“A vida é um universo de possibilidades”. A frase colada na parede da sala de trabalho dos 10 jovens innovators traça a dimensão sem barreiras do desafio que abraçaram há um mês: encontrar no Espaço respostas para os problemas da Terra. Os resultados dessa busca são apresentados esta sexta-feira no CEiiA no encerramento da quarta edição do Sustainable Living Innovators.

“Está a ser uma experiência enriquecedora, muito diferente do que estamos habituados na faculdade”, conta Adriano Cardoso, aluno do terceiro ano de Engenharia Aeroespacial, no Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa. “Aqui fomos incentivados a usar a criatividade e a resolver problemas que não nos foram dados a priori”, explica. “Temos de encontrar o que resolver. É muito desafiante porque não é óbvio”.

Adriano Cardoso gostou do desafio de procurar problemas para resolver

Adriano e os companheiros da tribo Moonwiser, formada no início do programa do CEiiA para pensar os conceitos a apresentar, desenvolveram dois serviços a partir de satélites de observação da terra: um que localiza as reservas dos minérios e que pode ser utilizada numa perspetiva de ordenamento de território; outro auxilia na logística e gestão das minas.

Inês Palhares, estudante de Engenharia Aeroespacial na Universidade do Minho, do grupo Seaflow, processa ainda tudo que viveu nas últimas semanas. “Vi tanto futuro a acontecer”, desabafou, que descobriu até interesses que não sabia ter. O tópico de partida do Sustainable Living Innovators (SLI), de usar o Espaço para ajudar a resolver os problemas da Terra, era muito vasto, mas foi suficientemente sedutor para levar Inês a candidatar-se. “Inscrevi-me à última da hora e sem dizer a ninguém”, recorda à “Smart Cities”, media partner do SLI.

“A partir do momento que o programa se focou na observação da terra a partir dos satélites ficou muito interessante, mas se o ponto de partida tivesse sido esse, não teria concorrido e seria uma perda gigante”, partilha a jovem de Braga. “Tivemos acesso a pessoas muito interessantes que estavam interessadas no que eu tinha para lhes dizer… Foi uma honra e uma responsabilidade”, diz Inês Palhares.

Inês Palhares fechou no SLI um puzzle que tinha deixado em suspenso

Participar na formação permitiu a Inês completar um puzzle que tinha deixado em suspenso. Estudou Medicina, em Coimbra, até ao terceiro ano, altura em que decidiu mudar para uma área de estudos que refletia outra das suas paixões. “Sinto que no último mês abri o leque que achava que tinha fechado ao escolher Medicina”, conta, entusiasmada pela possibilidade de cruzar o espaço, que estuda atualmente, com a medicina, que a seduziu à entrada da faculdade, com a “intenção de ser útil e de prestar um serviço” à sociedade. “Tenho pesquisado sobre sensores de radiação utilizados pelos satélites, que podem ser benéficos na deteção, de cancro e sobre cirurgias remotas”, partilha.

A tribo Seaflow desenvolveu um protótipo para, através de dados recolhidos através de satélites e in situ, determinar a melhor localização de parques eólicos offshore, em termos de eficiência e sustentabilidade.

Francisca Andrade vai aplicar lições do SLI no núcleo de Robótica da FEUP

Aluna do segundo ano de Engenharia Mecânica na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Francisca Andrade viveu uma “experiência única” que lhe atirou as férias com os amigos para os finais de tarde e para os fins de semana. “Foi um ensaio para a vida de trabalho”, classifica. “Aprendemos muito… A experiência com o satélite Kitsat foi incrível”, conta. “Fazer também ajuda”, explica a estudante, que leva os ensinamentos do SLI para o sub-núcleo de Robótica no IEEE, do qual assumirá a vice-presidência no próximo ano com outro estudante.

“Na faculdade, nunca focamos naquilo que está a ser feito no momento”, considera José Azevedo, estudante de Engenharia Física Tecnológica, no Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, assumindo que a experiência no CEiiA “está a ser melhor do que estava à espera”.

Durante o mês de formação de Matosinhos, José percebeu que afinal Portugal é maior do que pensava. “Sendo pequeno, tem muitas oportunidades”, constata, sintetizando o que bebeu das aulas de Francisco Vilhena da Cunha, CEO da Geosat, e de Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa. Tinha o sonho de ser astronauta quando era criança e ainda não sabia das possibilidades de um país como Portugal. “Isto foi uma abertura de portas… Não temos noção das coisas até termos de pensar nelas”, explica.

José Azevedo percebeu que, afinal, Portugal não é tão pequeno quanto pensava

Na sala que os acolheu no CEiiA, as paredes estão cobertas de quadros brancos, rabiscados com ideias, lista de tarefas, desejos, numa composição que fixa o progresso de cada uma das tribos no solo da inovação e sustentabilidade. Há também post-its, muitos e coloridos, uns com ideias-chaves, outros distribuídos num mapa de emoções que os jovens do SLI levam para a vida.

O quadro dos Moonwiser revela o caminho feito por cada um dos elementos do grupo, explica Francisca. “Foi escrito e apagado muitas vezes, mas tem muito brainstorming, competências e personalidade de cada membro da tribo, o plano de negócios e um “envelope de ideias”, sugestão deixada por Joana Mendonça, docente do Técnico, na sessão sobre Future Design.

Adriano Cardoso sublinha a abordagem empresarial do SLI. “Contactamos muito com a parte dos negócios de engenharia, sem aquela perspetiva arco-íris da faculdade”, afirma.

Os dois grupos de innovators apresentam os protótipos dos modelos de negócios do espaço desenvolvidos no âmbito do SLI esta sexta-feira, dia de encerramento da quarta edição deste programa.