A electrificação e a mobilidade eléctrica vieram para ficar, mas a falta de infraestrutura, de vontade política e de incentivos são ainda entraves à massificação da tecnologia. Esta é uma das principais mensagens que resultaram do debate “O caminho para o desenvolvimento de Smart Cities em Portugal”, promovido pela BMW Portugal, na última quinta-feira e que contou com a presença de Eduardo Pinheiro, secretário de Estado da Mobilidade, José Ribau Esteves, presidente da câmara municipal de Aveiro, e João Peixoto, CTO da Critical TechWorks.

A fabricante alemã está a apostar na electrificação e a prova, referiu Massimo Senatore, director-geral da BMW Portugal, é que a marca, em 2023, vai disponibilizar 25 modelos totalmente eléctricos, com a promessa de, nos próximos cinco anos entregar, a cada ano, mais 50% de veículos 100% eléctricos. As previsões, aponta o responsável, são as de disponibilizar, em 2025, mais de dois milhões de viaturas.

A visão da marca automóvel passa por um futuro totalmente eléctrico, mas ainda se vai demorar algum tempo a lá chegar. Antes, há que assegurar, segundo Massimo Senatore, a disponibilidade do produto – diga-se, o modo de locomoção – mas também a infraestrutura pública. O director-geral da BMW Portugal aproveitou para salientar o papel de Portugal, elogiando o seu avanço nesta transição e referindo que, no ano passado, 10% das viaturas adquiridas foram eléctricas. Acontece que, acrescenta, a maioria das aquisições são de empresas – fruto, também, dos benefícios fiscais disponibilizados pelo Governo. No entanto, Massimo Senatore afirma que é necessário, também, a criação de medidas que incentivem o consumo por parte do cliente particular.

Embora reconheça que os países têm diferentes níveis de adesão a esta transição, Massimo Senatore afirma que a BMW quer, em 2030, ter 50% das suas entregas sejam veículos eléctricos – na marca Mini será a totalidade da produção. E é precisamente porque há países a diferentes velocidades que os fabricantes têm de, segundo o director-geral da BMW Portugal assegurar alternativas e assegurar viaturas mais eficientes. Isto porque, reconhece, há países que ainda não têm a infraestrutura ou a vontade política para fazer a mudança.

Eduardo Pinheiro, secretário de Estado da Mobilidade, foi um dos participantes no evento e fez questão de apontar o papel dos transportes nas cidades do futuro e enquanto “fomentadores da coesão social”. Segundo o esponsável, o papel do Governo passa, essencialmente, pelo financiamento de medidas que fomentem a mobilidade devidamente associada à sustentabilidade. No entanto, não basta uma solução, admitiu Eduardo Pinho e o “problema” da mobilidade tem de ser abordado com várias medidas em simultâneo para atingir, nomeadamente, o objectivo da neutralidade carbónica em 2050. Neste momento, no que toca à mobilidade eléctrica, os apoios disponibilizados pelo Governo incidem em benefícios fiscais para a aquisição de viaturas eléctricas e ascendem, segundo Eduardo Pinheiro, a quatro milhões de euros por ano. A isto, acresce o desenvolvimento da infraestrutura de postos de abastecimento e ainda o quadro legal, nomeadamente no que concerne às autarquias, por forma a que tenham poder de decisão sobre o seu território. Mas, mais do que tudo, é necessário haver uma estratégia nacional clara, com objectivos bem definidos.

Sobre o tema dos transportes e da sua importância na transformação das cidades, José Ribau Esteves, presidente da câmara municipal de Aveiro, não se coibiu de, por um lado, elogiar a decisão do Governo de descentralizar, referindo que os transportes foram a área com mais sucesso, mas, por outro, criticar o estado “desorganizado” do dossier que chegou à câmara aveirense. Um dos oradores convidados pela BMW Portugal, José Ribau Esteves deu a entender que há ainda muito por fazer e exemplificou com o território que “comanda” cuja concessão foi ganha por uma empresa do grupo Transdev, empresa com uma frota de 1500 autocarros, dos quais apenas três são eléctricos – que estão a operar em Aveiro. E é com base na experiência que o autarca de Aveiro apontou um problema à massificação deste tipo de equipamentos. Segundo Ribau Esteves, a câmara municipal demorou um ano a obter o licenciamento dos postos de carregamento necessários às três viaturas mencionados, o que significou que os autocarros estavam a ser carregados com geradores a gasóleo, o que desvirtua, por completo o recurso às energias limpas.

Mas Aveiro tem mais para dizer do que apenas a experiência de três autocarros eléctricos. No âmbito do Aveiro Tech City a mobilidade eléctrica é uma das estratégias para melhorar as “performances ambientais” da cidade. No âmbito do programa piloto, vão ser retirados os motores a combustão dos 27 moliceiros que circulam na ria de Aveiro e dotá-los de motores eléctricos. Neste momento, está a construir-se a infraestrutura de carregamento e o município tem dois anos para concluir a substituição. Mas há ainda outro investimento de peso: o ferryboat eléctrico. No total, são sete milhões de euros de investimento, comparticipado, em 40%, pelo PO SEUR – Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos.