Chama-se Bee2WasteCrypto e quer ajudar os cidadãos a ganhar criptomoedas enquanto reciclam ou reutilizam os seus resíduos. A plataforma apresenta-se como a primeira ferramenta tecnológica a oferecer uma solução integrada para a gestão dos resíduos urbanos, desde a produção até à transformação. Para além das potenciais vantagens para o utilizador, a plataforma traz também, para os municípios, a oportunidade de reduzir custos com a gestão de resíduos. A Arruda dos Vinhos já aderiu à iniciativa e está, por agora, a estudar o seu funcionamento.

A Bee2WasteCrypto recorre à inteligência artificial e à tecnologia blockchain para a quantificação, caracterização da produção e optimização das tecnologias a usar na gestão dos resíduos urbanos. Com base em dados de alta resolução sobre a produção de resíduos, este projecto permite que as Entidades de Gestão de Resíduos projectem e façam a gestão de soluções descentralizadas ideais para cada região, além de promover uma produção de resíduos mais sustentável.

O projecto vai permitir às Entidades de Gestão de Resíduos optimizar a sua operação, através da implementação de sistemas Pay-As-You-Throw (PAYT). Estes incentivos, do tipo PAYT, têm como objectivo estimular boas práticas de reciclagem e de reutilização nos cidadãos, recompensando-os com criptomoedas. Desta forma, as empresas de gestão poderão alavancar os seus negócios, dando parte do seu lucro aos cidadãos. A ideia é, então, gerar “créditos de reciclagem”, à semelhança dos créditos de carbono em uso no sector de energia.

Esta nova plataformafoi criada pela Compta, NOVA Information Management School, Instituto Superior Técnico e a empresa 3drivers. A iniciativa foi um dos dez projectos seleccionados pelo Programa Carnegie Mellon, uma parceria internacional que reúne empresas e universidades portuguesas, e equipas de investigação da universidade americana Carnegie Mellon University. O projecto conta com uma linha de financiamento de 2,7 milhões de euros do COMPETE 2020 e da FCT.

Arruda dos Vinhos estuda o sistema

O objectivo do projecto passa por maximizar a dimensão económica e minimizar o impacto ambiental da gestão de resíduos, com base numa filosofia de economia circular, aumentando, também, o valor económico dos resíduos. Na verdade, esta é também uma forma de ajudar os municípios a reduzir os custos com a gestão de resíduos. O município de Arruda dos Vinhos já aderiu a este projecto piloto de estímulo à reciclagem de resíduos domésticos.

A adesão do município ao projecto foi anunciada a 7 de Junho, no âmbito da conferência ArrudaLab. Embora “ainda numa fase muito embrionária” e sem datas para “eventual entrada em funcionamento”, a autarquia admite, no portal oficial, que, nesta fase, o sistema “será objecto de estudo apenas”.

Apresentação do projecto durante a conferência ArrudaLab. © Municipio Arruda dos Vinhos

“É urgente a promoção de comportamentos mais sustentáveis de produção e separação de resíduos. E, para isso, temos de procurar e implementar soluções mais inteligentes para reduzir essa produção, recompensando a valorização e reciclagem. Este é o racional para o desenvolvimento do Bee2WasteCrypto, levar todos os actores da cadeia de produção, da recolha e tratamento de resíduos a, de facto, terem verdadeiramente interesse na reciclagem, dando para isso um incentivo através da distribuição de benefícios financeiros”, afirma, em comunicado, Tiago Andrade, responsável pela área de digital products da Compta.

Já para o representante da NOVA IMS, Miguel de Castro Neto, “é vital explorar o potencial da transformação digital para construir novas abordagens que permitam cumprir a ambição dos Objectivos do Desenvolvimento Sustentável, em particular no que se refere às cidades e comunidades e cidades sustentáveis (ODS 11), onde procuramos garantir um futuro sustentável, inclusivo, resiliente e seguro. Temos de apostar em tecnologias disruptivas, como o blockchain e as criptomoedas, para melhorar a eficiência dos sistemas e induzir alterações de comportamento numa área crítica como é aquela dos resíduos”, avançou.

Recorde-se que, todos os anos, na União Europeia (UE), são gerados, em média, 480 kg de resíduos sólidos urbanos por pessoa. Destes, apenas 46% são reciclados ou submetidos a compostagem, enquanto cerca de 25% são depositados em aterro. Os resíduos urbanos representam cerca de 10% do total de resíduos gerados na UE. Contudo, são um dos fluxos mais complexos de gerir devido à sua composição diversificada, a um grande número de produtores e à fragmentação de responsabilidades.