As novas tecnologias dão possibilidades cada vez maiores para os cidadãos não apenas conhecerem o estado do ambiente, mas também para poderem contribuir com informação pertinente para o seu diagnóstico e monitorização. Nas cidades portuguesas, os principais problemas ambientais com maior expressão em termos de incomodidade, morbilidade (doenças) e mortalidade são a baixa qualidade do ar, principalmente nas zonas mais afetadas pelo tráfego rodoviário, estando em causa os poluentes dióxido de azoto e as partículas, e a exposição ao ruído, onde os valores-limite estão a ser ultrapassados em diversas áreas com características semelhantes.

No que respeita à qualidade do ar, existe um conjunto de estações de monitorização em diversas cidades que recolhem e disponibilizam informação em tempo quase real através da Agência Portuguesa do Ambiente (qualar.apambiente.pt). Esta informação, que até está suficientemente descodificada para o acesso ao público, dado apresentar-se um índice de qualidade do ar que tem cinco níveis de fácil compreensão e que é função das concentrações dos poluentes em causa, é uma ferramenta ainda muito pouco disseminada e utilizada pela população.

Numa cidade inteligente, é fundamental divulgar estes dados através de diversos meios, desde o desenvolvimento de aplicações para telemóvel, à incorporação noutras fontes de informação dos dados obtidos, associados a recomendações para proteção da saúde, principalmente por populações mais sensíveis (crianças, idosos e pessoas com dificuldades respiratórias).

Num futuro próximo, o recurso a medições efetuadas por sensores e a transmissão desses dados através de plataformas adequadas podem ainda vir a facilitar mais a sensibilização e o entendimento de medidas que possam ter de ser tomadas na área da qualidade do ar.

Numa lógica inversa, o ruído não é monitorizado por nenhuma rede pública, mas poderia ter em cada cidadão um participante ativo na recolha e transmissão de dados, com rigor limitado mas suficiente para permitir uma avaliação e mapeamento do ruído através do uso de aplicações num smartphone. Também a implementação de sensores fixos em diversos locais das cidades poderia proporcionar uma rede de monitorização. No entanto, um sentido crítico gerado pela própria capacidade de cada indivíduo fazer uma medição e comparar facilmente com o valor-limite esperado para o seu local de medição e a possibilidade desses dados recolhidos formarem um mapa colaborativo seria um enorme desafio para as cidades.

Sabemos já de algumas experiências em cidades portuguesas, mas este deveria ser um desafio prioritário para uma cidadania com maior literacia ambiental, mais participada e com vantagens de diagnóstico e previsão de duas áreas cruciais de gestão ambiental (ar e ruído).

A publicação deste artigo faz parte de uma colaboração entre a revista Smart Cities e a Associação ZERO.