Com mais de cem anos, a IBM assume-se hoje como uma empresa de soluções cognitivas e plataformas cloud. Alexey Ershov, vice presidente da área Smarter Cities Europe da IBM Corporation, esteve recentemente em Portugal e explicou à Smart Cities como a gigante tecnológica quer levar as cidades até à Era Cognitiva.

 

Vivemos num mundo cada vez mais digital. Na sua opinião, isso traz boas ou más notícias?

Para mim, essa é uma questão demasiado filosófica. A digitalização não é escolha. É inevitável. Não podemos pará-la. Tal como acontece em todas as novas tecnologias, há boas e más notícias. Por exemplo, gosto que os meus filhos tenham capacidades digitais, mas, ao mesmo tempo, quero que eles passem menos tempo em frente aos ecrãs e mais no exterior, a jogar futebol com os seus amigos.

A IBM tem investido em soluções de Computação Cognitiva. Como essa tecnologia está a mudar as cidades?

Repare nos desenvolvimentos feitos nesta área. Desde há muitos anos para cá, as cidades têm vindo a digitalizar e a optimizar as suas operações – transporte, gestão de água, segurança pública, gestão de emergências. Agora, os rápidos desenvolvimentos nas tecnologias de Computação Cognitiva e Internet of Things vão acelerar este processo, tornando as nossas cidades mais “habitáveis”. Ao longo do tempo, uma cidade vai tornar-se, progressivamente, um sistema de sistemas com uma miríade de dispositivos que falam uns com os outros e tornam o nosso quotidiano mais conveniente. Muitas decisões vão ser tomadas em tempo real, nos bastidores, sem qualquer intervenção humana.

O que é necessário para isso?

Os sistemas programáveis de computadores convencionais não conseguem lidar com este nível de complexidade. É por isso que precisamos de sistemas cognitivos como o IBM Watson, que são concebidos para compreender dados estruturados e não estruturados, raciocinar sobre eles e aprender a partir da formação com especialistas e a partir da sua própria experiência. Veja, por exemplo, um sistema de gestão de transportes no futuro muito próximo (ainda antes dos carros autónomos tomarem conta das nossas cidades). Este terá de integrar dados em tempo real provenientes dos sensores de estrada, câmaras, smartphones, parquímetros, sensores em carros e autocarros. Terá de saber onde cada comboio e cada autocarro estão. Vai ter de falar com os sistemas de gestão de emergência. Vai ter de saber quais acções de manutenção de estradas estão calendarizadas e quando um jogo de futebol importante tem lugar. Vai precisar de previsões meteorológicas precisas para cada parte da cidade. É por isto que estamos a apostar no Watson e foi também a razão pela qual a IBM adquiriu recentemente a The Weather Company. A propósito, cada vez que verifica a meteorologia no seu iPhone está a usar a IBM.

Muitas cidades estão a adoptar estratégias de dados abertos. É um caminho seguro?

A abertura de dados já não é uma opção. Está a acontecer rapidamente em todo o mundo. Os cidadãos exigem dados abertos e isso é bom para as cidades. Um estudo de 2013 da McKinsey estima um potencial de valor económico anual de três triliões de dólares proporcionado pelos dados abertos. As cidades líderes estão já a aproveitar este valor e os cidadãos estão mais envolvidos na governação. Temos trabalhado com muitas cidades de todo o mundo na abertura de dados. Na minha apresentação [no FICIS, em Braga], dei os exemplos de Madrid e Montpellier, onde estamos a ajudar os governos das cidades a melhorar a eficiência dos serviços públicos, a construir plataformas de open data e a dar aos cidadãos novos instrumentos para interagir e comunicar com os governos municipais.

Que outras tendências tecnológicas estão a surgir e como a IBM está a acompanhar essas novidades?

Para enumerar alguns: cloud, Internet of Things, Inteligência Artificial, Big Data. A IBM tem mais de 100 anos e reinventou-se muitas vezes e, hoje, está a afirmar-se como uma empresa de soluções cognitivas e de plataformas cloud.

As estruturas das cidades nem sempre são tão modernas e inovadoras como as empresas de tecnologias de comunicação e informação (TIC). Essa diferença tecnológica e de mind-set é perceptível quando a IBM trabalha com as cidades e os seus cidadãos?

Neste aspecto, as cidades não são muito diferentes dos governos centrais ou de empresas privadas. Algumas são mais inovadoras, outras estão atrasadas. Em todo o mundo, as cidades estão a inovar, a aprender umas com as outras e a competir pelos melhores talentos. As líderes estão a concretizar o seu potencial pleno com a integração de funções, capitalização de novas visões, criação de eficiências em todo o sistema e colaborando de novas maneiras.

Quando olhamos para o futuro da tecnologia e o seu papel na nossa vida, há também lugar para preocupações, nomeadamente em termos de privacidade, segurança e até a automação. Temos razões para temer o futuro?

Sou um optimista. Com qualquer nova tecnologia, há sempre cenários mais negros mas eu penso que o futuro é brilhante.