A minha resposta depende de duas coisas. Primeiro, depende de como se define economia de partilha e, segundo, se esta é encarada como uma escolha política.

Nos meios de comunicação social generalistas, a economia de partilha é definida como uma viragem da posse/propriedade de bens para o seu aluguer. A maior parte da atenção está centrada em algumas start-ups  líderes apoiadas em venture capital – Uber, Lyft e Airbnb.

Enquanto romper com a [ideia de] propriedade é uma grande questão, esta é também uma definição muito limitada para nós, na Shareable. Vemos uma mudança muito mais profunda no caminho. Enquanto os governos e os seus clientes multinacionais pressionarem para uma maior centralização da riqueza e do poder, os cidadãos em todo o mundo estão a desenvolver formas radicalmente democráticas de produção, partilha de recursos, troca de valor,  financiamento e de se governarem a si mesmos.

Vemos esta mudança a acontecer em praticamente todos os sectores da sociedade. Como exemplos temos softwares open-sourcecoworkinghackerspacescrowdfunding, novos partidos políticos e software político como o LiquidDemocracy, cooperativas, cooperativas de crédito, novas moedas digitais, Creative Commons [associação sem fins lucrativos que permite, através de licenças de direitos de autor, a partilha e uso de conhecimento e criatividade através de instrumentos legais abertos], mecanismos de alimentação locais que estão a surgir em todo o mundo. Algumas destas inovações existem há décadas ou mesmo séculos, mas  estão ainda em rápido crescimento, muitas outras são novas (mais informações em Shareable.net).

Esta mudança reflecte a necessidade das pessoas comuns de trabalharem juntas para responder às suas necessidades à medida que as velhas instituições falham em fazê-lo. Reflecte também uma nova oportunidade de sair do capitalismo como o conhecemos, pois os meios de produção de uma larga faixa da economia estão a tornar-se acessíveis às pessoas comuns. No fim de contas, as pessoas têm a necessidade e os meios para se começarem a servir a si mesmas, sem os intermediários convencionais – o governo e as grandes empresas. Um novo paradigma económico está a surgir – a produção de bens comuns por pares em rede [commons-based peer production, conceito introduzido por Yochai Benkler].

É isto possível como um sistema universal? Sim, mas os cidadãos devem ver esta viragem, primeiro, como uma escolha política. A economia de partilha como modelo universal apenas é possível se os cidadãos acordarem para esta mudança e a moldarem em seu benefício. Não é apenas escolher uma nova forma de fazer as coisas. Este novo modo deve ser protegido e institucionalizado. De facto, esta viragem pode correr das duas formas. Pode tornar os já poderosos mais poderosos ou pode beneficiar os cidadãos acima de tudo. Só vai beneficiá-los, se eles a moldarem para isso. Por esta razão, publicámos o relatório Policies for Shareable Cities, no qual manifestamos o nosso apoio a soluções de partilha originais.

 

*O artigo foi publicado, originalmente, na edição #05 da revista Smart Cities.