É possível que uma pequena comunidade piscatória como a Afurada se torne num exemplo de descarbonização e aponte soluções de sustentabilidade para o futuro de um dos mais populosos concelhos do país? O Afurada Living Lab, em Vila Nova de Gaia, mostrou que sim. Durante os últimos três anos, este laboratório urbano testou diversas tecnologias e ações experimentais em áreas como a economia circular, a mobilidade ou a eficiência energética e esta esta terça-feira (26/03) apresentou os resultados finais do projeto.

No total, foram evitadas mais de 13 toneladas de CO2 e mostrou-se como a transformação de lixo em novos produtos, o uso eficiente de redes de bicicletas elétricas e a partilha de energia podem ser boas apostas no caminho da transição energética. Além de validadas soluções tecnológicas e serviços inovadores, constatou-se também que o envolvimento das comunidades e de diversos atores é fundamental para o sucesso de iniciativas piloto como esta, que depois podem ganhar escala e serem aplicadas noutros territórios.

Para António Miguel Castro, presidente da Gaiaurb, “o Afurada Living lab é um meio para conseguirmos prototipar um conjunto de respostas que o município está a tentar implementar no território e que, por ser testado numa área pequena, permite que seja realizado de forma ágil”. Além disso, “mostrou que a partilha entre o setor público e privado, bem como o envolvimento dos cidadãos, tornam possível criar um impacto social positivo e trazer mais tecnologia e inovação ao setor da sustentabilidade”, disse à Smart Cities o responsável da empresa municipal, uma das parceiras desta iniciativa.

Foi ela que dinamizou, por exemplo, o Afurada Upcycle, uma ação dedicada à promoção da circularidade, da reciclagem e da reutilização de materiais. Na prática, a comunidade escolar desta freguesia aproveitou o lixo recolhido pelos pescadores locais e transformou-o em novos produtos com a ajuda de máquinas de upcycling. Uma ideia ainda pouco explorada no país que, no futuro, poderá vir a ser partilhada com vários municípios nacionais.

Outro parceiro, o CEiiA, dinamizou a Bike Afurada, uma rede de bicicletas elétricas partilhadas que tem como missão contribuir para a redução das emissões de CO2. Para isso, foi criada uma app própria capaz de quantificar as emissões evitadas em cada deslocação. Estas são depois evitadas em tokens, que podem ser trocados por bens, serviços ou benefícios no ecossistema da Afurada, recompensando os comportamentos sustentáveis.

Já na área temática da Energia e Edifícios foi crida a Comunidade de Energia Renovável da Afurada, que instalou painéis fotovoltaicos em três edifícios da freguesia: o Centro Interpretativo do Património da Afurada, a Escola Básica Afurada de Baixo e o Mercado da Afurada. A gestão de energia desta comunidade assenta numa plataforma na cloud, com recurso à inteligência artificial, e permitiu gerar 44 por cento do autoconsumo energético destes três edifícios, num total de 27,4 MWh.

Por fim, está ainda prevista a instalação de quatro contentores inteligentes de recolha de biorresíduos, que permitirão monitorizar a quantidade de lixo depositado.

Como afirmou António Miguel Castro, “o objetivo nunca foi fazer rocket science, mas ter projetos que possam, para já, dar respostas às necessidades do município e da comunidade da Afurada, e depois, conseguir que as soluções mais desafiantes possam ser replicadas noutros sítios, sem esquecer a importância de motivar a população, para que ela possa continuar as ações depois de concluído o projeto piloto”.

Desenvolvido durante três anos, o Afurada Living Lab teve um investimento superior a um milhão de euros, concretizado com o apoio do programa Ambiente, Alterações Climáticas e Economia de Baixo Carbono dos EEA Grants. Resultou de uma parceria entre a CEDES – Associação para um Centro de Estudos em Desenvolvimento Sustentável, o município de Vila Nova de Gaia, a GAIURB, a Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia de Trondheim, a dst solar, a Innovation Point, a Watt Is, a Ubiwhere e o CEiiA.

Fotografia de destaque: © Afurada Living Lab