Em 2005, quando David Foster Wallace, o “imortal” autor de A Piada Infinita, proferiu o discurso na sua cerimónia de graduação na Universidade de Kenyon, disse: “dois jovens peixes nadam juntos e, um dia, por acaso, encontram um peixe mais velho a nadar em sentido contrário, que lhes acena e diz: ‘Bom dia, rapazes, como está a água?’. Os dois jovens peixes continuam a nadar, até que um deles olha para o outro e pergunta: ‘Mas que raio é a água?'”.
Wallace prossegue e explica esta parábola: “o ponto imediato da história dos peixes é que as realidades mais óbvias, omnipresentes e importantes são frequentemente aquelas que são mais difíceis de ver e de falar”.
Bem, na realidade, este artigo não é naturalmente sobre a obra, os estilos literários ou até mesmo o pensamento de David Foster Wallace. Esta parábola, apesar de bastante interessante, a meu ver, apenas serve de base à apresentação da mais recente iniciativa da Águas de Gaia, no que à “educação ambiental” diz respeito: A ROTA DA ÁGUA.
A Rota da Água apresenta-se como um grande “Museu da Água” e “Centro de Educação Ambiental”, mas ao ar livre! Aliás, como já referi em artigos anteriores, julgo que é indiscutível que a pandemia provocada pela Covid-19 nos aproximou do espaço público e da natureza e é, talvez, ao ar livre que hoje mais nos sentimos bem! Começámos a perceber e a dar ainda mais valor ao quanto precisamos que a natureza faça parte das nossas vidas.

A Rota da Água junta natureza, cultura, história e património, sendo assim um convite a descobrir Gaia ao longo de rios, ribeiras, do mar e de infraestruturas e que, com recurso a um smartphone, percorremos as várias rotas. Ao apontar o nosso dispositivo aos QR Codes disponíveis ao longos das rotas, “transformamos” o nosso telemóvel num audioguia, (disponível em português, inglês e espanhol) como se estivéssemos num museu.
Como o próprio nome indica, nesta rota, a água é a protagonista e, “através dela”, somos convidados a descobrir estórias e a história de vários locais e pontos de interesse, tão óbvios, omnipresentes e importantes como a água onde viviam os jovens peixes, mas, ao mesmo tempo, alguns tão desconhecidos e apaixonantes.
A Rota da Água é de uso livre e universal, mas para os mais curiosos existe ainda a possibilidade de marcar visitas guiadas às várias rotas, neste caso, não pelo velho peixe que nadava em sentido contrário, mas por profissionais de educação ambiental do Centro de Educação Ambiental e das Ribeiras de Gaia (CEAR) e com recurso a meios de transporte suave como bicicletas ou um veículo elétrico.
Na mesma linha de pensamento, gostaria de fazer uma referência à edição deste ano do Open House Porto, que sob o lema “Espaços para Respirar” proporciona visitas não a espaços fechados como habitualmente, mas sim “abertos e ligados à natureza”, como jardins ou parques nas cidades do Porto, Gaia, Matosinhos e Maia, num total de 16 espaços ao ar livre.
E quando tudo voltar ao normal? Claro que vamos voltar a querer fazer coisas que anteriormente fazíamos, mas arrisco-me a afirmar que não mais deixaremos de querer usufruir do que a natureza nos dá, não mais perguntaremos ao velho peixe “mas que raio é a água?“.
As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.