Contra o mito de que só as grandes cidades podem ser smart, Lagoa, nos Açores, quer provar que, nesta estrada, não só o tamanho não importa, como a insularidade pode ser, afinal, uma vantagem. Com uma estratégia até 2020, os objectivos de Lagoa passam pela afirmação enquanto cidade inovadora, empreendedora e capaz de atrair jovens e empresas dinâmicas.
Situado na costa Sul da ilha de São Miguel, o concelho de Lagoa tem uma população de quase 15 mil habitantes. Um número pequeno quando comparamos com Lisboa ou Porto, mas ainda assim Lagoa orgulha-se de ser “uma área de atracção e fixação da população”. ”Se, para alguns, surge como o concelho ideal para habitar, para muitos outros, surge como o espaço ideal para viver, trabalhar e educar as futuras gerações”, explica a presidente da câmara municipal, Cristina Mota. As razões são várias, diz a autarca – que é uma das jovens do país – e vão desde a localização geográfica e condições naturais às políticas públicas que têm sido tomadas no município. “Nos últimos anos, fruto de uma constante aposta no tecido empresarial local e na valorização das actividades comerciais, a Lagoa tem conseguido promover o crescimento das actividades económicas locais, fonte de rendimento, emprego e bem-estar para as famílias aqui residentes. Por outro lado, a Lagoa é dotada de uma rede de escolas com boas infra-estruturas e de uma unidade de saúde pública moderna, oferecendo, desta feita, aos seus habitantes bons cuidados de saúde e educação, adequados às necessidades da população local”, enumera.
Já a questão da insularidade, explica Cristina Mota, tem sido “mais do que um obstáculo”. Na verdade, a cidade prefere ver este factor como “um elemento que incentiva a procura incessante por uma melhor qualidade de vida”. As palavras da presidente da câmara municipal reflectem uma atitude que não é exclusiva da cidade, mas que se observa um pouco por todo o arquipélago e que, perante a actualidade, faz cada vez mais sentido – “Quando se observa a realidade actual global, o conceito de ilha desvanece-se ainda mais. As tecnologias de informação e comunicação surgem como elementos facilitadores que derrubam os obstáculos e as limitações criadas pela localização e/ou distância”, explica. Por esse motivo, “as condições insulares devem ser entendidas como sendo um factor de atracção”. “Lagoa assume a sua condição de ultraperiferia, afirmando-se como laboratório vivo, equidistante dos continentes europeus e americanos, localização ideal para a incubação de projectos multinacionais”.
A realização do evento Lagoa Smart City 2020 – Desafios das Cidades Inteligentes, em meados de Abril, marcou o arranque de uma nova fase do plano estratégico da cidade neste sentido, “permitindo reforçar o compromisso público e a partilha por parte de diferentes stakeholders de visões diversas e soluções tecnológicas, possibilitando a difusão de conhecimentos e experiências muito enriquecedoras”. A visão da autarquia prevê um equilíbrio entre o uso das novas tecnologias e o papel das pessoas na cidade. “O elemento central de toda a engrenagem é o cidadão”, afirma a responsável, admitindo que “os grandes desafios para as cidades passam por conseguirem conjugar a atracção e fixação de pessoas, instituições e empresas com a conservação e sustentabilidade dos recursos naturais”.
Esta cidade de São Miguel não é excepção, mas o futuro é promissor. “Numa visão mais social, a Lagoa atrai pelo seu potencial e pelo seu carácter reprodutivo, multiplicador e intergeracional, reflexo de uma política de desenvolvimento consolidado. Sob uma óptica mais tecnológica, a cidade é reflexo da aposta no comércio e produção de tecnologias, métodos de investigação inovadores que culminam na modernização da estrutura económica local”, argumenta Cristina Mota.
A seu favor a cidade conta ainda com outros pontos fortes, nomeadamente o domínio das infra-estruturas tecnológicas, que ganha forma no NONAGON – Parque de Ciência e Tecnologia, o primeiro do género nos Açores. A infra-estrutura faz deste um local mais atractivo para a fixação de empresas de base tecnológica, mas não só. Para além disso, revela a autarca, o município está também atento às oportunidades de financiamento vindas de Bruxelas, estando envolvido em candidaturas e consórcios europeus, como o Horizonte 2020 ou o Programa MAC 2014-2020 – Smart Cities, e às diversas iniciativas nacionais e internacionais de partilha de conhecimento e experiências que vão surgindo, como a Rener Living Lab – Smart Cities Portugal, o Pacto dos Autarcas e o Green Digital Charter.
No plano para o futuro da cidade, Cristina Mota vê “uma cidade mais sustentável, que envolverá activamente as pessoas, as empresas e as instituições”. Uma “cidade de todos e para todos, catalisadora de empresas inovadoras e empreendedores pro-activos com projectos e actividades regionais, nacionais e internacionais”, reforça a governante, apontando o futuro como “inclusivo, com um crescimento competitivo baseado na inovação, conhecimento e investigação”.