Na última sexta-feira, o município de Lisboa apresentou oficialmente a plataforma de gestão inteligente que irá servir de base ao Centro Operacional Integrado (COI) da capital. Desenvolvida pela NEC Portugal, a solução vai reunir dados de mais de 40 entidades, internas e externas à câmara municipal, permitindo a coordenação em tempo real dos vários serviços da cidade. Em entrevista à Smart Cities, Jorge Máximo, vereador para os Sistemas de Informação e Relação com o Munícipe de Lisboa, revela pormenores do novo sistema e quais as intenções do município para o COI.

Lisboa vai ter uma plataforma de gestão inteligente integrada. O que significa para a cidade?

É o arranque de uma mudança. A transformação digital, hoje, é algo muito complexo. É ter uma visão global da cidade e focar-nos na criação de novas soluções e respostas rápidas para os desafios da cidade, que são muitos. Com esta plataforma, estão dados os passos para arrancarmos com uma mudança global da arquitectura e da forma como vemos a informação na gestão do município. A informação é, hoje, um petróleo fantástico. É um novo dado que permite criar novas formas de governação.

Como é que isso vai acontecer?

Vamos integrar todos os serviços e não só os serviços municipais, mas vamos integrar a cidade e isso vai dar-nos novas oportunidades. Vai permitir-nos entrar numa nova era de sensorização, de ouvir a cidade de uma forma mecânica e automática. Vai permitir-nos o planeamento e a analítica para a gestão de ocorrências e [capacidade de] ter uma acção mais rápida em caso de emergência, mas vai também facilitar a abertura de dados para estimular a inovação e, acima de tudo, criarmos e posicionarmos Lisboa na era das cidades inteligentes, através de uma nova dimensão: utilizar a informação e as tecnologias de informação como fontes para o modelo de governação da cidade.

Há receios em relação a questões de privacidade e cibersegurança dos cidadãos?

Na era do digital, há sempre esses riscos. Nós vamos ter essa preocupação. É um have-to-have, uma obrigação. Vamos cumprir a lei e as recomendações que são advogadas em todos os caminhos. Naturalmente, há situações que a plataforma permite fazer, mas com as quais não iremos avançar, porque legalmente ainda não estão salvaguardadas. Não nos podemos esquecer de que está uma nova directiva para a protecção de dados em discussão e para implementação em 2018. Tudo isso vai mudar nas cidades, o Big Data é uma realidade, a IoT [Internet of Things] é uma realidade e não podemos fugir desse caminho. Mas há que fazê-lo em segurança, com prudência, cumprindo a lei e as boas recomendações.

 

” Com esta plataforma, estão dados os passos para arrancarmos com uma mudança global da arquitectura e da forma como vemos a informação na gestão do município”.

O que está a ser feito nesse sentido?

Somos o primeiro município a ter um protocolo com o Centro Nacional de Cibersegurança, é por isso que já estamos a preparar a implementação da directiva e é por isso que temos esta plataforma totalmente em conformidade. Estamos a tentar fazer as coisas by the book [conforme as regras].

Vão ter mais de 40 entidades envolvidas. Foi fácil conseguir a adesão?

Quando implementámos o projecto do COI e lançámos a política municipal de dados abertos, explicando o conceito, foi fácil ter logo uma grande adesão da cidade e isso é a grande motivação e penso que vai ser a grande força do COI. O COI está a ser aceite como uma grande oportunidade e, portanto, temos todo o tipo de entidades.

Quem vai estar envolvido?

Temos desde a área da mobilidade, como o Metropolitano, a Transtejo, a Carris, a EMEL, as operadoras de mobilidade, às operadoras na área do ambiente, utilities – EDP, Gás de Portugal –, todas essas entidades. [Temos] Os grandes stakeholders e que têm influência na cidade, portanto a área da mobilidade, do ambiente, da qualidade de vida, dos portos, da gestão quotidiana da cidade, dos sistemas científicos e este é um ecossistema que vai criando cada vez mais ramificações.

Qual foi o investimento feito nesta plataforma inteligente?

Foi um concurso público internacional muito complexo, muito escortinado em termos de caderno de encargos, mas o grande investimento do COI não é esta plataforma. O COI é uma transformação digital, a plataforma é a base. Esta plataforma vai custar ao município cerca de 1,2 milhões de euros mais IVA, porque foi o valor que foi conquistado e foi vencedor. Mas o COI é um investimento num sistema de sensorização da cidade. O COI é um investimento em nova tecnologia e aqui entram as redes e as parcerias. Mas isso tudo faz parte daquilo que é a construção de uma nova cidade.

Mas há alguma estimativa de valores?

Todos os serviços, todas as direcções municipais quando compram agora tecnologia, ou quando implementam os seus serviços, têm de ser compliants com o COI. Vamos mudar, por exemplo, os sistemas de iluminação pública. O investimento em iluminação pública é um investimento que já tinha de ser feito, só que agora é feito de uma forma compliant com o COI para que essa informação não fique no candeeiro e chegue a uma plataforma de gestão. Portanto, esta plataforma é o início do arranque de uma nova transformação digital no município.

Esses 1,2 milhões vêm do financiamento do projecto europeu Sharing Cities?

Não. É financiamento próprio, ainda que possa ser considerado afecto ao projecto, porque a equipa que montou o Sharing Cities é uma equipa que nasce com o COI. A filosofia é a mesma, só que o Sharing Cities é muito sectorial e o COI é transversal. Muito do investimento que é feito no COI deixa de ser necessário ser feito porque o COI existe e o Sharing Cities pode comparticipar estes investimentos.

Quando poderemos ver o COI em acção?

Daqui a seis meses é a instalação, programação e conectividade. Nessa altura, haverá resultados do COI visíveis. Já há a política de dados abertos, é hoje um benchmark, mas, de qualquer das formas, isso ao pé do COI é muito pouco. A maneira como vamos mudar a cidade e como vamos gerir a cidade com o COI é um novo desafio, é criar um sistema de governance, que já está estudado para ser implementado, também para que as pessoas possam mentalmente poder começar a trabalhar de forma diferente através destes novos conceitos de gestão de informação. Porque, por vezes, tendo informação, é preciso perceber qual é a sua utilidade e como é que ela nos vai ser útil para a criação de respostas e como é que podemos interconectar e coordenar os serviços. Este é um processo que vai demorar seis meses. O COI vai ser implementado a full-time em três anos na sua plenitude, mas penso que este é um processo irreversível e daqui a seis meses haverá resultados, daqui a três anos haverá outros.

Inicialmente, o COI estava pensado para estar em Monsanto. Essa ideia mantém-se?

Já não. Previa-se que o COI tivesse também uma sala com gestão de toda a componente da Protecção Civil e gestão de ocorrências – e, depois de muitos estudos à estrutura do edifício [em Monsanto], ficou considerado que não era um edifício perfeitamente compliant para ter um equipamento de fim de escala, no sentido da protecção civil. Uma parte do edifício importante está assente em terreno não fixo, portanto, em terreno onde foi um ex-aterro. Num caso, num limite, num tremor de terra de grande escala, o COI poderia desligar, porque poderia cair uma parte do edifício em cima da estrutura de servidores e de sistemas.

Há algum outro local estudado?

Para já, o que está previsto nesta primeira fase do COI é que seja implementado no edifício [da CM Lisboa] do Campo Grande. Não vai ter todas as valências que estavam previstas inicialmente para Monsanto, mas haverá lá uma grande área relativamente ao centro de operações. É isso que estamos a estudar, estão a ser feitos os projectos, mas a ideia é que o COI possa estar em qualquer telemóvel, num jardim público, a olhar para o rio.