A mobilidade eléctrica é uma das apostas de Lisboa rumo à meta da neutralidade carbónica. Em entrevista à Smart Cities, a propósito do tema de capa da edição nº 40, a Directora Municipal de Mobilidade da Câmara Municipal, Ana Raimundo, revelou as prioridades do município nesta área e lamentou a lentidão no licenciamento dos postos de carregamento de veículos eléctricos. Uma demora a que a autarquia é alheia, sublinha a responsável, já que que as câmaras municipais não são responsáveis pela instalação ou gestão da infraestrutura.

Ana Raimundo adiantou também que não está prevista a reactivação do programa municipal de incentivos à compra de bicicletas (actualmente suspenso), mas lembrou que na capital há outros projectos de incentivo à mobilidade suave.

Sendo Lisboa uma das 100 cidades comprometidas em atingir a neutralidade carbónica em 2030, que importância assume a mobilidade eléctrica para este desígnio?

Do ponto de vista da descarbonização da mobilidade, a electrificação é uma componente relevante. Falamos de veículos de transporte individual (automóveis e bicicletas) mas também dos veículos de transporte coletivo e da logística e micrologística urbana, para além das questões ligadas à infraestrutura de carregamento.

Quais os principais projectos que a autarquia está a desenvolver (e pensa desenvolver no futuro) neste domínio?

Há várias dimensões de actuação em processo, destaco a aquisição de veículos eléctricos nas diversas frotas do Município e da CARRIS, a regulamentação da instalação de PVCE [Pontos de Carregamento de Veí­culos Eléctricos] e a reequação da configuração e dos critérios das ZER [Zonas de Emissões Reduzidas]. Outra área que estamos a pensar é a descarbonização da micrologística urbana.

Num evento no âmbito da Portugal Mobi Summit afirmou que “precisamos desesperadamente de ter carregadores o mais rápido possível”. Este é um dos principais desafios da autarquia em matéria de mobilidade eléctrica

Sim, sem dúvida, a densidade da infraestrutura de carregamento na via pública é um factor crítico para viabilizar o incremento da utilização de veículos eléctricos na cidade. O desafio prende-se com o facto do Município não instalar nem gerir os postos de carregamento, mas ter uma palavra a dizer sobre os critérios e condições técnicas, espaciais e paisagísticas que deverão estar subjacentes a essa instalação.

Ana Raimundo, Directora Municipal de Mobilidade da Câmara Municipal de Lisboa

O licenciamento dos postos de carregamento continua a ser um obstáculo ao acelerar da transição para a mobilidade eléctrica nas cidades portuguesas?

Nos moldes ad-hoc em que funciona, e falo no caso de Lisboa, sim, é um processo invariavelmente moroso que limita a expansão intensiva da infraestrutura de carregamento e logo o incremento da utilização de veículos eléctricos na cidade. Estamos a trabalhar para alterar esse cenário.

A autarquia admite a possibilidade de avançar com um programa de incentivos para a compra de veículos eléctricos? Há alguma novidade sobre o programa de aquisição à compra de bicicletas da autarquia, que se encontra suspenso?

Todos os projectos estão equacionados já que o desígnio final é cumprir as metas ambientais definidas até 2030 (compromisso do executivo camarário). Para já, não está prevista a reactivação do programa de apoio à aquisição de bicicletas contudo a autarquia  tem em desenvolvimento outros projectos que visam a promoção do uso da bicicleta, como o de empréstimo de bicicletas de carga para famílias com crianças que utilizem a bicicleta nas suas deslocações diárias ou os projectos da mobilidade escolar, como o Programa Municipal dos Comboios de Bicicleta, onde estamos a apostar fortemente na transição de comportamentos e no aumento da utilização da bicicleta em segurança.

A mobilidade eléctrica é uma parte importante para a descarbonização da cidade, mas não resolve outros problemas, como o congestionamento de tráfego ou a gestão do espaço público e estacionamento. Que medidas adicionais se devem tomar?

Sim, de facto a descarbonização (e também a despoluição) da mobilidade não são a panaceia para todos os desafios de mobilidade que a cidade enfrenta, teria de falar de muitas medidas em implementação ou equação, seria material para mais dez entrevistas, mas posso confirmar que esses problemas – do congestionamento e da gestão do espaço público e estacionamento são o foco da nossa actividade diária de gestão e planeamento.

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