A tecnologia tem vindo a mudar as nossas vidas e é, actualmente, a linguagem do nosso mundo. A velocidade com que temos assistido à inovação tem sido brutal e, se considerarmos que a revolução digital está apenas no início, podemos imaginar a importância que a tecnologia irá ter no futuro. Não saber programar é não saber a linguagem dos computadores, o que daqui a uns anos será o equivalente a ser analfabeto. Na génese, saber programar é saber resolver problemas, é saber encontrar soluções.

Os sistemas de educação devem, assim, iniciar um processo de transformação de forma a suprir as novas necessidades dos empregos dos dias de hoje. Só em Portugal, assistimos a taxas de desemprego de mais de 30% em jovens até 24 anos, e, por outro lado, existem 10 mil postos de trabalho por preencher na área das tecnologias de informação. Até 2020, a Comissão Europeia estima que só na União Europeia existam 900 mil empregos por preencher na mesma área. Em termos globais, este número atinge os 4,5 milhões de profissionais necessários. É o chamado “GAP de competências”.Até aqui, o foco dos sistemas de educação estava na utilização da tecnologia. Nos últimos anos, alguns países iniciaram uma profunda alteração com a introdução da programação. De meros consumidores, os mais jovens passam a criadores de tecnologia. É aqui que entra a criatividade e a iniciativa, que, uns anos mais tarde, resulta em empreendedorismo e inovação. É por isso que muitos países consideraram estratégico para a sua competitividade futura a introdução da programação nos currículos nacionais. E o objectivo não é que todos sejam programadores, mas sim que todos tenham uma competência necessária e transversal a qualquer sector de atividade.

Israel foi percursor no ensino da programação quando, em 2000, decidiu implementar a disciplina nas escolas públicas, atualizando o currículo do ensino secundário. Noções básicas de algoritmia, circuitos lógicos, programação orientada a objetos e árvores binárias fazem parte do programa curricular das crianças sul-coreanas a partir dos 12 anos, desde 2013. Seguiram-se Nova Zelândia, Austrália, Alemanha, Estónia e Reino Unido, onde o ensino de programação se propôs a abranger todo o ensino primário, básico e secundário. Em menos de um ano, alunos dos seis ao 16 anos de idade regressaram às aulas para encontrar um currículo único no mundo.

No próximo ano, será a Finlândia.Em Portugal, a Academia de Código Júnior iniciou, em Janeiro de 2015, uma parceria com a Fundação Calouste Gulbenkian, a Câmara Municipal de Lisboa e a Universidade de Aveiro, para introduzir em três turmas do 4º ano do ensino público do município de Lisboa aulas de programação, num projeto piloto único no país. Ao mesmo tempo, quatro escolas de ensino privado da Grande Lisboa arriscaram espreitar o futuro e já incluem as aulas no seu ensino curricular, em alguns casos do 1º ao 4º do ensino primário, enquanto um dos colégios já oferece programação como atividade extracurricular. A Academia de Código Júnior nasce com o propósito claro de vincar a importância da literacia digital desde cedo. Não para que todos sejam programadores, é certo, mas para que todos possam encarar o futuro com as ferramentas que ele mesmo pede.