Entre gritos de “mudar o sistema, não o clima”, Greta Thunberg chegou a Lisboa esta terça-feira. Depois de cruzar o Oceano Atlântico numa viagem que durou 21 dias e que viu o catamarã onde seguia com uma equipa de velejadores enfrentar ondas de “sete metros”, a activista sueca colocou os pés em terra firme “energizada” e com vontade de “continuar a luta” na COP25, a conferência das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas, que decorre em Madrid até ao próximo dia 13 de Dezembro.

Atravessar o Oceano Atlântico levou três semanas, numa viagem ao sabor do vento e praticamente sem emissões de gases com efeito de estufa. Greta Thunberg não viajou deste modo porque pretende “que todos façam assim”, mas fê-lo “para enviar a mensagem de que hoje é impossível viver de forma sustentável e isso precisa de mudar, precisa de se tornar muito mais fácil”, contou a activista pelo clima ao chegar a Lisboa e ao enfrentar as centenas de activistas, jornalistas e câmaras que se lhe apresentavam diante de si, na Doca de Santo Amaro, em Lisboa. “Não estou a dizer a ninguém como viajar ou como não viajar, mas é claro que há alternativas mais sustentáveis”, sublinhou Greta Thunberg, acrescentando que “seria absurdo” fazer as pessoas depender de velejadores para viajar entre oceanos.

O vento daquela manhã não ajudou. A chegada estava prevista entre as oito e as nove da manhã, mas só depois do meio-dia o catamarã Sailing La Vagabonde dava entrava no porto de Lisboa. Para chegar à Europa, a activista sueca apanhou boleia de um casal de velejadores que documenta as suas viagens na plataforma de vídeos YouTube, desde a costa Este dos Estados Unidos da América até Lisboa. Esta é uma viagem que “não é recomendável nesta altura do ano”, conta Riley Whitelum, velejador e dono da embarcação que trouxe Greta Thunberg a Lisboa. Foi “uma grande aventura”, disse a activista, que revelou também ter tido oportunidade para “relaxar”. Durante a viagem, enfrentaram ondas de “sete metros” e ventos superiores a 80 quilómetros por hora.

“Os cientistas precisam de ser ouvidos”

Greta Thunberg assumiu ter saído da viagem “energizada” e deverá, em breve, viajar de comboio para Madrid, onde participará na COP25, a conferência das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas, que decorre entre os dias 2 e 13 de Dezembro e junta cientistas, decisores políticos e países signatários do Protocolo de Quioto e do Acordo de Paris.

A activista sueca de 16 anos vai a Madrid “para garantir que, dentro daquelas paredes, as vozes das pessoas das próximas gerações estão a ser ouvidas”, já que “nenhum país no mundo está a fazer o suficiente” em matéria de acção climática, considera. Para esta cimeira, Greta Thunberg espera que os “líderes mundiais finalmente entendam a urgência e ajam de acordo com a ciência”, apelando à cooperação internacional e à necessidade de “tratar esta crise como uma crise”. Para a sueca, até “pode ser” que a conferência não traga reais avanços contra as alterações climáticas, mas “isso nunca pode ser a razão para não se fazer tudo para garantir que esse desfecho seja diferente”, prometendo continuar a pressionar para garantir que “as pessoas no poder priorizam [esta luta] ao nível mais alto”.

À chegada a Lisboa e questionada sobre se tinha um plano concreto para apresentar aos políticos presentes na COP25, Greta respondeu que a sua exigência “é que as pessoas no poder oiçam a ciência”. “Claro que nos devem ouvir a nós, crianças, mas nós não somos os especialistas, quem deve ser ouvido são os cientistas e os especialistas. O que estamos a pedir é que se unam por detrás da ciência. Não nos deve caber a nós, crianças e adolescentes, apresentar planos para assegurar as condições de sobrevivência futura”, sublinhou.

 

Foto: © Twitter @GretaThunberg