O produto bandeira da companhia da Lipor é o composto agrícola produzido a partir de resíduos alimentares e verdes, nas instalações da Associação de Municípios para a Gestão Sustentável de Resíduos do Grande Porto, em Baguim do Monte, Valongo.
“O Nutrimais é um exemplo perfeito de economia circular. Os materiais que entram ao longo do processo são transformados e reaproveitados para outro ciclo”, explica Júlia Oliveira, do departamento de operações e logística da Lipor.
“É um produto 100% natural, que resulta do processo de compostagem de resíduos alimentares e verdes, separados na fonte e é aplicado no solo mantendo ou aumentando a fertilidade natural”, detalha. “Mais de 95% volta a entrar nos ciclos de aproveitamento”, assegura Júlia Oliveira.
Os biorresíduos chegam à central de valorização orgânica do canal Horeca (hotéis, restaurantes e cafetarias) provenientes de mercados e da recolha seletiva nas casas e de resíduos verdes de cemitérios e de empresas de municipais nas oito autarquias que compõe a Lipor: Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim, Valongo e Vila do Conde. A partir de 1 de janeiro, passa a ser obrigatória em todo o país a recolha seletiva de biorresíduos domésticos (restos de legumes, fruta, carne, peixe, pão, cascas de ovos e resíduos verdes de espaços verdes).
Os resíduos descarregados pelos camiões nas grandes portas que ladeiam um dos lados da fábrica do Nutrimais levam os sinais dos modos de vida para lá dos muros da Lipor. Um monte de cascas de tangerina sinaliza a entrada dos citrinos na mesa dos portugueses. Assim como as metades de romãs espremidas que chegaram há meses em quantidade suficiente para intrigar Júlia Oliveira. “Descobri depois que um supermercado estava a vender sumo de romã espremido na hora, como o sumo de laranja”, conta. Nos meses de outubro e novembro, há muitos resíduos verdes: madeira da poda das árvores e flores dos cemitérios, em maior quantidade por causa do dia de todos os santos.
A associação de municípios para a gestão de resíduos surgiu em 1982, com a compra da Fertor. “Na altura, o processo era muito mais simples, não havia o vidro como resíduo, por exemplo. Nos últimos anos, a qualidade do composto deteriorou-se”, esclarece Diana Nicolau, gestora de projetos de sustentabilidade, economia circular e biodiversidade da Lipor.
Por ano, são recolhidas 60 mil toneladas de biorresíduos. E todos são avaliados à chegada. O processo garante “uma cuidadosa seleção da matéria-prima” e ajuda a perceber a necessidade de ações de sensibilização sobre a forma correta de separar os biorresíduos. Um contentor atulhado de lixo comum, plásticos e latas no meio da fábrica de Baguim do Monte demonstra que há ainda um longo caminho a percorrer.
Depois de uma primeira triagem, os resíduos são misturados com um composto de refugo que serve como uma espécie de fermento, antes de serem distribuídos por 18 túneis, onde permanecem doze a quinze dias.
O composto passa por novo tratamento mecânico e segue para a segunda fase de compostagem. No final, são feitos ajustes, antes de cumprir tempo de maturação, e ser armazenado. Depois, é ensacado, para seguir para os pontos de venda em cooperativas agrícolas e grandes distribuidores de produtos para a terra e de agricultura biológica.
“Hoje, é muito mais fácil falarmos sobre questões da sustentabilidade. O tema das alterações climáticas está na ordem do dia, é uma preocupação da generalidade das pessoas”, partilha Diana Nicolau. “Há uns anos, quando falávamos do impacto da poluição no planeta evocávamos as consequências para as gerações dos nossos netos. Agora, falamos no impacto que as alterações climáticas para nós”, ilustra.
Quanto as questões sobre circularidade, o presidente da administração da Lipor, José Manuel Ribeiro, considera “haver ainda um longo caminho a percorrer para que o cidadão, os profissionais, os líderes das empresas consigam ter um conhecimento holístico e sistémico da Economia Circular”.
“É necessário promover o envolvimento das pessoas, efetuar periodicamente campanhas nacionais de comunicação de carácter geral, promover o conhecimento, cultura, fomentando oportunidades e visando a criação de valor através da economia circular”, explica José Manuel Ribeiro. “Maiores níveis de capacitação das empresas e da Administração Pública, na temática da economia circular irão potenciar uma cultura de economia circular, indutora de novas abordagens e de diminuição da resistência à mudança”, conclui o também presidente da Câmara de Valongo.
Este artigo foi originalmente publicado na edição nº 41 da Smart Cities – Outubro/Novembro/Dezembro 2023.