Com as escolas portuguesas de volta à esfera digital, as desigualdades no acesso aos meios para o ensino à distância voltam a ganhar visibilidade. Durante o primeiro confinamento em Portugal, em Março do ano passado, o projecto Student Keep surgia com a missão de mitigar esse problema, angariando e doando equipamentos informáticos a alunos sem acesso a meios para o ensino digital. Passado quase um ano, o projecto atinge o marco dos 2100 computadores entregues, mas o trabalho, diz o coordenador, está ainda longe de terminar. Ainda assim, há já uma nova ambição no horizonte: implementar a lógica de economia circular do projecto na modernização do parque informático das escolas portuguesas.
A iniciativa, criada no âmbito do movimento #tech4covid19, tem, desde Março de 2020, angariado equipamentos informáticos para doação a alunos, do ensino básico ao secundário, que, por não terem acesso a um computador, ficam impossibilitados de acompanhar o ensino à distância. Ao mesmo tempo que os portugueses estão de regresso ao confinamento e as escolas voltam ao modelo digital, o projecto ultrapassou, em Fevereiro, o marco dos dois mil equipamentos entregues. “Entregámos já cerca de 2100 computadores, sendo que temos cerca de 2500 angariados”, revela Rui Nuno Castro, criador e impulsionador desta iniciativa.
“A jornada, desde Março de 2020, tem sido longa, mas temo-nos mantido perseverantes porque acreditavamos que este trabalho não está acabado. O tempo veio dar-nos razão, os computadores continuam a fazer falta. Diariamente recebemos mensagens com pedidos de ajuda dramáticos”, relata.
O Student Keep é um projecto voluntário e que funciona através de um sistema de apadrinhamento que consiste na angariação de equipamento informático e a posterior doação aos alunos. Empresas ou particulares interessados em doar equipamentos – computadores portáteis ou de secretária e periféricos, novos ou usados, desde que funcionem com as plataformas e programas usados pelas escolas no ensino à distância – podem inscrever-se no portal do projecto, tornando-se num “keeper”. Depois disso, um dos 164 voluntários técnicos de IT espalhados por todo o país faz a recolha, o diagnóstico e o eventual recondicionamento do equipamento, entregando, depois, nas escolas indicadas, que, por sua vez, farão chegar o equipamento aos alunos. Através da plataforma, os keepers podem acompanhar todo este processo. Até agora, mais de 90 empresas participaram de alguma forma na iniciativa, quer através da doação de equipamento, quer através de apoio na entrega.
Economia circular social ou “Economia de Francisco”
Mas este não é apenas um projecto de inovação social, defende o coordenador, já que o Student Keep tem um dos seus “pilares essenciais” na economia circular. “Acreditamos que esta preocupação com a sustentabilidade, prolongando a vida útil de equipamentos informáticos, faz todo o sentido. [Trata-se de] Equipamentos informáticos de particulares, mas, acima de tudo, de empresas que, muitas vezes, acabam por morrer ao pó em garagens ou armazéns. O Student Keep é a solução para esses problemas das empresas, colocando esses equipamentos ao serviço da Educação”, explica.
Rui Nuno Castro vai ainda mais longe e, naquilo a que se refere carinhosamente como “Economia de Francisco”, lembra que a dinâmica do projecto pode ser aproveitada também para ajudar a modernizar os parques informáticos das escolas que estão “completamente obsoletos”. “No fundo, este é um conceito não tão implementado, mas bastante oportuno e eficiente, a economia circular com impacto social ou economia circular social”, defende.
Lançada a sugestão, para já, o projecto e os seus voluntários mantêm-se empenhados na missão original, que não é “fácil”. Desde a sua criação e ilustrando a dimensão do problema da desigualdade no acesso ao ensino digital, o Student Keep não tem parado. A par do número crescente de equipamentos e de keepers, há também mais voluntários interessados em participar e o projecto está, neste momento, “a aumentar a equipa”, revela Rui Nuno Castro. Para além disso, a missão do projecto passou também as fronteiras nacionais e chegou a Cabo Verde, onde é dinamizado pela Cabo Verde Digital. No país, o projecto funciona nos mesmos moldes, mas inclui ainda uma campanha de crowdfunding.