Vítor Pereira foi, a 25 de Abril, distinguido com o prémio internacional People’s Choice Award, atribuído pelo Internet of Things World Series. O co-fundador e director do evento ZOOM Smart Cities é um dos portugueses que mais se tem destacado na arena da inteligência urbana mundial e é, por isso, uma das vozes a escutar nesta matéria. À Smart Cities, Vítor Pereira reagiu à vitória, comentou o “estado da arte” nacional e despertou a curiosidade para o futuro.

 

O que significa este prémio para si?

Representa algum reconhecimento do que tem sido feito na disseminação de informação e pensamento próprio desde há vários anos a esta data. Há a ideia de que a temática das smart cities é recente e que, a cada ano, se descobre a roda mil vezes, mas não. Tenho já memória de quase todos os eventos em que participei e de inúmeras apresentações, associações, redes, inovações, buzzwords, etc. Falar de smart cities hoje é um risco, muitos pensam que é um supermercado para venda de produtos e serviços, sobretudo, nas áreas tecnológicas, outros acham até insultuoso, pois ninguém quer parecer “estúpido” na foto. E ser smart city dá a ideia de que há outras cidades que não são. A verdade é que há cidades que estão a fazer muitas coisas estúpidas hoje e em dia e algumas destas, usam e abusam, inclusive, da etiqueta “smart”. Ter coragem de definir uma estratégia que vá contra as modas, assumir riscos, romper com as teias de influências que se tentam gerar e apostar na criatividade e diferenciação é o que me faz mover e é, por isso, que este reconhecimento talvez surja. Isto apanha-me no meio do lançamento de alguns projectos que serão revelados a seu tempo, mas que correspondem à essência do que muitos têm vindo a construir em Portugal e no mundo. Este prémio é também dessas pessoas que têm feito imenso, e algumas sem o saber, outras incompreendidas nas suas próprias cidades e no tempo.

 As smart cities são uma visão do presente ou do futuro?

Todos falam no futuro e, de resto, o lema do ZOOM é “amar o futuro”. Também me interessa o futuro, como é óbvio. Também é verdade que sou defensor acérrimo da inclusão de novas tecnologias nas cidades, sou adepto de inovação e disrupção e, naturalmente, compreendo todo o ecossistema corporativo e de start-ups e outras movimentações que têm modelos de negócios baseados nas smart cities. Não me escandalizo nem entro na guerra humano vs. tecnologia. Não há um humano no planeta, hoje, que não precise de tecnologia, portanto, abordar as smart cities pelo lado fundamentalista não é adequado. Mas a verdade é que existe muita falta de planeamento estratégico e muito folclore à volta deste tema (e de outros). Lançar projectos requer coragem e determinação. Mas requer, sobretudo, liderança e respeito.

 

“Um dos problemas com que nos deparamos hoje nas smart cities tem a ver com a comunicação. Muitos projectos parecem nascer com objectivos (e resultados) diferentes dos anunciados. Há muito ruído e mensagens dispersas”.

Referiu que há projectos para lançar. O que nos pode adiantar?

O ZOOM Smart Cities nasceu como evento, mas vai, em breve, tornar-se global, cumprindo aquilo que é o espírito que está na sua génese: partilha, valores de ética e moral, aprendizagem e transparência.

Olhando para o percurso que Portugal tem seguido, como vê a evolução do sector?

Numa palavra: devolução. Como tenho dito, um dos problemas com que nos deparamos hoje nas smart cities tem a ver com a comunicação. Muitos projectos parecem nascer com objectivos (e resultados) diferentes dos anunciados. Há muito ruído e mensagens dispersas. Continuo a achar que, mais do que envolver, quem gere cidades deve devolver. As cidades não se tornam inteligentes do dia para a noite, nem porque visitam ou participam em feiras ou eventos. Elas já são inteligentes por natureza e, algumas, há muitos anos, séculos até. Mas há líderes que, na ânsia de exibir rótulos e etiquetas, acabam por demonstrar que há opções, dentro do ‘selo smart’ que têm precisamente o efeito inverso.

Como se pode contrariar essa tendência?

Quem está a programar a estratégia de smart city tem de ser informado, mais do que formado. Tem de ver, mais do que mostrar. Tem de ouvir, mais do que falar. Tem de criar, mais do que assemblar. Felizmente, há algumas cidades e vilas em Portugal que têm liderança e reais objectivos de progresso e prosperidade para as suas comunidades. No final, todos conseguirão perceber a diferença.