A mobilidade e o estacionamento em Oeiras ganharam um novo protagonismo com as últimas mudanças na estrutura da Parques Tejo, que em março de 2022 passou a ser liderada por Rui Rei. Em entrevista à Smart Cities, o Presidente Executivo da empresa municipal faz um balanço do trabalho realizado no último ano e meio e avança as próximas prioridades da autarquia, a começar por uma “mudança estrutural” que crie um novo sistema de mobilidade no concelho.

A app Oeiras Move e os novos parques de estacionamento no concelho foram outros temas abordados, bem como a reativação do SATUO (Sistema Automático de Transporte Urbano) que, garante o responsável, continua a ser uma aposta do município.

Tomou posse em março de 2022 com o objetivo de iniciar uma “revolução na mobilidade em Oeiras”. Neste ano e meio, o que mudou no concelho em matéria de mobilidade e estacionamento?

A principal marca distintiva do concelho de Oeiras é o facto de ter uma estratégia de desenvolvimento, que tem aplicado de forma consistente ao longo de várias décadas. Esta questão é indissociável do facto de o Presidente Isaltino Morais ter sido, e continuar a ser, pioneiro na adoção de soluções estruturadas em torno de um projeto para Oeiras, que se manifesta em diversas áreas, entre elas a mobilidade.

Quando o Presidente Isaltino Morais encarregou a Administração a que presido de assumir funções à frente da Parques Tejo, tínhamos como desafio principal realizar um conjunto de mudanças muito importantes para a mobilidade no concelho, num prazo curto. Agora, qualquer transformação precisa de bases sólidas, que começaram pela própria Parques Tejo. E este último ano e meio, nesse aspeto, concretizou uma mudança estrutural na forma como nos apresentamos perante os munícipes, desde logo com uma mudança da nossa imagem, tornando-a mais dinâmica.

Essa mudança de imagem passou também para o vosso novo site. Qual é a importância que as tecnologias têm para a Parques Tejo?

As tecnologias são fundamentais nesta estratégia, pelo que, com a apresentação do novo site, mais dinâmico e intuitivo para o utilizador, apostámos também fortemente na digitalização e desmaterialização dos nossos serviços, oferecendo aos nossos clientes funcionalidades que lhes permitem aceder aos nossos serviços pela via digital, com todo o conforto e eficiência.

Isso pode parecer algo menor na nossa estratégia, mas faz toda a diferença, porque quando passamos serviços para a esfera digital, estamos a aproximar-nos dos nossos clientes a quem temos a obrigação de prestar melhores serviços. O que não implica que deixemos de estar de portas abertas para aqueles que nos procuram. Tanto mais, uma das principais inovações que realizámos no último ano foi a inauguração do nosso Centro de Atendimento ao Cliente, um espaço luminoso, confortável para quem nos visita, e que garante a proximidade com os munícipes.

Esta é uma mudança voltada para os munícipes, mas também se reflete em todos os que trabalham connosco, com a renovação dos espaços de trabalho, para os tornar mais confortáveis e equipados com melhor tecnologia, e com a renovação da nossa frota automóvel, que já é constituída por uma larga maioria de viaturas elétricas.

Ainda no âmbito das tecnologias, recentemente a Parques Tejo apresentou a app “Oeiras Move”, baseada na integração do estacionamento com os serviços de mobilidade suave, sistemas de bikesharing e transportes públicos. Qual a importância deste projeto e como está a ser a adesão dos munícipes?

A app Oeiras Move é estruturante na nossa visão sobre a mobilidade em Oeiras, porque é a forma mais prática de tornar visível uma estratégia.

A importância e inovação da Oeiras Move é pretender integrar todos os serviços numa única plataforma, que centralize a informação e diga a qualquer um dos utilizadores: “Existem estas formas de chegar ao seu destino”. Será com base nestas informações e na rápida comparação entre elas, que as pessoas farão escolhas mais eficientes.

Quais são as principais funcionalidades da app Oeiras Move?

De momento, a Oeiras Move permite o acesso à rede municipal de bikesharing e ao pagamento do estacionamento de rua, mas em breve terá funcionalidades relativas ao acesso aos parques cobertos, incluindo a reserva de lugar, ao carregamento de veículos elétricos e a um conjunto de processos muito úteis, como a emissão de dísticos de residente.

O aspeto central que está na base da Oeiras Move é a centralização de todos os serviços de mobilidade, incluindo o estacionamento, que continua a ser essencial nas nossas áreas urbanas. E aqui, a questão chave é o facto de a aplicação permitir conceder um conjunto de benefícios aos munícipes de Oeiras, nomeadamente, a atribuição de até 120 minutos diários de estacionamento gratuito, que irá avançar nos próximos meses.

Em breve, prevemos também que a nossa app se torne uma ferramenta que beneficie também o comércio local, porque o que faz sentido é criar soluções que se direcionem para a comunidade como um todo.

Como tem sido a resposta dos munícipes e clientes da Parques Tejo?

Até ao momento, a adesão à Oeiras Move tem sido moderada, mas muito positiva. No primeiro mês, registaram-se 1183 downloads da aplicação e têm aumentado de forma contínua, inclusive por via da nossa estratégia de comunicação.

Esta é uma mudança estrutural: dos novos utilizadores, 870 efetuaram registos no sistema de bikesharing, o que mostra, de facto, que os utilizadores dos nossos serviços são exigentes e, sobretudo, são recetivos a novidades, algo essencial para um concelho de inovação, como Oeiras.

Recentemente, foram inaugurados quatros parques de estacionamento com capacidade para mais de mil automóveis. Em que medida é que ajudam a promover o uso dos transportes públicos, nomeadamente para quem se desloca para Lisboa?

Os novos parques que inaugurámos em Oeiras não respondem só às necessidades de estacionamento de quem sai do concelho para ir para Lisboa. Na prática, cada um dos parques responde a necessidades específicas, decorrentes da sua localização.

Temos o Parque do Passeio Marítimo de Algés, que foi o último a ser inaugurado e que se constitui como um parque de estacionamento intermodal, visto estar muito próximo da Estação da CP e do Terminal Rodoviário. Pretende-se que seja um promotor da maior utilização dos transportes públicos, com uma oferta de 350 lugares e com valências importantes, como a segurança proporcionada por circuitos de CCTV.

Mas nem todos os parques servem o mesmo propósito. Não muito longe, temos o Estacionamento Avenida, com uma filosofia distinta, mais direcionada para o estacionamento de rotatividade de todos aqueles que se deslocam, de automóvel, até à Baixa de Algés, que é uma zona com uma grande coexistência entre a função residencial e múltiplos estabelecimentos comerciais. Sendo um parque de rotação, os preços aplicados e as campanhas que aí promovemos têm esse fim em vista.

Temos ainda dois outros parques: em Linda-a-Velha, o Estacionamento dos Lusíadas, que aumenta substancialmente a oferta de estacionamento para residentes e, sobretudo, para um conjunto muito relevante de empresas em volta. É, em suma, um parque para quem vem e fica durante o dia.

E depois há o Estacionamento 7 de Junho, em Porto Salvo, gratuito, numa zona residencial, e que permitiu a quem já mora no local estacionar com maior conforto e segurança, quando antes tinham de o fazer de forma irregular. Na prática são quatro parques muito diferentes com um ponto em comum – permitem retirar automóveis da via pública.

Oeiras abriu as primeiras estações da rede municipal de bicicletas partilhadas e surgiram novos pontos de partilha de trotinetes. Qual é a melhor estratégia para promover uma mobilidade integrada e, ao mesmo tempo, garantir o cumprimento das regras de quem utiliza estes veículos?

A implementação do sistema de bikesharing municipal e os ponto.move seguem uma estratégia do Executivo do Presidente Isaltino Morais para o Município de Oeiras. Estes equipamentos possuem uma grande versatilidade em termos dos seus percursos e horários, o que permite agilizar as deslocações no espaço urbano. Nessa via, elas constituem-se como uma solução para as first and last mile trips.

Foi com base neste racional que articulámos os serviços de mobilidade suave em Oeiras e o nível da sua ocupação, com cerca de 25 mil viagens entre julho e setembro, mostra que essa aposta foi bem-sucedida. Por isso está em preparação um plano de expansão dos ponto.move, os hubspots do sistema dockless, e também a possibilidade de, a breve trecho, mais operadores poderem vir a disponibilizar serviços em Oeiras.

A rede municipal de bikesharing, por agora com 11 estações e 50 bicicletas, vem trazer uma nova dinâmica a este ecossistema, permitindo deslocações mais articuladas em eixos cicláveis específicos, como a Ciclovia Empresarial e a Ciclovia da Medrosa.

Contudo, existem fenómenos que não podem ser ignorados. O primeiro é que haverá naturais atritos na convivência entre várias formas de mobilidade e serão resolvidos regulando os serviços de transporte, com a definição dos locais na via pública onde as viagens têm de iniciar e terminar, os nossos ponto.move.  O segundo consiste no facto de que as soluções de mobilidade suave são parte de um plano mais alargado – o Ecossistema de Mobilidade. Não podemos cometer o erro de ver as bicicletas e as trotinetas como uma panaceia para todos os problemas das áreas urbanas, porque isso não funciona.

Recentemente, houve notícias sobre a reativação do SATUO, encerrado há cerca de uma década. De que forma o SATUO se enquadra na estratégia de intermodalidade de transportes que Oeiras tem em curso?

O Município de Oeiras transferiu para a Parques Tejo a responsabilidade de operacionalizar a reativação do SATUO, nomeadamente o estudo do traçado e a sua inserção no território.

Para a Câmara Municipal de Oeiras é inequívoco que esta solução, planeada já há várias décadas pelo Presidente Isaltino Morais, é absolutamente estruturante, não apenas para os Municípios de Oeiras e Sintra, mas para toda a Área Metropolitana de Lisboa, visto que concretiza um canal de ligação entre as linhas de caminho de ferro de Cascais/Oeiras e de Sintra.

Neste contexto, estamos de momento a estudar quais as alternativas que melhor se adequam para responder às necessidades de mobilidade das populações de Oeiras e de Sintra, num processo articulado entre os dois municípios.

Quais as prioridades da Parques Tejo para o futuro e que oportunidades e desafios espera encontrar nos próximos anos?

As prioridades do Município de Oeiras, das quais a Parques Tejo atua na execução, prende-se com a concretização de uma mudança estrutural para um novo sistema de mobilidade, mais eficiente e sustentável.

Tal passa por apostar fortemente em soluções alternativas de transporte. Falamos da criação de mais ciclovias, que garantam a ligação entre centros urbanos, pólos empresariais, interfaces de transportes, e zonas comerciais e de lazer, de forma segura e confortável para os utilizadores. E, da mesma forma, não nos esquecemos da mobilidade pedonal, que é a forma mais natural de deslocação, pelo que queremos adaptar o espaço público de modo a dar prioridade ao peão.

E as nossas prioridades passam também por criar mais e melhor oferta de transportes públicos, nomeadamente com carreiras rodoviárias de proximidade, que sejam complementares aos serviços existentes operados pela Carris Metropolitana.

Mas essa é uma visão diferente da praticada até então…

 Correto, o Município de Oeiras tem uma visão diferente, adaptada à realidade. A mobilidade é mais do que o estacionamento. Este é uma base, mas uma base de transição. É necessário criar condições para que as pessoas mudem de hábitos. Não lhes podemos exigir que de um momento para o outro deixem o automóvel, é preciso criar alternativas.

Essa é a visão que estamos a seguir, e assenta naquilo que os Oeirenses exigem de nós: dinamismo, vontade de fazer coisas novas, e sobretudo de fazer diferente.