Desde ontem, a cidade de Lisboa tem uma árvore especial, que junta energia solar fotovoltaica e o acesso à Internet. A primeira árvore tecnológica solar chega à capital portuguesa, mais precisamente à Praça do Município, pelas mãos do programa europeu Sharing Cities.
A VTREE é uma peça de mobiliário urbano, em forma de árvore, com painéis fotovoltaicos a servir de folhagem, resultado do empreendedorismo de uma start-up sediada em Portugal, a sua derradeira ambição é democratizar o acesso à energia renovável e à Internet, ao mesmo tempo que ajuda a dinamizar o espaço público. Com isso em mente, a solução pretende ajudar Lisboa a concretizar os seus objectivos, enquanto cidade farol da iniciativa europeia, que decorre até 2020.
Porquê uma árvore? Francisco Santos, um dos co-fundadores da start-up, explica: “De entre os vários estudos de formas e objectos que realizámos, surgiu a ideia da árvore como forma central do projecto, sendo que a árvore que se notabilizou (com a forma fractal) teve inspiração no algoritmo e nas florestas da Transilvânia na Roménia, próximas de onde tínhamos dois dos fundadores”. Com cinco metros quadrados de painéis fotovoltaicos que decoram as extremidades das ramificações desta árvore, qual folhas, a VTREE capta a energia solar e fornece electricidade verde a quem está ao seu redor para o carregamento de gadgets ou mesmo veículos eléctricos, mas não só. A árvore disponibiliza também Wi-Fi até 30 Mb/s, iluminação (à noite) e informações úteis. À semelhança das suas “parentes” naturais, proporciona sombra e oferece um assento para descansar, depois de uma visita pela cidade.
Para a câmara municipal de Lisboa, o facto de se tratar de uma árvore tem também um simbolismo especial. “Durante a evolução de quatro e meio biliões de anos, a natureza tem esculpido o sistema de energia mais eficiente e conhecido pela humanidade – as árvores! Em Lisboa, pela mão do município, nasce a primeira árvore tecnológica solar no espaço público da cidade, uma peça de mobiliário urbano inteligente que corporiza os valores e objectivos do programa Sharing Cities e da gestão da cidade – sustentabilidade, eficiência energética, inovação, empreendedorismo, cidadania e participação”, declaram os responsáveis.
Numa praça, a VTREE não passa despercebida, criando novos pontos de encontro ao ar livre, interactivos e capazes de dinamizar os espaços públicos, explicam os criadores. A missão, garantem, não se esgota em dar ao cidadão um novo local para conviver, mas garantir-lhes simultaneamente o acesso a energia limpa e à Internet. “Sentimos que a energia solar está a revolucionar o mercado da energia, com custos de produção cada vez menores, energia limpa acessível a todos. Esta energia possibilita que áreas sem infra-estrutura tenham acesso a uma fonte de energia inesgotável. Paralelamente, prevemos que a democratização do acesso à Internet seja um dos pontos fundamentais para a igualdade de oportunidades entre os povos, facilitando o acesso à educação e criando uma base global para todos. A aliança destas duas tecnologias poderá ser uma grande alavanca na promoção da igualdade de oportunidades entre os povos, estratos sociais, independentemente da sua localização”, acredita Francisco Santos.
A par disso, os fundadores da VTREE não esquecem de que estamos a entrar na era da Internet of Things (IoT), na qual milhares de milhões de objectos vão estar ligados à rede e entre si. “[A IoT] É um dos desafios mais importantes do mundo urbano”, afirma Francisco Santos, “com a conexão à Internet, as possibilidades são gigantescas e verdadeiramente disruptivas”. Por isso, esta árvore quer também ser uma ferramenta para compreender o que se passa nas cidades, na medida em que permite a recolha de dados de circulação de pessoas, a dinamização de iniciativas públicas ou marcas e campanhas de empresas e, mediante autorização, a comunicação com quem passa ao seu redor, divulgando iniciativas ou acções culturais.
Lá fora, o conceito tem dado nas vistas, tendo sido reconhecido, em Outubro passado, na Roménia, onde existe já um protótipo operacional, com o prémio Smart City Industry Awards 2016, na categoria “Data & Technology”.
Recorde-se que programa Sharing Cities integra 35 parceiros e junta Lisboa, Milão e Londres num desafio a cinco anos. Em Lisboa, o consórcio local, coordenado pela câmara municipal de Lisboa, inclui mais sete entidades: EMEL, CEiiA, Lisboa E-Nova, IST, Reabilita, Altice Labs e EDP-D. Beneficiando de um financiamento de 25 milhões de euros, com origem no programa Horizonte 2020, o Sharing Cities pretende transformar Lisboa numa capital bastante mais sustentável através da integração das mais avançadas tecnologias e ferramentas digitais. Para além das cidades farol, a iniciativa é acompanhada de perto por 100 cidades europeias, dez delas portuguesas.