Aproveitando a celebração do Dia Mundial da Água e em jeito de comemoração do seu 90º aniversário, os SIMAS – Serviços Intermunicipalizados de Água e Saneamento dos Municípios de Oeiras e Amadora organizam, no próximo dia 22 de Março, no Tagus Park (Oeiras), a primeira Water Summit. Nuno Campilho, director delegado dos SIMAS e presidente da comissão organizadora do evento, explica a pertinência do encontro e lamenta que seja preciso uma situação de calamidade para colocar a água na agenda política.
A temática da água está a ser devidamente abordada?
Não. A temática da água tem sido abordada, pontualmente, à medida das necessidades… Nem sequer é da agenda, pois não há uma agenda para a água. Agora, com a crise de falta de água, motivada pela seca extrema e severa que temos vivido, já é tema.
É o suficiente para colocar o tema na agenda política?
Só está na agenda, volto a frisar, por questões de necessidade, neste caso, de calamidade. Não há agenda para a água. Há políticas públicas, que decorrem das competências afectas ao ministério do Ambiente, mas que são prosseguidas em circuito fechado, num ambiente hermético, com pouco envolvimento das populações. Ainda assim, tenho de reconhecer algum esforço e mérito nos actuais responsáveis governativos da área para alterar esse estado de coisas.
“Naturalmente que a situação de seca em que vivemos monopoliza quase todas as abordagens que possamos fazer a esta temática, com especial incidência na necessidade de garantir novas e/ou alternativas origens de água para consumo humano, de forma económica e ambientalmente sustentável”.
Na sua opinião, a nível nacional, qual é a situação mais urgente?
Naturalmente que a situação de seca em que vivemos monopoliza quase todas as abordagens que possamos fazer a esta temática, com especial incidência na necessidade de garantir novas e/ou alternativas origens de água para consumo humano, de forma económica e ambientalmente sustentável.
Ao nível municipal/regional, qual deverá ser o papel das entidades gestoras nesta abordagem?
Há duas responsabilidades imediatas e evidentes que devem perpassar toda a gestão de uma entidade como a nossa: abastecer água de qualidade e combater o seu desperdício. Isto passa por garantir os investimentos adequados e necessários à manutenção do estado de conservação da rede em perfeitas condições – para além de asseverar, com toda a confiança, a qualidade da água que é servida – e desenvolver campanhas e programas de educação ambiental, que foquem as pessoas no uso racional da água e que as levem a adquirir, repetir e replicar comportamentos que sejam, a todos os títulos, irrepreensíveis, na preservação deste bem essencial e de primeira necessidade.
No caso particular dos SIMAS, celebrando 90 anos de experiência, como tem sido a evolução do vosso posicionamento face à realidade nacional?
Os SIMAS são reconhecidos, entre os seus pares, como uma das maiores e melhores entidades gestoras do país, em função da sua dimensão, cobertura e qualidade de serviço, mas, também, em função da competência, do know-how e das boas práticas que nos orgulhamos de seguir. Somos protagonistas assertivos e, ao mesmo tempo, parceiros interessados, contribuindo, com a sua acção [dos SIMAS], não só para manter e assegurar um serviço de excelência aos seus cidadãos, como, também, contribuindo para a evolução e constante melhoria do sector, colocando o seu conhecimento ao dispor da tutela e dos restantes players do sector. Até porque temos a noção de que, por vezes, o contrário também acontece.
Olhando para o futuro, quais serão as prioridades e orientações estratégicas com vista a uma gestão mais eficiente dos recursos?
Melhorar a performance e os indicadores ao nível da água não facturada (perdas de água). O combate ao desperdício é uma bandeira que nunca poderemos fraudar. Por isso – e, novamente, por causa da crise de falta de água –, tem de se apostar, séria e definitivamente, na garantia de captações alternativas de água, seja através da dessalinização, seja através da reciclagem de água e do seu reaproveitamento, após tratamento, com origem nas águas residuais e pluviais. Isto são questões de impacto, directamente, local, mas também importa destacar a necessidade de rever o Plano Nacional da Água e o Programa Nacional para o Uso Eficiente da Água. Assim sempre se evita o célebre “eu avisei…”.
Vão organizar o Water Summit 2018, quais os principais destaques do evento e que contributo espera que este traga ao sector?
Trata-se de um encontro sobre a gestão da Água, nas suas mais diversas vertentes de presença na sociedade global, acolhendo, para o efeito, prestigiados oradores portugueses e um norte-americano, para discussão da temática de forma séria, profunda, mas, ao mesmo tempo, com uma abordagem inovadora e desprendida de conceitos demasiado herméticos que não estão ao alcance e vislumbre de todos. Escolhemos o Dia Mundial da Água para a sua concretização pelo seu carácter emblemático e pretendemos que este seja o primeiro de muitos encontros com este figurino, procurando marcar a agenda dos anos vindouros, consagrada na abordagem conceptual disruptiva, dinâmica e inovadora que esteve na base da criação da marca Water Summit. É, por isso, um encontro que procura debater da sociedade para a sociedade, onde a heterogeneidade dos oradores, pretende combinar com a heterogeneidade dos participantes. Falar sobre água para todos, porque todos somos água!