Já pensou na possibilidade de viver numa cidade inteligente, com estruturas aptas a captar e analisar informação relevante dos mais variados serviços, com a utilização da tecnologia Big Data, e, assim, tomar decisões de gestão em tempo real? Ora, é exatamente isso que a evolução tecnológica coloca ao dispor dos responsáveis municipais.
Mais de metade da população mundial vive em cidades, que são, afinal, o grande polo de desenvolvimento económico, social e cultural. Ao longo dos séculos, estes foram pontos de confluências de pessoas que procuravam melhores condições de vida, cientes da estagnação que tantas vezes sentiam nas regiões mais rurais. No entanto, esse crescente de sofisticação teve consequências para o planeta. O bem-estar levou ao aumento dos índices de poluição. Índices, esses, que ultrapassaram há muito os limites suportados pelo ecossistema.
Cabe agora adotarmos novos hábitos. Tal não significa o abandono das cidades, mas, antes, colocar em prática uma estratégia que não coloque em causa o papel das urbes para a civilização, mas que também não coloque em causa a própria civilização.
Para criar cidades habitáveis sustentáveis, é fundamental abordar um conjunto transversal de soluções, desde a gestão de resíduos à economia circular, mas também alargar a mobilidade elétrica e partilhada, melhorar as infraestruturas, incrementar uma rede de transporte resilientes, revitalizar o espaço urbano de forma eficiente e aumentar as áreas verdes.
Monitorizar e aplicar o Big Data na gestão urbana
Nesse sentido, são desenvolvidos cada vez mais modelos de implementação de soluções tecnológicas. É o caso da sensorização e monitorização em tempo real dos principais serviços urbanos, fundamentais para qualquer cidade que se queira assumir como de vanguarda e comprometida com um comportamento que se deseja mais “verde”.
A cidade de Toro, na província espanhola de Zamora, é um caso paradigmático e perfeitamente adaptável a qualquer pequena cidade portuguesa, com uma população a rondar os não mais de 10 mil habitantes. Neste caso, o sistema de sensorização é composto por 200 sensores sem fios de baixa potência, ligados a uma rede que recolhe dados em tempo real da iluminação urbana, do ciclo integral da água, da recolha de lixo e dos veículos de gestão municipal de parques e jardins e manutenção urbana.
Deste exemplo concreto, se partirmos para o todo, verifica-se que há um conjunto de soluções críticas para uma gestão de grandes cidades. Seja em Lisboa, seja no Porto, ou em qualquer uma das capitais distritais, a tecnologia assume um papel fundamental nas grandes urbes, onde a complexidade de serviços e exigências por parte dos munícipes não se compadece com quaisquer constrangimentos.
Tal verifica-se na iluminação, numa cidade inteligente é possível determinar a necessidade de acender as luzes da rua, isto através de um ajuste à luminosidade – e não depende apenas da hora do dia, mas também das condições meteorológicas. Também no que concerne à gestão do lixo e reciclagem, pode determinar-se dinamicamente as rotas de recolha de lixo, o que evita a acumulação de resíduos e odores, mas também a definição de caminhos desnecessários, com poupanças ao nível de emissões de CO2 e custos operacionais. Acrescem vantagens na circulação de veículos de serviço urbano e jardinagem, com a monitorização da sua posição para minimizar o tempo de resposta em caso de incidentes e otimizar as rotas.
Por fim, é crucial aumentar a qualidade do serviço oferecido na gestão da água, com mais e melhores informações referentes aos contadores de água, para além dos sensores ad hoc. São evidentes as vantagens para o ambiente, com a redução das perdas de água, mas também para a economia, ao evitar problemas quanto a uma excessiva faturação aos munícipes, devido a fugas não detetadas.
As tecnologias digitais podem agora tornar os serviços municipais mais conectados, mais eficientes e menos caros, e, assim, poupar muito dinheiro para os residentes. Quando alimentados por energia renovável, as operações dos serviços municipais (desde a iluminação pública e redes de água até aquecimento e iluminação de prédios públicos) podem tornar todos esses serviços muito mais sustentáveis. Também por isso, um número crescente de municípios à escala global está a desenvolver parcerias com fornecedores de energia renovável, com objetivos de cariz económico, com a diminuição de custos de eletricidade, mas também no sentido de reduzir as suas pegadas de carbono – um poderoso contributo para a descarbonização do planeta.
É fundamental colocar a tecnologia ao serviço das pessoas. Os desafios acima descritos, mas também muitos outros, relacionados com valências tão amplas como os transportes públicos, edifícios ou gestão de resíduos, apenas podem ser verdadeiramente respondidos através de uma conetividade que transforme as cidades em espaços de bem-estar verdadeiramente produtivos e habitáveis. A necessidade premente de equipar as cidades com os meios necessários para enfrentar as mudanças climáticas e a concentração urbana obriga a que aqueles que têm know-how para tal projetem serviços urbanos verdadeiramente sustentáveis.
As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.