Está concluída e disponível para municípios, investigadores e outros agentes uma nova plataforma digital de smart cities para modelação e planeamento urbano, criada no âmbito do projeto C-Tech – Climate Driven Technologies for Low Carbon Cities. Esta utiliza uma representação tridimensional, dados da rede móvel de telecomunicações e outros indicadores (como o clima, o consumo de energia e de água ou o trânsito) de modo a simular diferentes cenários e, assim, apoiar a tomada de decisão das cidades. A apresentação e demonstração aconteceu na passada quinta-feira, em Lisboa.

Para já, incide sobre três freguesias de Lisboa – Marvila, Beato e Parque das Nações – e integra vários módulos (apps), resultantes do trabalho realizado por cada um dos parceiros do projeto. Liderado pela NOS, este consórcio tem como copromotores o Massachusetts Institute of Technology (MIT), o Instituto Superior Técnico (IST), a NOVA Information Management School (IMS), o CEiiA – Centro de Engenharia e Desenvolvimento e a Lisboa E-Nova, Agência de Energia e Ambiente de Lisboa.

Entre as aplicações disponibilizadas pelo C-Tech está um indicador de caminhabilidade, desenvolvido pela NOVA IMS na zona piloto de intervenção, que mede o nível de conforto pedestre nas ruas, ou seja, as variáveis que influenciam a decisão de uma pessoa andar (ou não) a pé. Entre elas estão, por exemplo, a largura e inclinação dos passeios, a existência de sombras ou a acessibilidade a serviços e áreas de lazer, como restaurantes, bares, marinas, parques ou jardins. “Ao analisar dados de sinais de telemóveis, identificamos associações fortes entre os o indicador de caminhabilidade e o fluxo de pedestres e que estas associações variam consoante o período da semana”, explicam os autores do trabalho, que recorreram também ao portal de dados abertos de Lisboa, ao OpenStreetMap e mesmo a fotografias aéreas de Lisboa.

Ainda na área da mobilidade urbana, a NOVA IMS também criou, por exemplo, um indicador que avalia o risco de estacionamento ilegal na capital e outro sobre os níveis de ocupação das docas de estacionamento das bicicletas partilhadas de Lisboa, as Gira. Já o CEiiA dedicou-se a um modelo de otimização de frotas de transportes públicos, que faz corresponder a procura e o número de passageiros aos veículos disponíveis, maximizando o serviço aos utilizadores e minimizando os custos dos operadores.

Edifícios mais eficientes e sustentáveis

A eficiência energética dos edifícios é outro dos campos de trabalho do projeto C-Tech, desenvolvido sobretudo pelo Instituto Superior Técnico. Este elaborou modelos que permitem simular diferentes cenários de eficiência energética dos edifícios, calcular o conforto térmico das casas ou identificar possíveis obras e estratégias de combate à pobreza energética, como a instalação de painéis solares, a substituição de janelas ou o isolamento das paredes. A ideia passou por disponibilizar um simulador que permita aos utilizadores simular o impacto de cada medida, tanto no consumo de energia como na redução das emissões de carbono.

Também neste caso, o comportamento dos grupos de utilizadores por via do uso dos telemóveis é determinante. Isto porque ajuda, por exemplo a conhecer os padrões de ocupação dos edifícios, como a hora a que as pessoas entram e saem de casa, e consequentemente, as suas necessidades energéticas por período do dia.

A estas possibilidades, o IST junta também um modelo que permite medir o potencial de instalação de uma horta urbana na cobertura de um edifício, incluído quais os produtos que mais se adequam ao tipo de construção. Para isso, foram tidos em consideração fatores como a exposição solar ou a capacidade de aplicação de sistemas de hidroponia (que permitem cultivar plantas sem utilização de solo, recebendo os nutrientes através da água).

Presente e futuro do C-Tech

Para Pedro Machado, head of B2B new business da NOS, este projeto tem a capacidade de analisar e permitir atuar sobre “a forma como o pulsar da cidade impacta na eficiência energética dos edifícios e na sustentabilidade urbana”. “Através do poder dos dados conseguimos entender qual é a real procura e necessidade de mobilidade das pessoas e famílias que vivem numa cidade e, com isso, otimizar a oferta disponível, fazendo uma gestão muito mais dinâmica em tempo real”, acrescentou o responsável da empresa, em entrevista à Smart Cities.

Uma vez que algumas das informações recolhidas dizem respeito às comunicações móveis dos utilizadores, como garantir a proteção total dos dados? Ricardo Dinis, gestor de projetos de I&D em rede móvel da NOS explica que “todos os campos com dados pessoais são pseudo-anonimizados logo à entrada da plataforma e, depois de serem geo-localizados, todos as zonas de baixa densidade ou áreas com um número reduzido de eventos são descartados e removidos. Isto para evitar que seja possível fazer a identificação de indivíduos”. O objetivo é garantir que estes dados tenham apenas fins estatísticos, de modo a trabalhar-se com números agregados e tendo em consideração os movimentos da população como um todo.

Para o futuro, o C-Tech tem por objetivo alargar o âmbito do projeto, para lá das três freguesias atuais, de modo a atuar sobre concelhos inteiros e outras cidades, incluindo no estrangeiro. Para isso, Pedro Machado diz que é preciso fazer duas coisas essenciais: “em primeiro lugar, testar e fazer correr este modelo em cenários muito diferentes do que já foi testado, de forma a servir os propósitos não só de Lisboa, e depois tornar toda esta inteligência produtizável para que possa vir a estar disponível noutros municípios”.