Os 20 finalistas da “maior edição de sempre” da competição BIG Smart Cities foram ontem conhecidos. Aproveitando a ocasião, Luís Pedro Cardoso, responsável de serviços e inovação da Vodafone, afirma que Portugal pode ser a próxima Silicon Valley da Europa. O clima favorável ao empreendedorismo que se vive hoje no país é inédito e representa uma “aposta sólida”, garante o especialista.

 

Como avalia o clima de empreendedorismo em Portugal? Estamos perante uma aposta sólida?

Portugal está a experienciar uma fase incrível e as suas principais cidades estão a ser reconhecidas internacionalmente como palcos de eleição para o nascimento e crescimento de start-ups. Portugal está, claramente, na linha da frente, sendo, de acordo com estudos recentes, o terceiro país que mais acelera start-ups na Europa e um dos países de eleição para o estabelecimento de start-ups internacionais, não só pelas condições que oferece, mas porque as infra-estruturas e a qualidade dos recursos estão ao nível do que de melhor se faz no mundo. Características que colocam Portugal muito bem posicionado para que se transforme na Silicon Valley da Europa, a par de cidades como Londres ou Berlim. O ecossistema nacional que suporta o empreendedorismo tem-se revelado uma aposta sólida porque, além de todo o impacto positivo que se verifica localmente, não faltam exemplos de projectos nacionais com relevância verdadeiramente global.

Olhando para o mercado nacional, quais são as principais oportunidades e barreiras que os empreendedores enfrentam?

Não me recordo de outros momentos em que se tenham concentrado tantas oportunidades e incentivos dirigidos aos empreendedores como agora. Ao longo da nossa história recente, temos passado por diferentes revoluções, da industrial à digital, mas actualmente acredito que estamos a viver uma nova revolução. O acesso ao empreendedorismo está agora muito mais democratizado devido à panóplia de programas de aceleração e incubação que existem, ao acesso ao financiamento através de capitais de risco, entre outras condições que nos fazem acreditar que cada vez mais as condições são propícias ao início de um projecto empreendedor. Por outro lado, se perguntarem se os empreendedores de hoje em dia têm uma tarefa fácil, é claro que não, pois o mercado transformou-se e actualmente uma nova start-up tem de competir globalmente, conquistando o seu espaço num contexto de “red ocean” cada vez mais preenchido, onde apenas vingam os melhores do mundo.

Qual o papel de uma iniciativa como a BIG Smart Cities, para desbloquear tanto este potencial, como essas barreiras?

O BIG smart cities é uma das iniciativas nacionais que mais contribuem para esta nova revolução do acesso ao empreendedorismo porque dá a oportunidade a qualquer pessoa, com uma boa ideia para melhorar a vida nas cidades, de a transformar num negócio com impacto internacional. O BIG smart cities é aquilo a que chamamos de uma competição de aceleração, que, ao longo das suas últimas três edições, tem transformado dezenas de ideias em start-ups globais. Das centenas de candidaturas que recebemos todos os anos, esta competição selecciona 20 ideias finalistas, ideias que através de um processo intenso de oito semanas de pré-aceleração com workshops, bootcamps e acompanhamento de mentores conseguem superar as suas dificuldades e estar à altura dos seus potenciais competidores em todo o mundo.

Vodafone e Ericsson são duas parceiras de peso nesta iniciativa. Qual foi a motivação para esta união?

Esta é uma competição com um histórico relevante no ecossistema do empreendedorismo, e é, em simultâneo, uma iniciativa com fortes características tecnológicas. Nesse sentido, temos, por diversas vezes, convidado parceiros tecnológicos estratégicos para a Vodafone, que contribuem de forma decisiva para aumentar a importância do BIG smart cities também no panorama tecnológico. A Ericsson tem apostado em soluções muito interessantes para suportar a evolução tecnológica das smart cities e, também por esse motivo, é claramente o parceiro ideal da iniciativa.

Qual tem sido o papel das cidades neste processo?

A primeira edição deste programa foi o Lisbon BIG Apps e nasceu da vontade da câmara municipal de Lisboa e da Vodafone em desafiar os empreendedores a proporem projectos que melhorassem o dia-a-dia de quem vive ou trabalha em Lisboa. Ao longo das diferentes edições, o BIG cresceu e este ano chegou a várias cidades do país onde pudemos contactar de perto com o contexto e as necessidades específicas de determinadas regiões, utilizando como polos para as zonas geográficas as cidades de Lisboa, Porto, Coimbra e Évora. Em cada uma destas cidades e respectivas regiões, elegemos um vencedor, que se tornou imediatamente num dos 20 finalistas da edição deste ano. Em Lisboa, venceu a Noxidity (projecto para instalar sensores que detectem a oxidação de materiais, permitindo a poupança em programas de manutenção relacionados com a corrosão de ligas metálicas), em Évora a City Check (projecto para desenvolver uma aplicação que permita explorar uma cidade através de desafios), em Coimbra a E-Energy (projecto para desenvolver um adaptador que transforme qualquer ficha eléctrica num ponto de carregamento de veículos eléctricos) e no Porto a Night Out (projecto para desenvolver uma aplicação que permita partilhar, em tempo real, o ambiente dos vários locais onde se pode sair à noite).

Estas iniciativas só funcionam em grandes cidades? Como podemos replicá-las nos territórios de menor dimensão?

Um dos factores críticos de sucesso de iniciativas como esta é o número de pessoas que conseguimos envolver e isso permite alargar o leque de ideias a concurso de forma a seleccionar os conceitos com mais potencial. O público-alvo que procuramos focar são pessoas interessadas em criar um projecto empreendedor de natureza tecnológica, e as grandes cidades são tipicamente os locais onde verificamos maior número de participantes. Este ano, levamos pela primeira vez esta competição até outras cidades, como Coimbra e Évora, e verificámos uma excelente afluência, que em nada fica atrás das restantes metrópoles.

Olhando para as ideias que venceram o concurso noutros anos, qual o ponto de situação? Conseguiram vingar?

É com bastante orgulho que constatamos que ao longo das diferentes edições desta iniciativa contribuímos, de forma decisiva para o nascimento de dezenas de novas empresas tecnológicas, muitas das quais apresentam hoje indicadores de tracção muito significativos, não só em Portugal como em todo o mundo. Um dos exemplos é a GuestU, com mais de 35 colaboradores e já presente em mais de 30 países. Outro é a Inviita, que venceu o concurso em 2014, e que já foi reconhecida pela Apple duas vezes como Melhor Feature App, além de App da semana. A par disso, o vencedor da edição do ano passado, a Horizontal Cities, foi premiada muito recentemente pela Agência Espacial Europeia num concurso que decorreu em Bruxelas. E o seu lançamento no mercado vai acontecer muito em breve.

Quais são as suas expectativas para este ano?

Este ano, a competição registou o maior número de candidaturas de sempre, superior a 230 equipas. O mais interessante é que, também fruto do compromissivo assumido este ano de  levar o BIG smart cities a todo o país, pudemos ir acompanhando através dos diferentes City Challenges a qualidade das equipas e das ideias. Qualidade que depois se reflectiu na interessante lista dos 20 finalistas apurados e que divulgamos hoje (segunda, dia 16 de Maio). Contrariamente à edição do ano passado, que acelerou mais conceitos ligados ao Turismo, este ano recebemos mais ideias de negócio na categoria de Smart Living, ideias que visam melhorar a vida de quem vive nas cidades.  Face ao aumento do interesse do ecossistema de empreendedorismo sobre este concurso, e face à qualidade das equipas e conceitos finalistas, acredito que estamos a experienciar a melhor e maior edição do BIG Smart cities.