O futuro está nas crianças e como, além disso, são autênticas esponjas a absorver todo o conhecimento (sem esquecer que têm um impacto directo nos comportamentos das famílias onde estão inseridos), a câmara municipal de Cascais tem levado a cabo, nos últimos anos, diversos programas no sentido de aproximar as crianças do meio ambiente e das boas práticas de sustentabilidade. A Smart Cities conversou com Luís Capão, presidente do Conselho de Administração da Cascais Ambiente, que explicou tudo sobre as Hortas na Escola.

Em que consiste, exactamente, o projecto Hortas na Escola?

O programa Hortas nas Escolas foi desenvolvido pela Cascais Ambiente, em articulação com o Departamento de Educação da câmara municipal. Foi criado há nove anos como uma ferramenta de educação ambiental, através da qual é possível observar os ritmos da natureza e participar neles. Através deste programa, as escolas recebem todo o apoio na fase de planeamento, montagem e execução da horta, assim como plantas (hortícolas, aromáticas e flores comestíveis), fertilizantes orgânicos, ferramentas, sistema de rega e apoio aos trabalhos com a terra. Os membros da comunidade educativa podem ainda participar em formações creditadas. Temos também um caderno orientador e formadores sempre disponíveis para apoiar a comunidade escolar a desenvolver as suas hortas.

Qual o seu objectivo e a quem se dirige? 

O programa faz parte de uma visão que a autarquia e a Cascais Ambiente têm para Cascais:  a integração dos ciclos de vida naturais no quotidiano das pessoas, o que inclui a produção e consumo de alimentos locais, sazonais e biológicos, a interpenetração dos espaços rurais e naturais nos espaços urbanos e a promoção de hábitos de vida saudáveis. A educação dos mais jovens é fundamental para ampliar progressivamente esta estratégia para o futuro. Ao inserir as hortas escolares nos projectos pedagógicos, envolvendo alunos, professores, auxiliares e pais, garantimos que a mensagem da sustentabilidade chega à maioria da população cascalenses. O programa está disponível para todas as escolas da rede pública e privada do concelho de Cascais, desde o ensino pré-escolar ao ensino secundário, incluindo estabelecimentos de ensino e formação profissional, assim como IPSS e/ou centros de actividades de tempos livres.

Quantas escolas (e alunos) já participaram no projecto? E este ano? 

Desde o início do programa, no ano lectivo de 2012/2013, já participaram 70 escolas e 23 400 alunos. No presente ano lectivo, estão inscritas 36 escolas com a participação de cerca de 4 mil alunos. Em relação à formação em Agricultura Biológica (25h), creditada para efeitos de progressão na carreira dos docentes, foram formados até hoje 195 profissionais de ensino.

“O próximo passo é divulgar o projecto e dinamizar para que outros concelhos o possam adoptar ou adaptar. Este é um projecto pioneiro para fora das fronteiras do concelho. Temos tido alguns pedidos de apoio e seria interessante ver vertido em programas educativos de âmbito nacional as boas práticas que desenvolvemos com este projecto.”

Em que medida este projecto contribui para a sustentabilidade de Cascais e das metas estabelecidas pela Comissão Europeia?

As Hortas nas Escolas contribuem para o sucesso do Pacto Ecológico Europeu para 2021-2027, estabelecido pela Comissão Europeia, que visa a implementação de um sistema alimentar neutro em carbono, circular, resiliente e eficiente em termos de recursos, restaurando a biodiversidade e promovendo a sustentabilidade e dietas saudáveis para os cidadãos.

As hortas escolares desenvolvidas em agricultura biológica são também mais-valias pelos contributos relacionados com a mitigação das alterações climáticas, prestação de diversos serviços de ecossistema e de sustentabilidade, que lhe são inerentes. A agricultura biológica fornece serviços para o ambiente (redução de utilização de combustíveis fósseis, conservação da fertilidade do solo e da qualidade da água, diminuição da poluição e preservação da biodiversidade); para a saúde humana (limitando a exposição a substâncias químicas nocivas); e para a preservação da biodiversidade e da paisagem (pela eliminação de agroquímicos sintéticos).  

O programa Hortas nas Escolas enquadra-se também na implementação do 11º Objectivo do Desenvolvimento Sustentável, inserido na resolução da Organização das Nações Unidas – “Transformar o nosso mundo: Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável”, que pretende “Tornar as cidades e comunidades inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis”.

De que forma este projecto se interliga com outros projectos já existentes no concelho? 

As Hortas nas Escolas são indissociáveis dos restantes projectos de promoção e dinamização dos espaços verdes naturais e urbanos de promoção e dinamização de espaços verdes naturais e urbanos da câmara municipal de Cascais, desde as hortas dos munícipes e às acções de sensibilização ambiental feitas de forma sistemática junto das escolas e população em geral. A Quinta do Pisão é um óptimo exemplo da ligação de todas estas áreas: ali temos uma horta em funcionamento e ao serviço dos consumidores, animais, paisagem florestal e um centro interpretativo e educativo. Com todos estes recursos, conseguimos passar boas práticas agrícolas para futuros agricultores ou cidadãos e consumidores conscientes.

Já conseguem fazer uma avaliação do projecto?  

Sim. As escolas que temos acompanhando desenvolvem as hortas com o intuito de proporcionar aos alunos o contacto com a natureza e a produção de alimentos, com todos os benefícios de sensibilização ambiental e de alimentação saudável que essa experiência permite. O grande salto evolutivo que verificámos foi quando as hortas passaram a servir de ferramenta para leccionar e explorar conteúdos pedagógicos, ou seja, como sala de aula viva onde os professores podem ensinar. Por exemplo, no Estudo do Meio, o ciclo de vida das plantas através da observação da semente até à formação do fruto ou, no caso da Matemática, a divisão através do cálculo da quantidade de composto a aplicar por metro quadrado de horta. Para além deste importante contributo pedagógico das Hortas nas Escolas, sentimos também uma evolução na função social que as mesmas têm vindo a proporcionar, através do envolvimento de toda a comunidade do município, nomeadamente os alunos, professores e funcionários das escolas, os pais, os voluntários seniores e várias instituições e associações. A grande participação dos cidadãos nas questões ambientais do concelho, como o voluntariado e o associativismo, é outro bom indicador do trabalho de conjunto que está a ser feito e de que as hortas nas escolas fazem parte.

Qual será o futuro do projecto? 

Para além do apoio técnico, fornecimento de recursos e formação, seria essencial um papel mais activo nas escolas, nomeadamente através da implementação de actividades pedagógicas, ligadas à preservação da biodiversidade, limitação natural, fertilidade do solo, compostagem, alimentação saudável e sustentabilidade dos sistemas alimentares, redução dos desperdícios, mitigação das alterações climáticas. Estamos disponíveis para alargar o impacto que podemos ter nas escolas, assim queiram as direcções. O próximo passo é divulgar o projecto e dinamizar para que outros concelhos o possam adoptar ou adaptar. Este é um projecto pioneiro para fora das fronteiras do concelho. Temos tido alguns pedidos de apoio e seria interessante ver vertido em programas educativos de âmbito nacional as boas práticas que desenvolvemos com este projecto.