O município de Matosinhos vai ser o primeiro do país a testar um mercado local voluntário de carbono. A iniciativa, que surge no âmbito de um protocolo entre o CEiiA e o ministério do Ambiente e da Acção Climática, celebrado ontem, pretende incentivar a adopção de comportamentos com menor pegada carbónica, que darão origem a créditos para venda, cuja receita será reinvestida em projectos de sustentabilidade.
Criar um ecossistema que incentive cidadãos e empresas a optar por comportamentos que evitem emissões de CO2 é o primeiro passo deste projecto. É a partir desses comportamentos que são gerados créditos, que, por sua vez, podem ser comprados por empresas que tenham como objectivo a neutralidade carbónica, de forma a compensar emissões que estas não conseguem eliminar na sua actividade. De modo a fechar o “círculo virtuoso”, a receita resultante da venda desses créditos vai poder ser utilizada pelos municípios como investimento em acções que a descarbonização, a economia verde e a circularidade.
Para além desta recompensa colectiva, os comportamentos sustentáveis vão também resultar numa recompensa individual, já que, ao optar por comportamentos com menos emissões, os cidadãos receberão descontos em bens e serviços verdes. Para que tudo isto funcione, será fundamental a plataforma tecnológica AYR, desenvolvida pelo CEiiA, na qual serão registadas todas as transações.
Matosinhos será, então, o primeiro município do país a implementar um mercado local voluntário de carbono piloto, alargando assim uma iniciativa semelhante que o CEiiA estava a levar a cabo junto dos seus trabalhadores desde 2019. O arranque da iniciativa foi oficializado ontem, numa cerimónia onde participaram a presidente da câmara municipal de Matosinhos, Luísa Salgueiro, o presidente executivo do CEiiA, José Rui Felizardo, e o ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes.
Com este modelo, consegue-se, “acima de tudo, atribuir um valor financeiro às emissões evitadas pelo comportamento dos cidadãos, valor esse que será reinvestido na região em actividades relacionadas com economia verde”, explica José Rui Felizardo, presidente do CEiiA. Nas expectativas do centro de investigação sedeado em Matosinhos, estes mercados podem contribuir para alcançar as metas nacionais e internacionais relacionadas com a redução de emissões de CO2, mas não só, já que abrem as portas a várias outras oportunidades.
Envolver os agentes, incluindo a sociedade civil, nesta matéria e incentivar empresas a compensar as suas emissões são duas delas, mas esta é também uma forma de promover o desenvolvimento económico local, através da dinamização da actividade de empresas associadas à cadeia de valor da economia verde e circular. O projecto pode ainda contribuir para a definição do “enquadramento necessário à criação de fundos locais de carbono, decorrentes do valor das compras dos créditos de carbono, que deverá ser investido em projetos que também contribuam para baixar as emissões de CO2”, explica o CEiiA em comunicado.