Um grupo de investigadores do INESC TEC faz parte de um projeto europeu, o Emeritus, que junta nove países com a missão de melhorar a recolha de provas contra crimes ambientais relacionados com resíduos. Para isso, o consórcio está a desenvolver uma plataforma baseada em múltiplas fontes de dados que recorre a Inteligência Artificial (IA) testada por este instituto português de investigação e desenvolvimento, sediado no Porto.

A ferramenta deverá demonstrar uma série de tecnologias úteis à investigação de autoridades policiais e guardas fronteiriças, utilizando, por exemplo, imagens de satélites dos sistemas Copernicus, dados abertos e algoritmos de IA. Os testes são baseados em quatro casos de estudo: deteção da fonte de poluição da água; monitorização de centrais de armazenamento de lixo; controlo transfronteiriço de tráfico ilegal de resíduos (nomeadamente lixo tóxico); e identificação de depósitos ilegais de lixo.

No caso do INESC TEC, o trabalho dos investigadores está centrado em três áreas principais: terra, água e ar. A primeira foca-se na identificação de aterros ilegais e de alterações na utilização dos solos, através de redes neuronais que utilizam imagens de satélite. “Na prática, estas imagens são analisadas por algoritmos de visão computacional que sinalizam uma região ou um local onde há suspeitas de ter surgido um aterro ilegal”, diz à Smart Cities João Gama, investigador do INESC TEC. “É tudo feito a partir do Porto, mas através de algoritmos de Inteligência Artificial, ou seja, sem intervenção humana, que estarão disponíveis na plataforma Emeritus”, acrescenta o também professor da Faculdade de Economia da Universidade de Porto.

Já em matéria de água e ar, a equipa portuguesa recorre a modelos preditivos, sustentados em sensores e algoritmos de regressão ordinal, para detetar agentes poluentes nos rios ou comparar valores de poluentes aéreos com impacto na saúde humana.

Simultaneamente, o INESC TEC também está a trabalhar com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) a monitorização de movimentações de lixo em Portugal. “Uma vez que as transações de lixo entre empresas ficam registadas em base de dados, o nosso trabalho é analisar essas bases de dados e identificar eventuais anomalias, como lixo que aparece numa empresa sem se saber de onde ou lixo que, de repente, desaparece”, explica João Gama.

Para o investigador, não há dúvida “que as tecnologias de IA vão desempenhar um papel crucial e dar um salto qualitativo no combate ao crime ambiental, mas também na monitorização da desertificação, na identificação de fontes de poluição não humana e na deteção de problemas de qualidade do ar nas cidades”.

Lançado em setembro de 2022, o projeto Emeritus tem a duração de três anos e um orçamento de 5,9 milhões de euros, financiados pelo Horizonte Europa. Entre os vinte parceiros de nove países (Áustria, Bélgica, Grécia, Itália, Portugal, Espanha, Reino Unido, Roménia e Moldávia), apenas dois estão encarregues da vertente tecnológica: o INEC TEC e o Politécnico de Milão. Além da plataforma, também está a ser desenvolvido um protocolo de investigação relacionado com crimes ambientais e um programa de formação para entidades policiais.

 

Fotografia de destaque: © Emeritus