Esta manhã, um rebanho de 20 ovelhas vai pastar no Parque da Bela Vista Sul, em plena Lisboa. A acção experimental acontece no âmbito do projecto europeu LIFE LUNGS e tem como objectivo usar as ovelhas como “agente urbano não mecânico de controlo de vegetação e conservação do solo”.
Esta é a primeira de 14 saídas previstas até Maio para as ovelhas da Quinta Pedagógica, tendo início ainda durante o ano em que Lisboa é Capital Verde Europeia. O Parque da Bela Vista Sul é o local escolhido para esta estreia, sendo que o rebanho irá pastar numa área onde foi instalado um prado de sequeiro biodiverso, rico em leguminosas. Este prado funciona como um coberto alternativo à relva tradicional, sem necessidade de irrigação, tem alto poder de fixação de carbono e azoto estável e é promotor de biodiversidade, explica a câmara municipal de Lisboa.
Com a acção de pastoreio, a manutenção da infra-estrutura verde da cidade passa a exigir menos esforço humano e a usar menos energia associados ao corte tradicional. A ganhar ficam ainda os serviços de ecossistema das pastagens, nomeadamente com o aumento de matéria orgânica do solo. Conforme explica o município, tal vai contribuir para a estabilização do solo, assim como para controlar a taxa de erosão do mesmo.
Para além de acontecer no momento em que a cidade portuguesa se prepara para entregar o título de Capital Verde Europeia a Lahti (Finlândia), a acção é também uma forma de homenagear o recentemente falecido Gonçalo Ribeiro Telles, já que esta era uma ideia defendida pelo arquitecto paisagista, revela a autarquia.
O que é a infra-estrutura verde?
A estratégia da União Europeia para a infra-estrutura verde, lançada em 2013, define o conceito como uma “rede estrategicamente planeada de zonas naturais e seminaturais, com outras características ambientais, concebida e gerida para prestar uma ampla gama de serviços ecossistémicos. Incorpora espaços verdes (ou azuis, se envolver ecossistemas aquáticos) e outras características físicas em zonas terrestres (incluindo as costeiras) e marinhas. Em terra, a infra-estrutura verde está presente em meios rurais e urbanos”.
Na infra-estrutura verde estão incluídos os territórios que fazem parte da rede Natura 2000, mas também outros espaços naturais e seminaturais, como ” parques, jardins privados, sebes, faixas-tampão com vegetação ao longo dos rios ou paisagens agrícolas ricas em estruturas com determinadas características e práticas, além de estruturas artificiais como telhados e paredes verdes, ou pontes ecológicas e passagens para peixes”.
Segundo a avaliação mais recente dos progressos feitos no âmbito desta estratégia europeia, os benefícios anuais estimados dos serviços de ecossistemas prestados pela globalidade da infra-estrutura verde europeia “ultrapassam largamente” os 300 mil milhões de euros.
LIFE LUNGS: a infra-estrutura verde como ferramenta de adaptação
O projecto LIFE LUNGS arrancou em Setembro do ano passado, dispondo de um financiamento de 2,7 milhões de euros com origem no programa europeu LIFE. A decorrer até 2024, o projecto está a ser desenvolvido nas cidades de Lisboa e Málaga (Espanha), com o objectivo de contribuir para a implementação da Estratégia Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas, recorrendo à infra-estrutura verde urbana como uma ferramenta.
Neste âmbito, Lisboa tem já a decorrer seis acções de implementação, incluindo a melhoria, instalação e operação de prados sequeiros biodiversos na Bela Vista e no Alto da Ajuda, o pastoreio de rebanho de ovelhas, medidas para gestão da água, como a melhoria da bacia de retenção na Bela Vista Sul e a instalação de uma área de zero desperdício de águas pluviais no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), e a plantação de 4000 árvores e arbustos.
O projecto prevê ainda a criação de um Open Desk Office, com vista a promover a replicação e transferência das acções na Área Metropolitana de Lisboa, e a transferência e replicação de resultados, através do envolvimento de partes interessadas.
Os resultados esperados para estas iniciativas são vários e vão desde o aumento da resiliência do solo à erosão e a eventos de precipitação extrema ao aumento das zonas de sombreamento, mitigação das ondas de calor e da capacidade de sequestro de carbono, entre outros.