favorecendo, simultaneamente, as cadeias de produção local.

Tendo em conta que a faixa etária mais jovem está cada vez mais sensibilizada para a necessidade de repensar os seus hábitos de consumo, a possibilidade de viver de forma mais sustentável e amiga do ambiente poderá ser também um dos atrativos das regiões de menor densidade. Esta preocupação com a sustentabilidade tem vindo inclusivamente a ser reforçada em contexto europeu, sobretudo com o Pacto Ecológico Europeu, que pretende envolver todos os Estados-Membros na operacionalização de um roteiro de ações com vista a tornar a economia europeia mais sustentável e a alcançar a neutralidade climática até 2050. Tendo em conta que este roteiro para a sustentabilidade em muito depende da valorização dos recursos naturais e das comunidades independentemente da sua escala e atendendo ao facto de ser nas zonas rurais que se concentra parte significativa da biodiversidade, é expectável que muitos dos projetos tecnológicos que venham a surgir neste âmbito tenham intervenção direta nestes territórios, contribuindo para que estes se tornem verdadeiros ecossistemas de inovação.

A preocupação com estas questões de sustentabilidade e qualidade de vida fazem parte integrante do dia a dia da Ubiwhere, estando patentes na forma como a empresa se posiciona nos diversos projetos e iniciativas em que está envolvida, bem como na forma como a empresa comunica com os seus stakeholders. A Plataforma Urbana, que oferece uma vista global e integrada das cidades, é uma das soluções que reflete a aposta da Ubiwhere em revolucionar a forma como as cidades gerem os seus recursos, usufruindo de insights valiosos na criação de políticas e tomadas de decisão bem informadas, com foco no desenvolvimento sustentável e numa melhor qualidade de vida aos seus cidadãos. Num único local, os municípios têm acesso a diversas informações – desde mobilidade e energia, à qualidade do ar e recolha de resíduos – de várias fontes de dados, num painel personalizável que permite a seleção, filtragem dos dados e organização em categorias, permitindo-lhes aferir se já estão a traçar um caminho alinhado com os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (SDG) propostos pelas Nações Unidas, assim como avaliar o impacto económico e ambiental da pandemia no seu ecossistema.

A Ubiwhere assume-se assim como um exemplo de como é possível, nos dias de hoje, desenvolver produtos com impacto na redução de congestionamentos rodoviários, na redução de emissões e melhoria da eficiência energética de equipamentos, edifícios e veículos, contribuindo assim para assegurar um futuro sustentável para as próximas gerações.

Acreditando que a tecnologia poderá potenciar uma rota de crescimento mais sustentável, seja na vertente ambiental seja numa ótica de democratização no acesso a bens e serviços, assim como a oportunidades de emprego, será possível alavancar o desenvolvimento de territórios que até agora não reuniam condições de atratividade para os mais jovens.

As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.