As cidades e outras áreas urbanas “oferecem oportunidades significativas para a redução de emissões”, tendo ao seu alcance já várias opções, sublinha o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (na sigla inglesa, IPCC). A conclusão consta do relatório do terceiro grupo de trabalho do painel publicado na passada segunda-feira, que apela à urgência da acção para, até 2030, reduzir em metade as emissões de gases com efeito de estufa (GEE).

Se o objectivo é limitar o aumento da temperatura atmosférica global em 1,5 °C, é necessário concretizar “reduções imediatas e profundas de GEE em todos os sectores”. Segundo a análise do IPCC, aquando da divulgação de um relatório desenvolvido pelo terceiro grupo de trabalho, já existem opções para reduzir as emissões de GEE para metade em áreas como energia, edifícios, transporte, agricultura, floresta e uso do solo – e tudo isto diz respeito às cidades.

Combinar a electrificação do transporte com fontes de energia hipocarbónicas, apostar nas energias renováveis, melhorar a captura e o armazenamento de carbono através dos recursos naturais, reduzir o desperdício e aumentar a circularidade, promover um menor consumo energético, “criando, por exemplo, cidades compactas e acessíveis a pé”, são algumas opções cada vez mais custo-eficazes que as cidades – “consolidadas, em rápido crescimento ou recentes” – têm ao seu alcance. 

Para o IPCC, estas são “oportunidades significativas” a ter em consideração no desígnio de mitigar as alterações climáticas, mas também no de levar a cabo um desenvolvimento sustentável e justo, com benefícios a nível da redução de riscos climatéricos, da melhoria da saúde e do bem-estar das pessoas e da promoção da empregabilidade e da inovação. “Ter as políticas, as infraestruturas e a tecnologia disponíveis para mudar os nossos estilos de vida e comportamentos pode resultar numa redução de 40 a 70% nas emissões de GEE”, acrescenta Priyadarshi Shukla, co-chair do terceiro grupo de trabalho do IPCC. 

Segundo Hoesung Lee, chair do IPCC, “temos as ferramentas e o know-how necessários para limitar o aquecimento” e o painel afirma que existem capital global e liquidez suficientes para colmatar as lacunas no investimento. “Há políticas, regulamentos e instrumentos de mercado que se estão a mostrar eficazes. Se forem ampliados e aplicados de forma mais alargada e equitativa, podem apoiar a redução profunda de emissões e estimular a inovação”, conclui Hoesung Lee.

ZERO apela a acção mais célere de Portugal

Quanto mais tarde se agir para reduzir as emissões, mais acentuadas esta redução terá de ser. Com base nesta premissa, que já tinha sido avançada em relatórios do IPCC anteriores, o apelo é para que se aja “agora” para que o pico das emissões seja alcançado antes de 2025 e haja, assim, uma redução de 43 % até 2030, limitando o aquecimento global em 1,5 °C.

Em resposta ao relatório do IPCC, a ZERO sublinha que “Portugal ainda precisa de aumentar a ambição” presente no Plano Nacional de Energia e Clima e no Roteiro para a Neutralidade Carbónica. Na perspectiva da associação, “é preciso desenvolver e implementar os diversos objectivos da Lei do Clima portuguesa, que recentemente entrou em vigor, nomeadamente através dos Planos Regionais e Municipais de Acção Climática e aumentar ainda mais as metas de redução nacionais”.

A ZERO refere ainda que é preciso ter “atenção particular” a alguns sectores, como é o caso do dos transportes, e a medidas promotoras de eficiência energética e de combate à pobreza energética – uma necessidade reforçada numa altura em que o panorama internacional pende para uma grande volatilidade de preços dos combustíveis fósseis. 

A análise do terceiro grupo de trabalho do IPCC, que fornece uma avaliação actualizada das fontes globais de emissões de GEE, do progresso e das promessas nacionais no âmbito da mitigação das alterações climáticas, vai alimentar o Sexto Relatório do IPCC, cuja síntese será publicada no Outono de 2022.