Portugal apresentou a Rede Nacional para o Desenvolvimento Sustentável, no auditório do CEiiA, em Matosinhos. Afiliada da Sustainable Development Solutions Network, pretende mobilizar a academia, as empresas e os governos para o cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.

Aprovada pelo Conselho Estratégico da SDSN Global, no passado dia 7 de junho 2023, a SDSN Portugal foi oficialmente apresentada, na presença da vice-presidente da SDSN Global, Maria Cortes Puch. Portugal junta-se a uma organização constituída por mais de 50 Redes Nacionais e assente em mais de 500 membros, em cerca de 80 países.

Congratulando-se com o lançamento da SDSN Portugal, Maria Cortes Puch partilhou a visão da casa-mãe, inscrita já nos primeiros nós da rede lançada ontem pela afiliada lusa. “Pensamos na rede como uma infraestrutura. Não queremos trabalhar em projetos individuais, mas trabalhar em ligação com outros projetos, com outros académicos e com novos investigadores”, sublinhou.

“A SDSN Portugal tem como objetivo mobilizar universidades, centros de investigação e outras redes e unidades de conhecimento, organizações da sociedade civil e empresas para criar sinergias para a promoção de soluções transformadoras que acelerem a implementação da Agenda”, disse Júlia Seixas, pró-reitora da Universidade Nova e Lisboa e presidente da SDSN Portugal. O projeto é uma parceria que junta, ainda, o CEiiA, em Matosinhos, representado por Maria João Filgueiras Rauch, responsável pela gestão da rede, e o Instituto Marquês de Valle Flôr (IMVF), instituição privada de utilidade pública vertida numa fundação para o desenvolvimento e a cooperação e a promoção da dignidade humana, representada por Ana Castanheira, responsável pela gestão da comunicação.

O “desenvolvimento de modelos inovadores de diálogo, que criem espaços de reflexão e criatividade”, juntando vários atores da sociedade civil e da academia, é outro dos objetivos da SDSN Portugal. Uma organização que pretende, ainda, “contribuir para o processo de tomada de decisão, demonstrando a oportunidade de soluções aos responsáveis”, dentro dos objetivos de desenvolvimento sustentável traçados pela A SDSN Global. Projeto das Nações Unidas lançado em 2012 pelo então Secretário-Geral, Ban Ki-moon, tem por objetivo mobilizar o conhecimento científico e a inovação na busca de soluções com vista à implementação dos ODS.

“Não estamos no ponto que esperávamos estar”

A sete anos da conclusão da agenda com vista à implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), Maria Cortes Puch admite que o Mundo está ainda longe dos objetivos. “Não estamos no ponto que esperávamos estar”, disse a vice-presidente da SDSN Global, sublinhando a unanimidade dos 193 estados-membros da ONU em reafirmar o compromisso pela sustentabilidade, em setembro, apesar das tensões geopolíticas que o mundo enfrenta e que indiciavam alguma tensão na votação final da Declaração Política da Cúpula dos ODS.

Aos 17 ODS estão associadas 169 metas e 248 indicadores globais. O INE monitoriza atualmente 170 indicadores, o que representa uma taxa de cobertura de 69%, segundo o Relatório Voluntário Nacional 2023 (RVN). De acordo com os dados, 61% das metas tiveram evolução positiva, 11% andaram no sentido contrário ao desejado, enquanto 9% não registou qualquer evolução. 19% das metas não foram avaliadas. “Temos bastante espaço para trabalhar na aceleração da implementação dos ODS em Portugal”, afirmou Júlia Seixas. “Os ODS parecem muito simples, mas é algo muito complexo em toda a cadeia”, alertou a presidente da SDSN Portugal. “Implica não só atingir uma meta, mas uma transformação de processos, de atores, de maneiras de fazer… Há toda uma vida por detrás de um ODS”, disse.

As vidas por detrás dos ODS foram levadas à sessão pela voz dos alunos da Escola Secundário João Gonçalves Zarco, em Matosinhos. Mariana Pereira, aluna do 12.º ano, e David Montenegro, do 10.º ano, partilharam alguns dos temas que preocupam os jovens, uma síntese saída dos debates nas aulas de Cidadania tão em linha com os objetivos de desenvolvimento sustentável.

“Preocupam-nos as alterações climáticas e, relacionado com esse tema, a mobilidade”, disse Mariana Pereira, lamentando a ausência de resposta da Câmara Municipal de Matosinhos às propostas para colmatar “a falta de uma rede de transportes eficaz” que alunos da “Gonçalves Zarco” levaram à autarquia. David Montenegro sublinhou as incertezas que enformam os sonhos de futuro dos jovens. O aumento da inflação, e consequente subida dos preços da alimentação, dos combustíveis, da habitação, que empurra os adultos de amanhã para uma vida fora do país, alertou.

Clima mais sensível às mudanças causadas pelo homem

Na agenda da SDSN Portugal está marcada a realização de uma conferência sobre sustentabilidade, preparatória da Cimeira do Futuro, marcada para setembro do próximo ano, em Nova Iorque, EUA.

Jeffrey Sachs, presidente da SDSN Global, marcou encontro com a afiliada portuguesa em solo nacional nessa mesma conferência, para a qual foi convidado no final da sessão de apresentação, ontem, no CeiiA. Sachs encerrou a sessão remotamente, deu as boas-vindas a Portugal à família SDSN e depositou na rede nacional para o desenvolvimento sustentável a missão de ajudar num desejável encontro com países africanos.

“O Mundo está longe de onde devia estar. Está cada vez pior, com mais violência e guerra”, lamentou o Jeffrey Sachs. O presidente da SDSN Global partilhou, ainda, as conclusões do novo estudo do cientista norte-americano James Hansen, segundo o qual o aquecimento global está a acelerar mais rapidamente do que o previsto.

O clima da Terra é mais sensível às mudanças causadas pelo homem do que os cientistas imaginavam e haverá uma explosão de aquecimento que levará o mundo a ficar 1,5ºC mais quente do que no período pré-industrial até ao final desta década e 2°C mais quente em 2050, prevê o artigo publicado ontem.

Segundo os dados do estudo liderado por Hansen, antigo cientista da NASA que emitiu um alerta sobre as alterações climáticas ao Congresso dos EUA na década de 1980, o mundo ultrapassará o limite internacionalmente aceite de 1,5ºC estabelecido no acordo climático de Paris muito mais cedo do que o esperado.