Em 2019, a exposição nacional de cidades inteligentes ganha mais “corpo” e mudou-se da antiga FIL. De 21 a 23 de Maio, o Portugal Smart Cities Summit decorre no Centro de Exposições e Congressos de Lisboa, no Parque das Nações. Em entrevista, Elisabete Martins, da organização do evento (FIL/AIP), faz o enquadramento deste certame.

Da Green Business Week ao Portugal Smart Cities Summit – como explica esta evolução?

A Green Business Week surgiu com a necessidade de incorporarmos a temática do ambiente e sustentabilidade nas nossas feiras, porque achámos que seria um tema que, com o tempo, adquiriria cada vez mais relevância na vida quotidiana. Por isso é que, em 2014, surgiu a ideia da Green Business Week, um projecto piloto que foi evoluindo até se tornar o que é actualmente, o Portugal Smart Cities Summit. A evolução deu-se de forma natural e a mudança de nome é o reflexo da evolução do próprio conceito em si. O novo naming vem nesse sentido e aplica-se àquilo que pretendemos com este upgrade da Green Business Week: aprofundar as temáticas relacionadas com as smart cities, sejam elas mobilidade, água e ambiente, resíduos, energia, até à transformação digital, IoT (Internet of Things) e big data. Os municípios, em conjunto com empresas, start-ups, universidades e politécnicos, têm dado inúmeras provas nos projectos que desenvolvem nesse sentido. Há alguns protótipos, outros projectos piloto já implementados e muitos são casos de sucesso. Queremos fazer deste evento o marketplace de excelência para potenciar parcerias de negócio, transferência de conhecimento do meio académico para o meio empresarial, debater ideias, adquirir mais conhecimento e networking, entre stakeholders nacionais e também internacionais.

A mudança do local da feira para um espaço de exposição maior é também um indicador. Como o interpretam?

É demonstrativo do sucesso do evento e da crescente importância que estas temáticas têm adquirido ao longo dos anos. Não só há uma maior representatividade do território como também empresas/entidades públicas e privadas/start-ups interessadas em participar na mostra tecnológica, em mostrar os seus produtos e/ou serviços e/ou projectos tecnologicamente mais inovadores, como também há um aumento de visitantes interessados nos diferentes temas presentes na iniciativa, porque o Portugal Smart Cities Summit é uma montra nacional e já com alguma relevância de presenças internacionais, com informações relevantes e úteis para o cidadão, seja profissional da área, seja apenas um cidadão que participa activamente na comunidade. Passámos de 2000 visitantes, em 2017, para 7000, em 2018, um aumento bastante significativo, o que justifica a mudança de espaço para a FIL, onde cada pavilhão tem 10 000 m2 e será possível conjugar da melhor forma a procura crescente que o evento tem tido.

O mercado das cidades inteligentes está já delineado em Portugal ou continua a haver alguma confusão sobre do que se trata?

Pensamos que ainda há muito por explorar no mercado das smart cities, não só em Portugal mas a nível global, sabendo, claro, que é uma área que, sem dúvida, marcará o nosso futuro. As smart cities englobam muitas temáticas: o financiamento, administração local, a mobilidade, questões relacionadas com a água e alterações climáticas, as energias renováveis, a transformação digital das cidades, da cibersegurança, da inteligência artificial, do IoT, da big data… entre muitos outros temas ligados às cidades e ao bem-estar dos cidadãos.

“A nossa expectativa é continuar a colocar o Portugal Smart Cities Summit como um evento de referência nacional e internacional, para empresas e profissionais dos diferentes clusters presentes no evento e apresentar uma panóplia muito diversificada de novidades tecnológicas e projectos inovadores, ano após ano”.

Os municípios têm sido grandes impulsionadores desta área, até mais do que as empresas. Enquanto organização desta feira, sentem essa dinâmica?

Existe uma grande competição, o que é saudável. Os responsáveis pela gestão municipal estão sempre em busca das soluções e dos projectos mais inovadores, todos eles com vista a um objectivo comum: facilitar a vida do cidadão no seu quotidiano. Por exemplo, na edição passada, o município de Viseu apresentou no Portugal Smart Cities Summit o primeiro veículo de passageiros autónomo do país. O Fundão apresentou um robô que distribui revistas e folhetos informativos, movendo-se através de um sensor de movimento. São apenas dois dos 17 exemplos de projectos de municípios para smart cities que tivemos oportunidade de conhecer na edição passada. Para este ano, aumentámos significativamente o número de municípios presentes, até porque o município nunca vem num formato institucional, mas promovendo o seu território, empresas e as suas incubadoras, uma mais-valia para o conteúdo do evento.

Quais são as áreas com mais força na edição?

Existe uma aposta muito grande nas conferências, o que consideramos ser um dos elementos diferenciadores do evento, isto porque é o que realmente transmite conhecimento, novas informações, apela ao debate e ao pensamento crítico. Temos já preparadas uma série de Conferências, voltando-se a repetir a Cimeira dos Autarcas e outras e introduzindo algumas novidades, como a Conferência Top Women, que junta mulheres que vêm singrando em universos maioritariamente masculinos com distinção e brilhantismo, a nível nacional e internacional. Reunimos alguns oradores nacionais e internacionais de renome, como o Executive VP & Chief Digital Officer Automotive da Bosch e o Head of GoGreen Deutsche Post da DHL. Pela primeira vez, nesta edição, vamos contribuir para ajudar profissionais do sector a encontrar emprego na sua área, como o Smart Job. Consiste no agendamento de Speed Datings for a Job, que reúne algumas das empresas e entidades expositoras que se encontram a recrutar. É uma oportunidade para todos aqueles, recém-formados ou com experiência, encontrarem novas oportunidades de carreira em sectores em franco crescimento.

Quais as vossas expectativas para a edição de 2019?

A nossa expectativa é continuar a colocar o Portugal Smart Cities Summit como um evento de referência nacional e internacional, para empresas e profissionais dos diferentes clusters presentes no evento e apresentar uma panóplia muito diversificada de novidades tecnológicas e projectos inovadores, ano após ano. Já crescemos muito a nível quantitativo e pretendemos continuar a trabalhar para tornar o Portugal Smart Cities Summit, anualmente, cada vez melhor nos conteúdos que apresenta. Este ano será, sem dúvida, um upgrade a todos os níveis em relação à edição passada. Depois, um próximo passo, que já estamos a iniciar desde há duas edições, é o de tornar o evento mais internacional, com a presença de mais empresas e oradores estrangeiros, para existir uma partilha de informação mais vasta. E também porque estamos empenhados em mostrar o que de melhor se faz em Portugal na área das smart cities, os softwares que desenvolvemos, os projectos de mobilidade que já temos em curso, nomeadamente, por exemplo, a rede de bicicletas partilhada da cidade de Lisboa, a app Mobicascais, uma aplicação de mobilidade integrada que conjuga os diferentes tipos de transporte do concelho, entre muitos outros casos de sucesso.

Tendo em conta esta edição, que tendências antecipam para o futuro próximo das smart cities em Portugal?

Pensamos que o caminho para um melhor entendimento do conceito de smart cities se faz a nível micro, começando pela administração local, passando pelo governo de um país, até alcançar um nível generalizado, macro, onde todos os cidadãos estão consciencializados do que é viver numa cidade smart. Tendo em conta as perspectivas de evolução mundial, sabemos que num futuro muito próximo mais de metade da população viverá nas grandes cidades. Criar uma smart city é criar um futuro sustentável, onde existe sinergias entre todos os sectores e uma harmonia entre o cidadão e a cidade.  Portugal caminha a passos largos para se tornar num país maioritariamente smart, uma vez que temos toda a conjuntura favorável para tal: a começar pela estabilidade político-social, o facto de sermos um dos melhores países para se viver, dos mais seguros do mundo, temos alguns dos melhores académicos da área e estamos a atrair as maiores empresas de tecnologia, como a Google e o Facebook.