Os Serviços Municipalizados de Água e Saneamento de Sintra (SMAS Sintra) e outras entidades do município estão a levar a cabo um projecto piloto de promoção da recolha selectiva e de combate ao desperdício. Nesta iniciativa, as máscaras descartáveis vão ser transformadas em mobiliário urbano e os têxteis poderão ganhar uma nova vida através de uma loja virtual.
No início de 2022, os SMAS Sintra, em parceria com a câmara municipal de Sintra (CM Sintra) e a app para a redução de desperdício têxtil To Be Green, spin-off da U. Minho, avançaram com o Projecto de Reciclagem e Valorização de Máscaras e Têxteis. O combate ao desperdício e à poluição associados ao descarte destes materiais é o que os une, e a outros parceiros, neste piloto de sensibilização ambiental e participação cívica que vai transformar máscaras descartáveis em mobiliário urbano e disponibilizar a doação ou a troca de têxteis que continuam em bom estado.
“A partir do momento em que nos foi lançado o desafio [pela To Be Green], tivemos algumas reuniões de trabalho para perceber a forma como o processo se poderia desenrolar, e é isso que estamos a tentar desenvolver agora no concelho”, conta Carlos Vieira, director delegado dos SMAS Sintra.
A iniciativa desdobra-se em duas vertentes: por um lado, pretende evitar e reduzir a deposição em aterro ou o encaminhamento para incineração de máscaras, nomeadamente descartáveis, fomentando quer a sensibilização para o correcto descarte, quer a revalorização; por outro, procura promover o consumo consciente de têxteis e o respectivo reaproveitamento numa lógica circular, dando também um passo para o cumprimento da recolha selectiva de têxteis, que passará a ser obrigatória nos países europeus a partir de 2025.
Sublinhando que “uma das maiores preocupações” que existe no país é o aumento da recolha selectiva, o responsável municipal vê, neste projecto bidimensional, uma oportunidade para alavancar “um acréscimo” nesses números “de que tanto Sintra, como Portugal, precisam” e um “exemplo de boas práticas.”
Um “novo olhar” sobre a problemática
O flagelo das máscaras descartáveis que vão parar ao chão ou ao contentor indiferenciado, precipitado pela pandemia de Covid-19, coloca a olho nu aquilo que Carlos Vieira descreve como “pouca sensibilidade ambiental”. Uma máscara demora 300 a 400 anos a decompor-se e é com este peso ambiental que o projecto sintrense procurou uma alternativa.
Num “novo olhar”, as máscaras descartáveis passam a ser vistas como uma oportunidade: do processo de reciclagem em centros de armazenamento instalados em edifícios reabilitados para esse fim, o resultado é um polímero, um plástico resistente, durável e apto para qualquer tipo de molde, que é aproveitado para criar mobiliário urbano – mesas e bancos de jardim, pilares, vasos, placas de sinalização, etc. – e outros materiais, como objectos de divulgação e promoção de Sintra, moldes para desenho e símbolos em plástico.
Ainda antes de o projecto arrancar, os SMAS Sintra demonstraram, no Natal passado, esta possibilidade, produzindo enfeites a partir de máscaras cirúrgicas recicladas, após trituração e compressão, que foram oferecidos às entidades do concelho e aos colaboradores e munícipes. “Parece-nos uma solução muito interessante e inovadora que poderá fazer caminho noutros municípios em Portugal”, descreve o representante dos SMAS, acrescentando que, quanto às máscaras de pano ou comunitárias, o processo de tratamento será a esterilização e reciclagem.
A esfera de actuação do Projecto de Reciclagem e Valorização de Máscaras e Têxteis abrange também a recolha selectiva de têxteis, desde vestuário, até lençóis e toalhas, encaminhados para o Banco de Recursos da CM Sintra, onde uma equipa efectua a triagem. Neste passo rumo ao cumprimento das exigências que se avistam, é dinamizada ainda uma loja social virtual, suportada pela app To Be Green, que disponibiliza roupa em segunda mão em bom estado numa lógica circular – as peças depositadas podem ser trocadas por outras, através de um sistema de pontos, ou doadas a instituições de solidariedade. De acordo com Ana Simão, chefe de divisão de auditoria, Sistema de Gestão Integrado e comunicação dos SMAS Sintra, esta funcionalidade de troca pretende ser uma “vertente apelativa aos jovens”, o principal grupo-alvo.
É um “pequeno mercado de trocas” que reflecte e apologiza, a montante, um consumo mais sustentável, nascendo do desafio do impacto ambiental associado ao sector têxtil. “Para produzir uma t-shirt, temos de utilizar cerca de 2 700 litros de água, [o que é] uma brutalidade; se formos para umas calças de ganga, são cerca de 10 mil litros. Ninguém faz ideia deste tipo de consumos, para mais numa altura em que se fala da escassez de água, que também é outra problemática”, refere Carlos Vieira, defendendo a sensibilização, o reaproveitamento quando possível e a efectiva reciclagem quando as condições de uso já não são adequadas.
Este artigo foi originalmente publicado na edição de Abril/Maio/Junho de 2022 da Smart Cities.