De 28 de Maio a 27 de Novembro, Veneza é palco de mais uma Bienal. Mário Caeiro, investigador e docente na ESAD.cr, esteve na 15ª Exposição Internacional de Arquitectura e, nos próximos meses, levar-nos-á numa visita guiada exclusiva por esta mostra.
Para a representação do Reino Unido na Bienal, uma ‘frente’ decisiva é… o lar. ‘Home Economics’ reflecte de forma pedagógica sobre a arquitectura das nossas casas. Questionando a realidade material da vida doméstica, os organizadores sublinham que se trata da primeira exposição sobre arquitectura cujo conceito curatorial se desenvolveu a partir de uma vivência prolongada do espaço do lar. Explorando alternativas à arquitectura convencional, a proposta desafia ideias feitas, questionando modelos de financiamento, categorias de propriedade, formas de vida, tipologias de relações sociais e de género. O princípio enunciado é claro: em habitação não pode haver metáforas. Cada núcleo do pavilhão é dedicado a uma escala temporal: as Horas, os Dias, os Meses, os Anos e Décadas. No núcleo expositivo ‘Days – Home is where the wi-fi is’, por exemplo, somos convidados a interiorizar uma série de factos: percorremos, em viagem, distâncias cada vez maiores, no entanto vivemos num círculo de referências cada vez mais apertado…
Chipre, por sua vez, reflecte sobre as formas de promover territórios em comum quando a situação é de tensão e conflito entre nações, etnias ou interesses. A exposição ‘Contested Fronts’ funciona como caso de estudo open source, em que práticas arquitecturais ad-hoc são colocadas a par dos habituais processos de reconstrução urbana, precisamente onde esta é mais difícil e morosa. Através de um website interactivo tanto o público em geral como os cipriotas são chamados a dar o seu contributo para entender e quiçá ajudar a resolver a actual situação em Famagusta. Este apelo à participação digital não retira o real protagonismo a quem tem as ferramentas técnicas e propriamente urbanísticas adequadas para levar a intervenção a existir como projecto: os arquitectos. Mas a partir de um apartamento alugado em Veneza (o espaço habitual do país) é promovido um novo imaginário para a transformação urbana, nesse Chipre ‘eternamente’ envolvido num complexo processo de unificação.
Quanto à Eslovénia, no seu espaço no Arsenale, esta propõe… uma biblioteca. Tirando partido da luz exterior para criar uma envolvente experiência de domesticidade, o espaço esloveno funciona como biblioteca pública habitável. Desenhada para estimular o agenciamento visual de quem passa. Uma vez lá dentro, o que sentimos é a possibilidade de nos sentirmos… ‘em casa’, confortavelmente rodeados de livros sobre… a casa e o lar. Este encontro entre espaço e livros simboliza a importância de uma vida com sentido. De onde, para os curadores, e no espírito do Pavilhão Britânico, home is where the library is.
Em idêntico registo de adequação entre meios relativamente escassos e a clareza da proposta, outra encenação particularmente feliz é a do pavilhão do Chile. ‘Against the Tide’ apresenta projectos de jovens arquitectos chilenos: uma filigrana de lugares onde camponeses e as suas famílias podem começar um novo ciclo de vida, melhor e mais digno. A abordagem traduz-se num ‘jardim interior’ de maquetas, em que são apresentadas uma série de pavilhões, miradouros e espaços de encontro. Em parte como no Pavilhão Nórdico (Finlândia, Noruega e Suécia), onde quase nada acontece a não ser o espaço tornar-se genuinamente público, o Chile, recorrendo a iluminação e a materiais bem mais sensuais, fala de coisas muito sérias num registo elegantemente… pastoral.
Foto: ©15TH INTERNATIONAL ARCHITECTURE EXHIBITION: Simon Velez – Temple Without Religion