Sucesso! O Satélite português MH-1 já está no espaço. Foi lançado ontem pela SpaceX, na Califórnia, e seguido em direto por centenas de pessoas no CEiiA, em Matosinhos.
O “Aeros MH-1”, um nanossatélite de 4,5 quilos, seguiu num foguetão Falcon 9, que descolou da base da empresa SpaceX de Vandenberg, na Califórnia, nos EUA. O lançamento foi acompanhado de perto de uma equipa portuguesa, que se deslocou aos Estados Unidos para acompanhar o regresso de Portugal ao espaço.
A descolagem do foguetão foi seguida com entusiasmo por centenas de pessoas que se reuniram nas instalações do centro de engenharia de produto, em Matosinhos. Gritos e aplausos sublinharam o sucesso do lançamento do segundo satélite português, o primeiro desenvolvido, construído e operado em Portugal, pelo CEiiA, 30 anos depois da experiência PoSat.
O nanosatélite foi batizado com o nome de MH-1, num tributo a Manuel Heitor, o académico que dedicou parte da longa carreira a desbravar o caminho que posicionou Portugal como um ator importante do New Space.
“O que estamos aqui a fazer é sobretudo a pensar em futuros empregos para os jovens, e ao mesmo tempo em formas de olhar para a segurança dos cidadãos e para a nossa sustentabilidade ambiental”, afirmou Manuel Heitor, que em 2019, enquanto ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior – cargo que ocupou entre 2015 e 2022 – criou a Agência Espacial Portuguesa.
Recordando que o espaço oferece “essa conjugação de melhores empregos, melhores salários”, Manuel Heitor defendeu que desenvolver o setor permite também olhar para a sustentabilidade do planeta e para a segurança dos cidadãos.
O MH-1 trata-se de um 3U nano cubesat, com uma altura de 30 cm e que pesa 4,5 quilos. Equipado com uma câmara hiperespectral da Spinworks, com comunicações desenvolvidas pela Dstelecom e software da Thales, o MH-1 vai enviar, durante os próximos três anos, imagens e dados para estudo do oceano. Irá operar através do protocolo Argos, um sistema globalmente distribuído de plataformas remotas que recebe e retransmite dados oceanográficos e meteorológicos, e do LoRa, uma rede de área ampla para comunicação de rádio para dispositivos IOT (Internet Of Things).
Com os dados obtidos pelo novo satélite com as cores nacionais, será possível monitorizar a superfície do oceano e as condições meteorológicas, por forma a estudar alterações climáticas e monitorizar a cor, frentes e a fauna do oceano. O MH-1 tem capacidade para comunicar com outros satélites e sensores em meios no oceano, como por exemplo com os “tags”, dispositivos que recolhem dados de espécies marinhas de grande porte, também usados em veículos autónomos.
A altitude de voo do MH-1 foi escolhida de forma a maximizar o atrito no voo e a diminuir o tempo em órbita. Em 24 horas, o satélite português dará aproximadamente 16 voltas à Terra, a 540 quilómetros de altitude.
De acordo com Rui Magalhães, diretor da unidade de Espaço do CEiiA, “um dos principais desafios do projeto Aeros”, que em junho era um protótipo, foi transformá-lo num “sistema espacial voador”, o MH-1.
O MH-1 é resultado de uma parceria internacional com o Massachusetts Institute of Technology (MIT). Liderado pela Thales Edisoft Portugal e pelo CEiiA, envolveu um consórcio de 12 entidades, entre as quais as empresas SpinWorks e Dstelecom e as Universidades do Minho, do Porto e do Algarve, além do Instituto Superior Técnico (IST), o CoLab + Atlântico, o Okeanos e o Air Centre.
O CEiiA é o proprietário do satélite e foi responsável pelo desenvolvimento da estrutura e pela integração completa, incluindo os testes de qualificação e logística associada ao lançamento. A operação do MH1 será assegurada pela GEOSAT, participada do CEiiA, e Omnideia. A Opencosmos desempenhou um importante papel na logística de suporte ao lançamento. De destacar também a importância da Autoridade Nacional das Comunicações (ANACOM), no processo de licenciamento do satélite.
O “Aeros”, que começou a ser trabalhado em 2020, representa um investimento de 2,78 milhões de euros, cofinanciado em 1,88 milhões de euros pelo Feder – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.
O lançamento deste satélite representa um passo numa estratégia bastante mais alargada na área do Espaço, que envolve o desenvolvimento da primeira família de satélites de alta e muito alta resolução que está já a ser produzido em Portugal, no CEiiA, com a inglesa Opencosmos e a alemã OHB.
Esta nova geração de satélites irá substituir os atuais satélites da Geosat (que é, a par da Airbus, um dos dois operadores de satélites de muito alta resolução da Europa) e faz parte da participação portuguesa da Constelação do Atlântico.