No meio de tantos rankings e tops, muitas vezes, ofuscamo-nos apenas com os positivos e tendemos a desviar o olhar dos menos bons. É um dos problemas que as smart cities ainda não conseguem digerir completamente, mas nem mesmo os países, empresas e até nós mesmos enquanto indivíduos conseguimos fazê-lo.

Um dos tops mais recentes foi publicado em Julho e refere-se aos índices de Inovação. Não vou aprofundar muito os resultados, mas a conclusão mais visível é que existe um declínio em 17 dos 28 estados-membros da UE que continua atrás dos seus competidores globais. A Suíça, não sendo estado-membro, é ainda assim o país que lidera na Europa, seguindo-se a Suécia. O velho continente” está a ficar para trás relativamente aos seus competidos globais (Coreia do Sul, EUA, Japão e China), que continuam a crescer e a distanciar-se em todos os índices de inovação, que incluem áreas como financiamento de inovação, investimentos em negócios, número de empregados altamente qualificados, exportações e vendas em tecnologias de ponta e o uso de propriedade intelectual.

Qual a razão para que esta situação, que, diga-se, não vem de agora, continue a agravar-se? Dizem os responsáveis europeus que é necessário simplificar o IVA, adaptar as regras de insolvências, tornar a informação sobre a regulação europeia mais acessível e trabalhar num simples e amigável sistema de propriedade intelectual para as PME. Sim, todas estas medidas podem contribuir, contudo, existem outros fatores que o senso comum pode explicar de forma abusiva e simplista, mas que demonstra o défice de políticas para o desenvolvimento de verdadeiros ecossistemas para a inovação.

Em primeiro lugar, desburocratizar! É elevado o número de investigadores, inovadores e empreendedores (empresas e universidades) que não consegue libertar-se da quantidade de formulários e relatórios exigidos pelos programas de financiamento.

Em segundo lugar, apostar a sério na criatividade! E criatividade não são concursos de ideias, nem concursos de startups que em praticamente todos os casos origina duplicação de soluções já existentes, suplantando-as com injeções de financiamentos e integração em bouquets de ofertas massificados e apoiados pelo marketing gigante das grandes corporações. É quase um “2 em 1” de falhas nos processos de inovação. Grandes empresas, cidades, entidades governamentais e não governamentais, a abarrotar de gestores de projeto, economistas, contabilistas e mecânicas de comunicação que enfatizam o parecer ao ser, cilindram o verdadeiro ecossistema criativo e inovador, promovendo em muitos casos a cópia e a imitação.

Inovar na ciência, na economia, na sociedade, nas artes, é um ato de contrição. É um sofrimento atroz pois implica, na maior parte das vezes, incompreensão, frustração e sacrifício. Os mártires da criatividade e inovação nunca (ou raramente) serão os porta-estandartes na Europa, porque o sistema não está preparado para responder à mudança, nem tão pouco tem orgulho de quem afronta o “statu quo”, como ocorre por exemplo nos EUA, onde muitos dos casos de sucesso apregoados são também muitos casos de insucessos acumulados em si mesmos.

Não importa em que lugar da Europa vai nascer o próximo Silicon Valley, ou qual a cidade que mais startups atrai, ou qualquer outro ranking que enfatiza mais do que se é. O ambiente europeu não é favorável aos visionários e aos autênticos empreendedores e inovadores. E, talvez por isso, também as smart cities europeias avancem num ritmo cada vez mais desarticulado com o resto do mundo exceto, claro, aquelas que são hoje as exceções porque na loucura da sua disrruptividade extemporânea se destacaram e fizeram a diferença. Hoje, décadas depois, são admiradas por todos. E imitadas.