Todos os anos, a União Europeia produz quase 10 milhões de toneladas de lixo electrónico, mas apenas recicla 10 a 15%, enquanto a nível mundial foram produzidas (em 2021) mais de 55 milhões de toneladas de Resíduos de Equipamentos Eléctricos e Electrónicos (REEE).
O problema é global, com tendência a aumentar e não tem solução à vista, por isso um grupo de investigadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) está a estudar uma nova forma de recuperar e tratar os materiais eléctricos e electrónicos existentes em computadores e telemóveis em fim de vida. Entre as matérias-primas que podem ser reutilizadas e incorporadas na cadeia de valor destacam-se os metais valiosos, como ouro, platina e prata, mas também os metais críticos índio e gálio.
Trata-se de um processo “extremamente inovador”, porque utiliza um sistema misto de recuperação de materiais, que “junta a microbiologia e a química para tratar os resíduos e conseguir obter metais separados no final”, explicou à Smart Cities Paula Morais, professora da FCTUC e investigadora no Laboratório de Microbiologia do Centro de Engenharia Mecânica, Materiais e Processos (CEMMPRE).
“Muitas vezes os microorganismos são olhados negativamente, e sempre numa perspectiva de doença, mas afinal também podem ser nossos aliados nos processos tecnológicos futuros onde queremos ter outro tipo de performance, ou seja, que o resíduo seja zero e a energia baixa”, acrescentou a responsável do estudo.
Este será agora desenvolvido em duas fases: primeiro, através da identificação e mapeamento do ecossistema português da microelectrónica e, depois, com ainvestigação dos sistemas microbiológicos e químicos de reciclagem de metais. Na práctica, “serão desenvolvidos processos de bio-lixiviação, a partir de resíduos gerados por parceiros industriais no procjeto, bem como de bioacumulação selectiva de metais após tratamento químico dos resíduos”. No final, o objectivo é atingir uma fase de demonstração empresarial, para que “as empresas chamem a si o processo e o implementem”.
Esta investigação, ligada à tarefa “E-Waste Recycling to Foster a Circular and Sustainable Economy”, realiza-se no âmbito da Agenda Microeletrónica do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), financiada com 30 milhões de euros.
Para além do grupo de investigação de microbiologia, dirigido por Paula Morais, também envolve o Centro de Física da Universidade de Coimbra (CFisUC), coordenado por José António Paixão, e o Centro de Investigação em Engenharia dos Processos Químicos e dos Produtos da Floresta (CIEPQPF), representado pelo investigador Licínio Ferreira.
Fotografia de destaque: © Shutterstock; Fotografia 2: © Sara Machado – FCTUC