O petróleo e o ouro ajudam a fazer riqueza. Todavia, há países pobres com muitos recursos naturais e outros que, sem riqueza no subsolo, têm produtos, serviços e uma cultura de vida coletiva que garantem níveis muito elevados
de bem-estar. Isto porque o essencial é mesmo a inteligência.

Desde sempre. E, desde logo, a de cada um, o que implica reconhecer a centralidade de muita e boa educação e a correspondente aquisição de um leque de competências fundamentais e de conhecimento relevante, tanto geral, como específico. Por isso, é essencial olhar para a educação (sempre) como prioridade, e para a aprendizagem, com ambição, tanto mais que se sabe ser sempre possível ampliá-la e aprofundá-la. É necessário perceber-se que o essencial é a evolução, pelo que nos deve orgulhar tanto os que, com muito esforço, chegam à mediania, como os que, com menos esforço, são vistos como os mais capazes, quer se fale de pessoas, quer se fale de instituições ou territórios.

“Precisamos também, em especial no caso português, de identificar os níveis mais adequados para políticas integradas e geograficamente específicas, para favorecer políticas de base especial que combinem inteligentemente diversos interesses e objetivos setoriais”.

Sendo essencial a aprendizagem individual, considera-se crescentemente importante, para todos e para cada um de nós, a inteligência coletiva, ou seja, a capacidade de valorizarmos, social e economicamente, a relação entre uns e outros, assim como a relação com um dado território, tendo em vista o reforço da capacidade de, com uma visão de futuro, promovermos uma vida melhor. Para tanto, importa necessariamente considerar que, além dos conhecimentos e capacidades individuais e gerais, importantes tanto para cada um de nós, como à escala mundial, há um valor específico em cada território que se repercute na relação que temos com o nosso espaço de vida. Nesta medida, um futuro melhor não decorre apenas de “fazer bem, tal como os outros”, numa política fit-for-all (pronto-a-vestir), muito pouco smart, que ainda vai dominando os discursos científicos e políticos (assim como as práticas) à escala mundial ou nacional e até no âmbito regional e local. Governança territorial, precisa-se, pois. Muito!

Precisamos também, em especial no caso português, de identificar os níveis mais adequados para políticas integradas e geograficamente específicas, para favorecer políticas de base especial que combinem inteligentemente diversos interesses e objetivos setoriais. Precisamos, por isso, de uma política “feita à medida”, com total transparência, mais e melhor envolvimento de instituições e cidadãos, combinando níveis e escalas, garantindo uma acrescida eficiência pela capacidade de aproveitarmos sinergias.

Neste esforço, como em pequenas-grandes intervenções que simplificam a vida do nosso dia-a-dia, o recurso à tecnologia e à inovação é obviamente fundamental, desde logo para o acesso à informação (a que conseguimos aceder em quantidade e qualidade crescente), para o seu tratamento (que deve ser capaz de reter o essencial, designadamente através de formas cada vez mais sofisticadas a legíveis de mapeamento) e da sua utilização a bem da comunidade. Em contexto urbano, à associação da inovação – suportada, sobretudo, em soluções tecnologicamente avançadas – com o desenvolvimento, está ligado o conceito de smart cities (cidades inteligentes).

Todavia, ser smart não pode restringir-se ao bom recurso à tecnologia e inovação, tampouco às cidades, sendo certo que a tecnologia e a inovação ajudam e que é nas cidades, ou, talvez melhor, nos espaços urbanos expandidos em que estas se transformaram, multicêntricos e fragmentados, nos quais vivem cada vez mais portugueses e cidadãos do mundo, que se tornam mais importantes. Mas todos os espaços necessitam de políticas e soluções inteligentes, adaptadas às circunstâncias geográficas e culturais de lugares diferentes das grandes concentrações de pessoas, atividades, qualidades e problemas, mas também diversos entre si.

Além disso, nas cidades, como noutros lugares, a tecnologia ajuda apenas se soubermos o que queremos fazer com ela, se reconhecermos os problemas, os desafios e as nossas potencialidades, considerando o futuro que queiramos e formos capazes de construir coletivamente. De resto, se muitas vezes a inovação e a sofisticação tecnológica nos ajudam, em muitos casos, apenas se pede o recurso mais adequado a um contexto, podendo a mobilização de velhas soluções ser tão ou mais inteligente do que a inovação. Mais geografia e mais (e melhor) política, precisam-se. Com inteligência, individual e coletiva!

 

 

 

As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.