Evitar filas para comprar ou recarregar títulos de transporte já é uma realidade em muitas cidades do mundo, graças às soluções de tecnologia contactless – como cartões de crédito ou dispositivos móveis. Paulo Raposo, country manager da MasterCard Portugal, aponta Londres como um exemplo de sucesso e não descarta a hipótese de criação de uma parceria com um município português para a implementação de um projecto semelhante.

 

A mobilidade é apontada como uma área chave para qualquer cidade. Como é que MasterCard tem aproveitado as soluções de tecnologia contactless para introduzir melhorias a este nível?

O sector dos transportes é importante na forma como os cidadãos fluem dentro das cidades e a MasterCard tem olhado para isso com muita atenção. O último projecto mais notado foi o que levamos a cabo em Madrid, juntamente com os serviços municipais de transportes da cidade e com o banco Santander. Mas, na realidade, isto já vem no seguimento de uma operação feita em Londres, com o TFL [Transport for London], e na sequência de outros projectos que têm existido em todo o mundo, nomeadamente nos Estados Unidos e também na Ásia, onde o objectivo da MasterCard é expor as valências e a capacidade que o contactless hoje nos oferece nas suas diferentes formas. Não estamos só a falar de cartões, mas também de dispositivos, nomeadamente smartphones, que permitem que os cidadãos possam comprar bilhetes de uma forma fácil, eficaz, rápida e segura. A isto acresce a facilidade e as vantagens que se criam para a própria empresa de transportes, uma vez que se torna muito mais fácil a manipulação de todos os fluxos financeiros que se geram com a bilhética dos transportes. No caso concreto de Londres, nos autocarros, por exemplo, já não se consegue sequer pagar um bilhete com libras esterlinas: ou se usa o famoso Oyster – a solução que foi desenvolvida para os transportes de Londres – ou se usa o cartão contactless Mastercard ou Maestro.

Mas existem vantagens em utilizar cartões com tecnlologia contactless em vez do Oyster…

Existem, mais que não seja a vantagem de não ter de fazer uma fila para pagar ou para carregar o título de transporte. O que se pretende hoje, especialmente numa cidade muito movimentada como Londres, é que os cidadãos não tenham de fazer fila e que possam usar o cartão com que pagam as suas compras para entrarem, directamente, no metro, nos autocarros ou nos comboios e que o possam fazer de forma vantajosa. A tarifa que é utilizada é sempre a melhor que está disponível na hora em que o cidadão entra dentro do sistema de transportes.

Este tipo de soluções é facilmente replicável em Portugal?

Há procura, mas este tem de ser um trabalho de consciencialização que não pode ser feito de uma forma casual, a falar com a empresa A ou B. Um projecto desta natureza tem de ser visto da mesma forma que o de Londres, que contou com o alto patrocínio do mayor da cidade. Esse foi um compromisso fundamental para que os transportes adoptassem a tecnologia porque havia uma necessidade objectiva de facilitar o fluxo de pessoas que andam nos transportes públicos e de evitar que estas tenham de ir a um ponto de carregamento ou de usar múltiplos cartões. Tudo isto tem de fazer sentido do ponto de vista da mobilidade e para as empresas em termos de gestão do cash. Um dos objectivos de qualquer tipo de operação desta natureza é ter um sistema de transportes que não usa dinheiro, excluindo riscos do ponto de vista de assaltos e em termos de gestão do cash – não há perdas de dinheiro e o autocarro não tem de parar para fazer a caixa. Isto são vantagens que fazem sentido quando se multiplicam numa rede de transportes de várias centenas – se não mesmo milhares – de autocarros ou de alguns milhões de passageiros por dia ou por semana.

Têm em vista uma possível parceria com algum município português, à semelhança do que aconteceu em Londres?

As oportunidades estão todas em cima da mesa, as câmaras municipais são extremamente sensíveis a este tema, bem como a secretaria de Estado dos Transportes. Nos diferentes contactos que temos com estas entidades, este é um tema importante que é discutido e que vai para lá do negócio. Na prática, todo o benefício deste projecto é sempre a pensar em facilitar a mobilidade dos cidadãos, o acesso dos turistas aos transportes públicos e optimizar os fluxos com as empresas que operam neste sector. Isto só faz sentido se tiver interesse para toda a gente e para as empresas de transportes públicos.

Que condições urgem ser criadas para uma massificação destas soluções?

Talvez a principal barreira seja tecnológica, a de ver até que ponto os interfaces que existem hoje no sistema, nomeadamente em Portugal, já estão adaptados à tecnologia contactless com cartões. Mas penso que o projecto tem méritos suficientes, do ponto de vista dos seus maiores objectivos, para ultrapassar essas barreiras que, eventualmente, se venham a pôr. Não são tanto barreiras do ponto de vista da empresa A ou B, mas sim de adaptação dos leitores, dos interfaces, e depois, eventualmente, a questão de como se calculam as tarifas. Mas isso é uma questão de trabalho, que será integrada, no caso das entidades avançarem para um projecto pensado e reflectido desta natureza.

Qual a visão da MasterCard em relação às sociedades cashless?

A MasterCard acredita que uma sociedade mais desenvolvida é uma sociedade sem cash – basta olharmos para os nórdicos que são, claramente, uma sociedade desenvolvida e os níveis de cash são bastante reduzidos. O nosso principal concorrente é o dinheiro: a nível mundial 85 % das transacções ainda são em cash, logo temos todo um caminho e um potencial enorme para continuar a trabalhar nessa área. Felizmente, Portugal, comparativamente com a média mundial, está um bocadinho melhor, mas penso que ainda há muito para aprender, há muito cash para retirar do sistema. O nosso objectivo é que os cidadãos consigam aceder ao mecanismo de pagamento com a maior das facilidades e todo este trabalho só se consegue se melhorarmos a sua experiência de consumo. O acto de pagar tem de ser fácil, seguro, tem de dar controlo ao cidadão e tem de estar incluído dentro dessa experiência, daí a importância das carteiras digitais, da Internet das Coisas. Nesse sentido, colaboramos com empresas de electrónica, incorporando a funcionalidade de pagamento dentro da solução, como é o caso da Samsung. Daí também o nosso trabalho, por exemplo, com cadeias de restaurantes para que o consumidor possa chegar ao restaurante, indicar um número, sentar-se, receber a sua comida e depois possa pagar, pura e simplesmente, fazendo o check out directo numa aplicação. Temos consciência que é complicado, mas penso que é alcançável ter uma sociedade sem cash.

Quais são as vantagens mais evidentes?

Tirando o cash do sistema nós estamos, por um lado, a melhorar o Produto Interno Bruto da sociedade e, por outro, estamos a dar um contributo mais decisivo e muito sólido para combater, por exemplo, a evasão fiscal, que é um dos problemas que a generalidade das cidades têm.