Ultimamente, as trotinetas elétricas de uso partilhado têm estado no centro das atenções, motivando reações mais ou menos inflamadas pela forma como, subitamente, invadiram a via pública.

De repente, aquela que até é uma forma inovadora de mobilidade autónoma, acessível, partilhada e não poluente é notícia por estar a tornar-se uma forma de mobilidade ainda em processo de autodescoberta, por vezes, em conflito com os restantes utilizadores do espaço público, sejam eles veículos, sejam eles peões.

O problema aqui é que o crescimento deste mercado foi tão rápido (no caso de Lisboa, há, pelo menos, cinco empresas de trotinetas elétricas a operar, cada uma com algumas centenas de veículos disponíveis, e mais umas tantas interessadas) que, subitamente, começámos a tropeçar perigosamente nestes novos veículos a cada esquina. E isto sem que tivessem sido definidas previamente regras quanto a aspetos fundamentais, tais como o seu enquadramento no código da estrada, os locais e formas de parqueamento dos veículos, os limites à sua circulação, os procedimentos de segurança, etc.

“Para se afirmarem como soluções de mobilidade inteligentes, não basta que as novas formas de mobilidade partilhada estejam à distância de um clique a partir da aplicação móvel no smartphone. É preciso que o espaço público e quem nele circula estejam também preparados para as receber”.

Num contexto em que a maioria dos condutores (de automóveis, bicicletas ou trotinetas) não tem ainda uma visão inclusiva e tolerante desta “plasticidade” na mobilidade urbana, dar luz verde à criação de novos serviços sem regras bem definidas não é a melhor forma de tornar essa coexistência mais harmoniosa.

É necessário ter também noção de que as mudanças não acontecem de um dia para o outro só porque são criadas infraestruturas e condições vantajosas de acesso aos novos serviços. É preciso reeducar a mentalidade de todos os que utilizam o espaço público. Não basta colocar novos veículos alternativos a deslizar pelo asfalto çask es utilizadores do espaço poexistinidas n forma de com regras do crsos serviços existentes.

De parte a parte, requer-se um esforço de cedência e aprendizagem: tanto do condutor, por vezes, impaciente no seu automóvel, como do utilizador, destemido, que serpenteia o trânsito a pedalar ou em cima de uma trotineta.

As novas formas de mobilidade partilhada têm toda a legitimidade para ganhar terreno nas nossas cidades. Mas, para se afirmarem como soluções de mobilidade inteligentes, não basta que estejam à distância de um clique a partir da aplicação móvel no smartphone. É preciso que o espaço público e quem nele circula estejam também preparados para as receber.

As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.